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No meio do caminho, uma dívida: como gigantes do entretenimento tentam sobreviver à crise financeira

Com dívidas bilionárias e reestruturações forçadas, gigantes como Warner Bros. Discovery e Disney buscam se reinventar no cenário competitivo do entretenimento

Succession: série mostra que a vida real imita a arte (HBO/Reprodução)

Succession: série mostra que a vida real imita a arte (HBO/Reprodução)

Publicado em 10 de junho de 2025 às 05h31.

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Às vezes, a vida realmente imita a arte.

Na série Succession, da HBO, a Waystar Royco, gigante do entretenimento fictícia, enfrenta uma crise financeira agravada por um enorme endividamento. Os Roys, que controlam a empresa, colocam suas ações em risco ao utilizar uma dívida substancial para financiar expansões.

A narrativa fictícia ecoa no mundo real, especialmente no caso da Warner Bros. Discovery, uma das maiores gigantes do setor, e dona da HBO, cujas dívidas têm sido um fardo crescente desde a fusão da WarnerMedia com Discovery, em 2022.

Combinando aquisições massivas, gestão estratégica falha e os altos custos da guerra do streaming, a Warner se transformou em uma das empresas mais endividadas do setor de entretenimento.

O império de mídia, fundado nos primeiros dias de Hollywood, enfrenta hoje um cenário dramático de reestruturação. O último grande movimento da empresa foi a separação das suas operações em duas divisões: uma para seus negócios de estúdios e streaming, e outra para as redes de TV a cabo. A reestruturação visa alocar as dívidas de forma a isolar o peso financeiro, com a maior parte da dívida ficando com a divisão das redes de TV.

Uma fusão que custou caro (literalmente)

A Warner, anteriormente sob o comando da AT&T, foi adquirida por US$ 85 bilhões em um movimento que inicialmente parecia estratégico, mas que resultou em uma crise financeira sem precedentes.

A AT&T, ao tentar competir nas guerras do streaming com o HBO Max, levou a Warner Bros. a um mar de dívidas.

A estratégia agressiva de conteúdo e expansão da AT&T para disputar o mercado com gigantes como Netflix e Disney não se traduziu em crescimento de assinantes e nem gerou o retorno financeiro necessário.

Em 2022, a AT&T tomou a decisão de spin-off da WarnerMedia, que se fundiu com a Discovery para criar a Warner Bros. Discovery (WBD).

A fusão trouxe consigo uma carga de mais de US$ 50 bilhões de em dívidas, com a maior parte dessa dívida vinda da WarnerMedia, refletindo anos de expansão agressiva e altos custos em conteúdo. O objetivo inicial da fusão era criar um concorrente de peso para o streaming, mas, ao invés disso, resultou em uma estrutura de capital pesada e de difícil sustentação.

Em uma tentativa de aliviar a pressão, a empresa decidiu dividir suas operações, separando a parte de streaming e estúdios das operações de TV a cabo, onde a dívida será maior.

A separação também será sustentada por um empréstimo de US$ 17,5 bilhões que a Warner Bros. Discovery obteve.

Mercado fica otimista, mas com cautela

Apesar das dificuldades financeiras, a separação da Warner Bros. Discovery foi recebida com otimismo cauteloso pelos analistas de mercado.

Acredita-se que a estratégia de dividir a empresa em dois blocos distintos possa ajudar a melhorar a liquidez e a flexibilidade operacional, permitindo que cada unidade possa se concentrar em suas respectivas operações.

O movimento foi visto como uma maneira de gerenciar melhor a dívida, ao mesmo tempo que permite que a parte do streaming busque mais investidores alinhados com seu modelo de negócios.

A alta de cerca de 10% nas ações de Warner Bros. Discovery após o anúncio da separação indicou que investidores e analistas estão confiantes de que a mudança vai liberar valor para os acionistas e possibilitar uma recuperação financeira.

Mas a dívida continua sendo uma preocupação central, com o passivo da empresa ainda beirando os US$ 38 bilhões.

E não é só a Warner

A Warner Bros. Discovery não é a única gigante do entretenimento a lidar com uma dívida massiva — e nem o Mickey Mouse escapa.

A The Walt Disney Company, por exemplo, carrega uma dívida de US$ 36,4 bilhões em 2025. A Disney, que adquiriu a 21st Century Fox por US$ 71 bilhões em 2019, também luta para equilibrar as quedas nas receitas de TV linear com os altos custos associados ao crescimento no streaming. Apesar de um fluxo de caixa forte e uma redução gradual da dívida, a empresa continua enfrentando desafios para gerar os retornos necessários para sustentar suas operações e dívidas.

A Disney também enfrenta desafios semelhantes aos de Warner Bros. Discovery, com uma grande parte de sua receita vindo de áreas como parques temáticos e mídia tradicional, enquanto o mercado de streaming ainda não conseguiu gerar lucros satisfatórios. Os analistas ainda consideram a situação financeira da Disney como relativamente estável, com uma boa cobertura de juros e um controle eficaz sobre a dívida.

Já a Paramount está lidando com uma dívida de US$ 11,8 bilhões. Embora tenha reduzido sua dívida nos últimos anos, a Paramount depende cada vez mais do crescimento do streaming para compensar a queda na receita das suas operações tradicionais de TV.

'O Urso', disponível no Disney+: gigante do entretenimento continua sua trajetória de redução gradual da dívida (The Bear/ FX/Divulgação)

Se o esperado crescimento no streaming não se concretizar, a Paramount pode enfrentar problemas semelhantes aos da Warner e Disney, com um endividamento crescente e a necessidade urgente de uma estratégia que equilibre os custos de operação com as expectativas dos investidores.

AMC Entertainment e a fragilidade no setor de cinema

O setor de entretenimento ao vivo também não está imune aos impactos das dívidas, e a AMC Entertainment é um exemplo de como o endividamento pode afetar empresas que dependem da recuperação de um mercado afetado por eventos globais, como a pandemia de covid-19.

A AMC, que enfrentou enormes perdas financeiras durante o auge da pandemia devido ao fechamento de cinemas e à queda na demanda por filmes, ainda carrega uma dívida considerável de US$ 3,5 bilhões em 2025. A empresa, a maior operadora de cinemas do mundo, precisou tomar medidas drásticas para garantir sua sobrevivência, como trocas de dívida por ações e reestruturações de seus financiamentos.

AMC Entertainment, cinema

AMC Entertainment: com dívida de US$ 3,5 bilhões em 2025, a gigante do cinema enfrenta recuperação lenta do setor (Noam Galai/Getty Images)

Essas e outras manobras financeiras fizeram parte de uma tentativa da AMC de aliviar seu peso financeiro imediato. No entanto, o mercado de cinema ainda não se recuperou como esperado, e a trajetória de recuperação continua lenta, com os cinemas enfrentando dificuldades para atrair o público de volta.

O aumento das opções de entretenimento digital, o crescimento dos serviços de streaming e as mudanças nos hábitos de consumo de mídia são fatores que dificultam a retomada dos cinemas, afetando diretamente os lucros da AMC, segundo a empresa.

A AMC também teve que tomar medidas adicionais, como reduzir seus custos operacionais e adiar a implementação de novos projetos, enquanto tenta gerenciar os vencimentos de sua dívida.

Isso inclui enfrentar pressões contínuas sobre seu fluxo de caixa, já que a empresa continua com margens de lucro apertadas e uma grande parte de suas receitas dependente de um número reduzido de lançamentos de filmes de grande sucesso.

Comcast e Live Nation: gestão de grandes dívidas

A Comcast, que opera a NBCUniversal e a Sky, carrega um passivo de US$ 92,3 bilhões — número que impressiona, mas que é mais facilmente gerido devido ao forte fluxo de caixa e à diversificação das suas operações.

O tamanho da empresa e sua capacidade de gerar caixa tornam seu nível de endividamento menos preocupante, mesmo com o aumento da dívida ao longo dos anos. No entanto, a Comcast também está se adaptando ao declínio da TV tradicional e investindo agressivamente no setor de streaming, o que pode exigir ainda mais recursos financeiros nos próximos anos.

Dua Lipa: no Brasil, Live Nation promove show da cantora (Don Arnold/Getty Images)

A Live Nation, a maior empresa de entretenimento ao vivo do mundo, também enfrenta desafios com uma dívida de US$ 8,29 bilhões.

Embora sua dívida não seja considerada excessiva em comparação com os ativos da empresa, a recuperação do setor de eventos ao vivo, ainda afetado pela pandemia, será crucial para garantir a sustentabilidade da empresa a longo prazo.

O futuro do entretenimento está em jogo, e, à medida que os modelos de negócios evoluem, a capacidade de adaptação das grandes corporações será decisiva para determinar quem continuará a dominar a indústria nos próximos anos. E nem os gigantes vão escapar.

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