Oasis: volta da banda afetou economia do país (Paul Bergen / Colaborador/Getty Images)
Redatora
Publicado em 20 de agosto de 2025 às 10h39.
A inflação no Reino Unido ganhou um ingrediente inusitado em julho: além de tarifas aéreas e alimentos, até a volta do Oasis aos palcos entrou na conta.
De acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas (ONS, na sigla em inglês), os preços ao consumidor subiram 3,8% em 12 meses, frente aos 3,6% de junho, no maior nível em 18 meses. O dado mantém o Reino Unido como a economia com a inflação mais alta entre os países ricos.
O núcleo de serviços avançou para 5%, acima das projeções oficiais de 4,9%. A pressão veio de passagens aéreas, energia, bebidas não alcoólicas e, claro, hotéis.
Foi aí que entrou o debate sobre a turnê do Oasis. O ONS disse não ver ligação direta, mas economistas do banco Berenberg apontaram que a onda de fãs em busca de hospedagem pode ter dado um empurrãozinho nos preços. E não faltam números para alimentar a suspeita: a volta da banda aos palcos lotou estádios pelo país, com cerca de 1,4 milhão de ingressos vendidos.
Em Manchester, durante os cinco shows, a ocupação hoteleira chegou a 83,5%, enquanto as tarifas médias ultrapassaram £180, segundo a consultoria STR. Já em Edimburgo, onde os shows coincidiram com o Festival Fringe, o Financial Times reportou uma alta de 91% nos preços dos hotéis e a plataforma AirDNA apontou um aumento de mais de 20% nos aluguéis via Airbnb.
Não é a primeira vez que a música entra nas estatísticas econômicas. Em 2024, a Eras Tour de Taylor Swift também deixou sua marca. De acordo com o MarketWatch, os shows da cantora no Reino Unido em junho elevaram os preços de hospedagem e acabaram distorcendo a base de comparação da inflação no ano seguinte.
Taylor Swift performa na The Eras Tour
Nos mercados, porém, o impacto foi discreto. O rendimento do título público britânico (gilt) de 2 anos ficou praticamente estável em 3,94%, enquanto a libra esterlina subiu levemente.
Mesmo com essa reação contida, analistas avaliam que o Banco da Inglaterra (BoE), que já cortou juros este mês em decisão apertada, terá de adiar novos cortes. Investidores agora só esperam uma nova redução em março de 2026, quando antes projetavam o movimento já no fim de 2025.
A dificuldade está na persistência da inflação: o BoE prevê 4% em setembro e não espera retorno à meta de 2% antes de 2027. O mercado de trabalho mais rígido desde o Brexit, além do aumento do salário mínimo e do imposto sobre empresas, também pressiona os preços para cima.