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Exclusivo: Maioria das pessoas apoia rotulagem de músicas 100% feitas por IA, diz a Deezer

Em entrevista à EXAME, General Manager da plataforma na América Latina traz perspectivas sobre o impacto da IA na indústria da música, por meio de levantamento conduzido pela Ipsos

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 12 de novembro de 2025 às 06h00.

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Na indústria da música, existem muitas dúvidas e debates a respeito do uso da inteligência artificial (IA) nas produções. Mas entre os ouvintes — pelo menos a maioria deles — há um desejo de que as músicas feitas 100% por IA sejam identificadas.

Essa preferência foi apresentada em um levantamento global encomendado pela Deezer, plataforma de streaming de música, e divulgado nesta quarta-feira, 12, em exclusividade à EXAME.

O estudo foi conduzido pela Ipsos, companhia de pesquisa de mercado, com 9 mil pessoas em oito países: Brasil, Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França, Holanda, Alemanha e Japão.

Entre os participantes, todos ouviram três faixas e tiveram de apontar quais eram produzidas exclusivamente por IA. A margem de erro foi de 97%. Segundo os dados, 71% dos entrevistados ficaram surpresos com o resultado e 52% relataram desconforto ao não conseguirem identificar corretamente as faixas.

No Brasil, os resultados da pesquisa seguiram a mesma tendência global: 97% dos participantes não conseguiram identificar corretamente se as faixas apresentadas foram compostas por Inteligência Artificial ou por humanos. Apesar disso, o público brasileiro demonstrou receptividade à presença da tecnologia na música, refletindo um histórico de abertura à inovação.

"A maioria dos brasileiros tem dificuldade para distinguir uma música feita por IA, por isso, os ouvintes priorizam a confiança sobre o conteúdo que está sendo consumido", explicou Rodrigo Vicentini, General Manager da Deezer na América Latina.

Além da transparência em relação às músicas geradas por IA, a maioria dos participantes deixou claro seu apoio à remuneração justa para artistas e compositores cujas obras são usadas no treinamento de modelos automatizados. O estudo mostra que:

  • 65% dos entrevistados dizem que não deveria ser permitido usar material protegido por direitos autorais para treinar modelos de IA usados para criar música.
  • 70% acreditam que a música 100% gerada por IA ameaça a remuneração de cantores e compositores.
  • 73% acham antiético que empresas de IA usem material protegido por direitos autorais para gerar novas músicas sem a aprovação expressa do artista original.
  • 69% acreditam que os pagamentos por músicas 100% geradas por IA deveriam ser menores do que os de músicas criadas por humanos.

De acordo com Rodrigo Vicentini, esse comportamento demonstra o amadurecimento do público em relação ao consumo de entretenimento.

"As pessoas estão valorizando a cadeia produtiva da música e esperam uma remuneração adequada aos profissionais do setor, querem mais clareza sobre a origem dos conteúdos e se preocupam com a criatividade. A maneira como os ouvintes estão reagindo aos avanços da IA reforça o vínculo emocional que eles têm com os artistas e com o processo humano da criação musical", declarou.

Segundo o executivo, esse insight também motivou a plataforma a considerar a transparência como um dos principais pilares da experiência do usuário. "Já estamos avançados com isso. Se o usuário estiver ouvindo uma faixa criada por IA, o app mostra essa informação".

E acrescentou: "Isso nos motiva a criar um ecossistema mais saudável, com ferramentas que aprimoram a experiência do fã, detectam fraudes e identificam conteúdos gerados por IA".

Como os amantes da música enxergam a IA?

Rodrigo Vicentini, General Manager da Deezer na América Latina (Deezer/Divulgação)

De acordo com o levantamento, 76% dos brasileiros ouvidos afirmaram sentir curiosidade sobre o uso da IA no ambiente musical, o maior índice entre os países analisados. Além disso, 42% relataram já fazer uso ativo de ferramentas baseadas em inteligência artificial no cotidiano.

Quando questionados sobre o impacto da tecnologia no consumo de música, 62% acreditam que essas ferramentas podem auxiliar na descoberta de novos artistas e faixas. Outros 59% enxergam a IA como um elemento relevante para o futuro da criação musical.

Em contrapartida, 60% dos entrevistados no país expressaram preocupação com os possíveis efeitos negativos do uso da IA, principalmente no que diz respeito à originalidade e à criatividade no processo de composição.

Próximo passo? Protagonismo no streaming

O estudo faz parte de uma das diversas iniciativas da Deezer sobre o uso da IA no setor musical. A companhia de streaming aposta nessa tecnologia para ser a única entre as plataformas que detecta e rotula faixas 100% geradas por IA e defende os direitos autorais dos artistas.

A discussão sobre o uso de obras protegidas por direito autoral no treinamento de modelos de IA tem ganhado relevância internacional, especialmente após processos movidos por artistas, editoras e entidades representativas. Plataformas como a Deezer passam a enfrentar pressões regulatórias e demandas por maior clareza na curadoria dos conteúdos gerados artificialmente.

Apesar desses desafios, Rodrigo Vicentini enxerga grandes oportunidades para a empresa expandir sua força entre os concorrentes no streaming.

"Isso pode nos colocar em uma posição única no mercado. A Deezer tem olhado de forma pioneira para a IA e o impacto dela não apenas no nosso negócio, mas em toda a indústria. Recebemos cerca de 150 mil novas músicas por dia, e aproximadamente 50 mil — ou 34% — são geradas por IA", pontuou.

Diante deste cenário, Vicentini afirma que as medidas adotadas pela Deezer trazem não apenas mais responsabilidade na cadeia produtiva, como também pode impulsionar o negócio, com fidelização de assinantes do serviço de streaming e expansão para novos públicos.

"No ecossistema dos artistas, a tecnologia também tem papel importante no combate a fraudes. Desenvolvemos uma solução própria para detectar essas irregularidades e percebemos que o número é bastante expressivo. Buscamos compreender se os consumidores aprovam ou rejeitam esse tipo de conteúdo e, dessa maneira, podemos aprimorar a experiência dentro da plataforma".

Apesar das incertezas sobre o futuro da indústria musical com a IA, Vicentini está otimista que essa tecnologia possa aprimorar as operações.

"Acredito que há beleza no uso da inteligência artificial, e queremos utilizá-la a nosso favor para oferecer experiências cada vez melhores aos usuários. Daqui para frente, veremos novas funcionalidades e soluções impulsionadas por IA, especialmente na interação do público com o conteúdo e no desenvolvimento do mercado musical.

Por outro lado, o executivo reforça a necessidade de regulamentação desse recurso para a proteção de direitos autorais e da ética dentro do mercado. "É crucial para o mercado controlar o avanço tecnológico, visando proteger e manter a saúde do ecossistema."

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