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De vídeos de gatos a 12,5% da TV: YouTube rouba a cena e ameaça Netflix e Disney

Audiência histórica transforma o YouTube na nova TV global — e isso pode mudar tudo no mercado bilionário do streaming

YouTube: plataforma ultrapassou gigantes do streaming (Imagem gerada por IA/Freepik)

YouTube: plataforma ultrapassou gigantes do streaming (Imagem gerada por IA/Freepik)

Publicado em 26 de junho de 2025 às 07h01.

O YouTube conseguiu um feito histórico neste ano. Pela primeira vez, a plataforma liderou a audiência da televisão nos Estados Unidos, com 12,5% de participação — à frente de gigantes como Netflix, Disney e todos os canais a cabo e abertos combinados. E a briga pela fatia do mercado bilionário do streaming é intensa. Em 2025, o setor deve alcançar uma avaliação de US$ 108,73 bilhões, segundo a Coherent Market Insights, com um crescimento previsto de 8,6% ao ano até 2032.

A transformação do YouTube em líder da TV foi construída com base em três pilares: tecnologia, conteúdo e dados. A integração com o ecossistema do Google, segundo especialistas, garante segmentações de público mais precisas, campanhas automatizadas e recomendações personalizadas que mantêm o público conectado por mais tempo. Para os analistas do Goldman Sachs, isso torna o YouTube uma “máquina de retenção e monetização”, com potencial de atingir US$ 99 bilhões em receita anual até 2029.

Outro motor de crescimento é o domínio da tela principal da casa. Segundo a Nielsen, a televisão já é o principal dispositivo de acesso ao YouTube nos EUA. O aplicativo vem pré-instalado em Smart TVs e streaming boxes, com interface otimizada para o controle remoto e recursos exclusivos, como multiview, trailers automáticos e visualizações interativas — tudo pensado para o sofá.

A variedade de conteúdo também conta. De podcasts e videoclipes a documentários, esportes ao vivo e vídeos de humor, a plataforma atende a todos os gostos, faixas etárias e estilos de consumo. Essa diversidade torna o YouTube a “nova TV” de fato, com um diferencial poderoso: a base de criadores, capaz de responder em tempo real aos interesses da audiência.

A liderança já vem acompanhada de resultados financeiros robustos. Só em 2024, o YouTube gerou cerca de US$ 36 bilhões em receita, segundo estimativas de mercado.

A briga com Netflix e Disney esquentou

O crescimento do YouTube acendeu alertas nos bastidores de Hollywood. De acordo com analistas da MoffettNathanson, a plataforma já superou a Disney em audiência televisiva e está próxima de ultrapassá-la também em receita. A disputa chegou aos tribunais: a Disney entrou com um processo contra o YouTube após perder um executivo-chave de sua área de distribuição.

Do lado da Netflix, o sinal parece ser de reconhecimento da crescente concorrência. Durante reuniões com acionistas, o CEO da empresa, Ted Sarandos, afirmou que a Netflix compete diretamente com o YouTube pelo tempo do espectador, mas destacou que ambas as plataformas seguem modelos diferentes. Sarandos ressaltou que, enquanto a Netflix investe em conteúdo premium, o YouTube se destaca pela vasta gama de vídeos criados por usuários. Ele também mencionou que as duas plataformas podem ser "complementares", citando como exemplo o benefício mútuo de colocar trailers da Netflix no YouTube.

A empresa também já demonstrou sua aproximação com o conteúdo gerado por criadores digitais. Exemplos disso incluem a aquisição de "Cobra Kai", uma série que começou no YouTube, e o investimento em formatos de vídeos curtos e virais.

O fator esportes também pesa. O YouTube fechou acordos exclusivos de transmissão de eventos como a NFL Friday Night, mirando o público que antes pertencia a canais como ESPN e Fox Sports, o que consolida sua entrada no terreno tradicionalmente dominado por conglomerados televisivos.

TV em mutação: do controle remoto ao algoritmo

A virada do streaming é mais ampla. Segundo a Nielsen, em maio de 2025, o streaming respondeu por 44,8% da audiência da TV nos EUA — superando os 44,2% combinados da TV aberta e por assinatura. É uma virada histórica, marcada por mudanças de hábito e geração.

Desde 2021, o consumo de streaming cresceu 71%, enquanto a TV aberta caiu 21% e a por assinatura, 39%. A facilidade do acesso por Smart TVs, os planos gratuitos com anúncios (modelos FAST), e a presença de públicos diversos — inclusive a faixa 65+ — ajudam a explicar esse avanço.

O cenário global segue a mesma tendência. No Reino Unido, Alemanha, Austrália e partes da Ásia, a TV tradicional perde espaço rapidamente. No Brasil, ainda sustentada por novelas, 70% da população consome principalmente TV aberta, de acordo com dados de março da Kantar Ibope Media.

"O YouTube se tornou a nova TV — especialmente para a nova geração", disse Neal Mohan, CEO do YouTube, em evento que a EXAME participou em março.

Valiosa como nunca: a joia do império Alphabet

O YouTube também já é considerado o ativo mais subestimado do Google.

Com valor de mercado estimado em US$ 475 bilhões, segundo a Goldman Sachs, a plataforma representa a força operacional da Alphabet em dados, mídia e inteligência artificial.

Analistas do JPMorgan destacam que o crescimento do YouTube justifica projeções otimistas para as ações do Google, com um alvo de preço entre US$ 195 e US$ 225 até o final de 2025.

Além disso, especialistas acreditam que o YouTube será um dos principais motores do crescimento de receitas da Alphabet, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 13%. A diversificação das fontes de receita, com a combinação de anúncios e assinaturas, fortalece ainda mais a posição do YouTube no mercado, permitindo que a empresa sustente seu crescimento de longo prazo, de acordo com as projeções do Goldman Sachs.

O JPMorgan destaca que, apesar das pressões regulatórias e da crescente concorrência no setor de mídia digital, a Alphabet — e especialmente o YouTube — está subvalorizada em relação ao seu enorme potencial de crescimento. A plataforma se beneficia de um modelo de negócios robusto, alicerçado na integração com o ecossistema de dados do Google. A capacidade do YouTube de utilizar inteligência artificial e dados contextuais fortalece suas campanhas publicitárias automatizadas, aumentando o engajamento do usuário e a eficácia da publicidade, o que se torna um diferencial significativo em relação aos concorrentes.

Apesar da volatilidade do mercado e da pressão regulatória, o consenso entre analistas é claro: o YouTube não é mais um coadjuvante digital — mas sim um dos protagonistas com maior tempo de tela.

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