Matthew Perry: ator que ficou conhecido por Friends. (Phillip Faraone/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 17 de agosto de 2024 às 13h45.
A morte da estrela de "Friends" Matthew Perry, e as prisões que ocorreram nesta semana ressaltam mais uma vez a polêmica relação de algumas estrelas de Hollywood com médicos encarregados de controlar seus vícios.
O ator, que interpretava o personagem Chandler na série, havia tornado público seu longo combate contra o vício. Perry morreu por uma overdose de cetamina em sua banheira de hidromassagem em outubro de 2023, aos 54 anos.
Este anestésico, às vezes utilizado com fins estimulantes, era ingerido pelo ator sob supervisão médica, no âmbito de sessões de terapia contra a depressão.
Quando lhe foi negado um aumento na dose, o comediante voltou ao vício, segundo a Promotoria, e procurou traficantes e médicos complacentes para obter a substância.
Sua morte envolve dois médicos "sem escrúpulos", segundo Anne Milgram, da DEA, a agência federal antidrogas dos Estados Unidos, que denunciou "a exploração" do ator por parte de Salvador Plasencia e Mark Chavez.
O caso lembra o do médico de Michael Jackson, que foi condenado em 2011 por homicídio culposo, após ter administrado ao “Rei do Pop” uma dose fatal de um potente anestésico cirúrgico.
Elvis Presley, Marilyn Monroe e Prince também morreram após consumir substâncias legais obtidas por meio de profissionais de saúde.
"As regras se diluem com as celebridades e isso constantemente leva a tragédias", explicou à AFP Harry Nelson, um advogado de Los Angeles especializado em saúde.
No caso de Perry, o doutor Plasencia adquiria cetamina com seu colega Chavez, segundo a Promotoria. Os frascos, que custavam 12 dólares (R$ 65,6 na cotação atual), chegavam ao ator por 2.000 dólares (R$ 10,9 mil).
"Eu me pergunto quanto esse idiota vai pagar", disse Plasencia em setembro de 2023 em uma mensagem de texto sobre uma transação que iria fazer com Perry, segundo informações coletadas pelos investigadores.
A situação é por vezes complicada, segundo Nelson.
As estrelas precisam proteger sua vida privada, e ir a um médico para obter uma receita e depois a uma farmácia para retirar medicamentos é impensável quando se está constantemente sob a mira dos paparazzi.
Alguns médicos se deixam levar pelo "glamour" de uma relação com um paciente famoso, que pode ser muito exigente. E às vezes cedem às suas demandas para "manter uma boa relação", mesmo que isso vá contra a ética profissional, acrescentou o especialista.
"Mas é uma armadilha" tanto para o "paciente famoso quanto para o médico", afirmou Nelson, que participou de uma dúzia de casos trágicos envolvendo estrelas.
A cetamina é cada vez mais utilizada legalmente para tratar depressão e estresse pós-traumático. A Califórnia possui clínicas privadas com tarifas extravagantes e clientes renomados, lembra o advogado.
Esta substância só pode ser administrada, em princípio, sob supervisão médica, devido ao risco de efeitos colaterais: perda de consciência ou problemas respiratórios, entre outros.