Cinema brasileiro: "Ainda Estou Aqui" puxa a régua da produção nacional (Divulgação)
Repórter de POP
Publicado em 19 de junho de 2025 às 21h53.
Os últimos dois anos têm sido especiais para o cinema brasileiro. Além do Oscar histórico de "Ainda Estou Aqui", "O Auto da Compadecida 2" levou mais de 4 milhões de pessoas de volta às salas. "Manas" foi destaque em Veneza, e o segundo semestre ainda traz a estreia dos premiados "O Último Azul" e "O Agente Secreto". É tempo de retomada na indústria. Inclusive da bilheteria.
Os 50 melhores filmes de 2024, segundo 100 críticos de cinemaNo Dia do Cinema Brasileiro, celebrado no último 19 de junho, chegam os dados que comprovam o reaquecimento da indústria. O período entre maio de 2024 e maio de 2025 registrou um aumento de 197% nas vendas de ingressos para filmes brasileiros em comparação ao período anterior, segundo levantamento da Ingresso.com, enviado com exclusividade à EXAME.
Não só a bilheteria foi mais alta, como também entrou para uma margem histórica. “Ainda Estou Aqui” ocupou a terceira colocação entre as maiores arrecadações de filmes brasileiros, e “O Auto da Compadecida 2” ficou em oitavo lugar. O filme de Walter Salles ficou em cartaz de novembro de 2024 a abril de 2025 e arrecadou, no total, cerca de R$ 200 milhões. Já a continuação da história de Ariano Suassuna faturou um valor em torno de R$ 80 milhões nos cinemas.
Mauro Gonzalez, Diretor de Negócios da Ingresso.com, comenta que os números refletem o vigor do cinema nacional. “É muito significativo ver filmes brasileiros ao lado de grandes produções. ‘Ainda Estou Aqui’, por exemplo, teve uma trajetória impressionante, especialmente após o Oscar 2025. A qualidade técnica e a força das narrativas demonstram que o cinema nacional está em um momento potente”.
Outro dado relevante do levantamento foi o aumento da participação do público feminino na compra de ingressos para produções brasileiras.
Jesuíta Barbosa em "Homem com H", que entrou para o catálogo da Netflix em junho (Homem com H/ Divulgação)
Outros filmes também obtiveram destaque no cenário audiovisual brasileiro. "Manas", vencedor de mais de 20 prêmios internacionais — incluindo o GDA Director’s Award, principal prêmio da Giornate Degli Autori, no Festival de Veneza —, estreou no Brasil em 15 de maio e explorou a dura realidade das meninas na Ilha do Marajó, no Pará. "Homem com H", cinebiografia brasileira, levou mais de 620 mil pessoas aos cinemas no mesmo mês. E está disponível no catálogo da Netflix para mais de 190 países.
No streaming, a presença das produções nacionais tem sido mais frequente, tanto em quantidade quanto em público. Séries e novelas mais recentes, a exemplo de "Beleza Fatal" (Max), "Pedaço de Mim" (Netflix), "Cangaço Novo" (Prime Video) e "Amor da Minha Vida" (Disney+), têm visto a audiência aumentar, surfando a onda da vontade do brasileiro de se ver na tela.
Para Mauro, o aumento da audiência nos cinemas segue o mesmo rumo. “A mudança de comportamento do público brasileiro indica que o consumidor não quer apenas entretenimento, mas também representatividade. A receptividade aos filmes nacionais comprova isso”, conclui.
No caso das telonas, mostra a pesquisa do Ingresso.com, os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco e Minas Gerais destacaram-se nas bilheterias. No Ceará e em Pernambuco, o sucesso de “O Auto da Compadecida 2” foi um fator importante para esse desempenho.
O ator Wagner Moura com o diretor Kleber Mendonça: papel de especialista em tecnologia no longa O Agente Secreto (Cinemascopio/Divulgação)
A previsão é que, até o fim do ano, a bilheteria de 2025 seja mais alta que a do ano anterior — em especial pela quantidade de filmes que entram em cartaz. Se o primeiro semestre já trouxe produções de destaque, como “Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa”, “Vitória”, “Homem com H”, “Ritas” e “Super Turnê: A Primeira e Última Noite”, que apresentaram um faturamento razoável, o segundo vem mais forte, pautado na expectativa do público.
Lançamentos importantes e premiados, como "O Agente Secreto", de Kleber Mendonça Filho, que trouxe quatro prêmios do Festival de Cinema de Cannes deste ano — um de direção para Mendonça, outro de ator para Wagner Moura, o primeiro brasileiro a recebê-lo na história —, e "O Último Azul", de Gabriel Mascaro, vencedor do Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim, estão entre os mais aguardados.
Até o final do ano, estreiam também “Cazuza: Boas Novas”, “C.I.C. – Central de Inteligência Cearense”, “O Rei da Feira”, “Silvio Santos Vem Aí”, “Gato Galáctico: Operação Resgate” e “Mauricio de Sousa – O Filme”.
Segundo dados do Relatório Focus 2025, o Brasil registrou, em 2024, o segundo maior crescimento de público nas salas de cinema, entre 21 países selecionados, incluindo os principais mercados mundiais. O País alcançou 70% de recuperação em relação ao patamar pré-pandemia de 2019, superando a média global (67,7%) e países como Estados Unidos (62,2%) e México (60,9%).
Dados da Agência Nacional de Cinema (Ancine) também destacam que, em 2025, até a 23ª semana cinematográfica (encerrada em 11 de junho), o cinema brasileiro responde por 16,5% do público nas salas, com 8,7 milhões de espectadores e R$ 166 milhões em renda. Até junho deste ano, foram exibidos 186 títulos brasileiros, um crescimento de 23% em relação ao mesmo período do ano passado (151 títulos).
As estreias, alinhadas com a mudança de comportamento do público, são a esperança de reverter os anos mais duros no cinema brasileiro. Mesmo com o bom desempenho de "Ainda Estou Aqui" em 2024, ainda faltam cifras para que a indústria volte ao patamar pré-pandemia.
A lista dos três filmes brasileira com maior bilheteria, agora com valores atualizados*, é:
*Os dados são da BoxOffice Mojo, convertidos do dólar para o real na cotação atual.