YouTube: plataforma completou 20 anos em 2025 (fotograzia/Getty Images)
Repórter
Publicado em 23 de abril de 2025 às 15h14.
Última atualização em 23 de abril de 2025 às 16h10.
San Bruno, Califórnia*: O ano era 2005.
Para carregar um vídeo na internet discada era preciso ter paciência – o que hoje é feito em segundos, antigamente demorava minutos (e ainda podia dar errado). E assistir a videoclipes era uma coisa exclusiva de canais voltados especificamente para músicas.
Foi naquele ano que surgiram os primeiros youtubers (embora ainda não fossem chamados assim) e o primeiro vídeo postado no YouTube, chamado “Me At The Zoo”, que tinha apenas 19 segundos, antecipando uma tendência de vídeos curtos que tomaria a conta das redes sociais alguns anos depois.
No cenário dos negócios, o surgimento da plataforma foi um período complicado para o Google.
Especialistas chamavam a aquisição de um “erro grave e US$ 1,65 bilhão" e até mesmo o CEO do Google naquela época, Eric Schmidt, avaliava o valor real do YouTube entre US$ 600 e 700 milhões.
O negócio foi fechado pouco depois de o YouTube estabelecer parcerias com grandes nomes da mídia, como CBS, Universal Music Group e Sony BMG, numa tentativa de mitigar riscos jurídicos.
A plataforma, criada em 2005 por Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim, já apresentava números impressionantes: mais de 100 milhões de vídeos eram assistidos diariamente, mas ainda operava no vermelho.
Após a aquisição, a empresa manteve autonomia operacional, preservando sede e equipe, mas passou a contar com a estrutura do Google para crescer.
O gigante da tecnologia visava reforçar sua atuação no mercado de vídeos online e integrar serviços como o AdSense, apostando na migração de audiência e anunciantes da TV para a internet. A aquisição foi a maior da história do Google até aquele momento
20 anos depois, o projeto se mostrou lucrativo e é um dos braços mais importantes para a Alphabet.
No ano passado, a maior plataforma de vídeos do mundo registrou crescimento de 15% em seu faturamento de publicidade, alcançando US$ 46,3 bilhões.
O YouTube foi lançado em fevereiro de 2005 e, nos primeiros anos, ainda estava distante do enorme impacto global que alcançaria posteriormente.
Nos primeiros meses, o site já contabilizava cerca de 30 mil espectadores diários e, até dezembro de 2005, atingiu 8 milhões de visualizações diárias.
Em março de 2006, a plataforma havia acumulado 25 milhões de vídeos enviados, com 20 mil novos uploads diários.
Durante o verão de 2006, o YouTube atingiu a marca de 100 milhões de visualizações diárias, consolidando-se como um dos sites de crescimento mais rápido da web.
Naquela época, o visual da plataforma era simples, com foco no upload e compartilhamento de vídeos curtos.
O público predominante era jovem, com idades entre 12 e 17 anos, e o YouTube rapidamente se tornou um fenômeno cultural, superando o crescimento de outras redes sociais como o MySpace.
Nos primeiros anos, os vídeos mais populares eram curtos, engraçados ou inusitados, muitos se tornando virais espontaneamente.
Entre os vídeos mais assistidos estavam “Evolution of Dance”, que se tornou o mais reproduzido da plataforma, e “Charlie bit my finger”.
Outros vídeos virais envolviam animais engraçados, quedas, pegadinhas e performances amadoras. Naquela época, 1 milhão de visualizações já era considerado um grande sucesso.
Hoje, vídeos como “Baby Shark” e “Despacito” acumulam bilhões de visualizações, algo impensável no início da plataforma.
"Os criadores originais do YouTube, os chamados 'OG YouTubers', faziam isso em suas cozinhas, quartos, salas. Colocavam a câmera num tripé e simplesmente começavam a compartilhar sua criatividade com o mundo. Você deve se lembrar daqueles vídeos granulados", disse Neal Mohan, CEO da empresa "Avançando para hoje, estive em Los Angeles há alguns dias visitando criadores que estão construindo seus próprios estúdios. E, de certo modo, essas são as novas startups de Hollywood", disse.
O YouTube foi uma das plataformas pioneiras no surgimento da profissão "criador de conteúdo" e, com o tempo, se transformou em um espaço onde qualquer pessoa poderia se tornar um deles.
Um estudo recente da empresa revelou que 65% da geração Z se considera parte da economia criativa.
O lançamento do Programa de Parcerias do YouTube (YPP), há 17 anos, foi um marco fundamental nesse processo, tornando-se o primeiro programa de monetização de conteúdo da plataforma e ajudando a criar uma economia digital para criadores e empresas de mídia.
A ascensão de criadores como Smosh, que foi o primeiro canal a atingir 10 milhões de inscritos, e os irmãos John e Hank Green, que desafiaram seus fãs a criar vídeos diários por um ano, deu início a uma nova era de influenciadores digitais.
"No YouTube, os criadores são o centro da nossa cultura", afirmou Kim Larson, head global de creators da companhia. "E nós queremos ser a casa principal deles", explicou.
Casimiro: youtuber é tido como destaque de criadores no Brasil (Twitch/Reprodução)
Atualmente, o CazéTV, o canal brasileiro comandado por Casimiro Miguel, é um exemplo do impacto do YouTube no cenário esportivo digital.
Em 2025, o canal firmou um acordo para transmitir jogos da Série A do Campeonato Brasileiro gratuitamente na plataforma.
Com o crescimento da demanda por conteúdo esportivo gratuito, a CazéTV se consolidou como uma referência no Brasil — e no mundo todo. "A CazéTV é a CNN do futebol brasileiro", brinca Larson.
O americano MrBeast, que tem mais de 390 milhões de inscritos em seu canal, é o youtuber mais famoso do mundo.
Conhecido por seus vídeos que envolvem desafios elaborados, Jimmy Donaldson começou sua carreira em 2012 e se destacou em 2017 com o vídeo "contando até 100.000".
Além de seus vídeos, Donaldson é empreendedor, com projetos como MrBeast Burger e Feastables, e criador de iniciativas como Team Trees e Team Seas, arrecadando milhões para causas ambientais e sociais. Sua fortuna, segundo estimativas, é de US$ 500 milhões.
Emma Chamberlain, com mais de 12,1 milhões de inscritos em seu canal, é um ícone do YouTube, especialmente entre a geração Z.
A influencer se consolidou como uma das vozes mais influentes da plataforma após publicar vlogs de sua rotina pessoal e, atualmente, é uma das apresentadoras do tapete do Met Gala pela Vogue.
Além do YouTube, Emma também tem se destacado com seu podcast “Anything Goes” e sua marca de café, Chamberlain Coffee.
"Acredito que o elemento central do YouTube é a conexão entre criadores e fãs. Volta à nossa missão: dar voz a todos e mostrar o mundo. Isso significa que o cerne do YouTube está literalmente no nome: YouTube. Se você é um criador ou uma pessoa criativa, ninguém pode dizer que você é de um lugar errado, ou que tem aparência ou voz erradas", disse Mohan.
A economia dos criadores ainda é um negócio — e precisa ser sustentável financeiramente.
O YouTube tem desenvolvido sua economia dos criadores ao longo dos anos, começando com o lançamento do Programa de Parcerias (YPP), há 17 anos, o primeiro do tipo.
Atualmente, com 125 milhões de assinantes do YouTube Premium, a plataforma paga US$ 70 bilhões a criadores e empresas de mídia.
O YouTube também oferece mais de dez formas de monetização, incluindo receita de anúncios, pagamento proporcional de assinaturas do YouTube Premium, recursos como Super Chat e Super Stickers durante transmissões ao vivo, e Super Thanks, onde fãs podem enviar gorjetas, em um modelo semelhante ao adotado pelo TikTok.
Em fevereiro deste ano, o número de visualizações do YouTube em televisões nos Estados Unidos ultrapassou o de celulares pela primeira vez na história. E, agora, a empresa quer entrar de vez na avenida das telas maiores.
"Nossa superfície de crescimento mais rápida são as telas grandes, como TVs. Isso mostra um bom avanço, especialmente em países como a Índia, onde o acesso à banda larga domiciliar está crescendo", afirmou Mohan. "Do ponto de vista do modelo de negócios, a publicidade ainda será a principal fonte de crescimento — tanto para o YouTube quanto para os criadores", continuou.
O YouTube, lançado antes do domínio dos smartphones no mercado mundial, não apenas transformou a maneira como as pessoas compartilham experiências, mas também ampliou as expectativas dos consumidores em relação ao conteúdo digital.
Earnest Pettie, líder de insights sobre cultura e tendências, afirma que, atualmente, os usuários não se limitam a consumir um único tipo de conteúdo sobre um tema, mas exploram múltiplos vídeos relacionados.
"O YouTube se tornou endêmico à nossa cultura, na forma como consumimos conteúdos", disse Pettie. "Isso mudou as expectativas para as pessoas. Elas compartilham suas experiências pessoais e os espectadores se tornam parte dela."
A transformação do YouTube foi acelerada com a chegada dos vídeos curtos e o crescimento de gêneros como o k-pop e a música latina.
Bad Bunny: rapper latino tem ganhado espaço no YouTube (Frazer Harrison/Getty Images)
O fenômeno do k-pop teve início com o sucesso de Gangnam Style, lançado há 17 anos, que, em 2013, foi considerado um caso isolado. Hoje, os videoclipes de artistas de k-pop ocupam as principais posições entre os vídeos mais vistos na plataforma.
Em 2024, artistas como Karol G, com quase 5 bilhões de plays, e outros nomes como Bad Bunny, Blackpink, BTS e Shakira continuam a liderar as paradas musicais no YouTube Music, consolidando a plataforma como um espaço essencial para o crescimento global de diferentes estilos musicais.
“Hoje em dia, o YouTube é dramaticamente diferente do que era 20 anos atrás. O YouTube reinventou o entretenimento", afirmou Gina Shalavi, head de estratégia global da empresa.
Para Vivien Lewitt, head global de artistas do YouTube, a plataforma é um espaço importante para os artistas expandirem suas audiências globalmente.
“Não estamos no negócio de fazer músicas bombarem. Estamos no negócio de fazer a audiência dos artistas crescerem", explicou.
Lewitt se referiu ao Coachella 2011, o primeiro evento transmitido ao vivo no YouTube, como um marco fundamental na transformação da plataforma em uma ferramenta de alcance global para os músicos.
Segundo ela, para muitos artistas, o YouTube representa uma oportunidade única de construir sua base de fãs, com o potencial de atingir públicos que antes seriam inalcançáveis.
Para Lewitt, a plataforma é mais do que um canal de distribuição de vídeos: ela oferece uma chance real para os artistas crescerem e se conectarem com uma audiência global.
Os dados não mentem.
Em fevereiro de 2024, o YouTube Music e o YouTube Premium, juntos, ultrapassaram a marca de 100 milhões de assinantes pagos globalmente.
Em março de 2025, o número cresceu para 125 milhões, com uma média de 2 milhões de novos assinantes por mês.
Taylor Swift: cantora é um dos destaques do YouTube no segmento musical (Photo by Charles McQuillan/TAS24/Getty Images for TAS Rights Management/Getty Images)
A receita do YouTube Music, por sua vez, chegou a US$ 1,1 bilhão em fevereiro de 2024. Além disso, o YouTube Music alcançou 868,4 milhões de usuários ativos em dezembro de 2023, com expectativas de atingir 1 bilhão de usuários até 2026.
Em 2025, os artistas mais assistidos no YouTube dominam as paradas globais, com uma forte presença de nomes da música indiana, latina e pop internacional.
O canal T-Series, da Índia, lidera como o maior canal musical, com cerca de 285 bilhões de visualizações, graças ao seu vasto catálogo de Bollywood.
Em seguida, a Zee Music Company, também da Índia, acumula 100 bilhões de visualizações, destacando-se com suas trilhas sonoras.
No k-pop, o grupo Blackpink permanece entre os maiores fenômenos da plataforma, com mais de 90 bilhões de visualizações.
Karol G, da Colômbia, foi a artista latina mais assistida em 2023, com quase 5 bilhões de visualizações, mantendo forte presença em 2024.
O porto-riquenho Bad Bunny, um dos maiores nomes do reggaeton, superou 4 bilhões de visualizações no mesmo ano.
Shakira, também da Colômbia, segue em destaque, especialmente após lançamentos recentes, com mais de 35 bilhões de visualizações até 2025.
Taylor Swift, com seus clipes acumulando bilhões, ultrapassou 30 bilhões de visualizações e continua quebrando recordes.
O canadense The Weeknd também se mantém no topo, com mais de 30 bilhões de views.
Ed Sheeran, do Reino Unido, detém um dos vídeos mais assistidos da história do YouTube, "Shape of You", com 5 bilhões de visualizações.
Justin Bieber também é um dos artistas com mais visualizações totais, superando 19 bilhões de views.
Com 9% de market share global em janeiro de 2024, o YouTube Music se consolidou como o segundo maior serviço de streaming musical do mundo, atrás apenas do Spotify.
O YouTube tem feito grandes apostas em diversas áreas. E, se tudo der certo, deve continuar a apostar nos próximos 20 anos.
*A repórter viajou para os Estados Unidos a convite do Google