Corte "calvão de cria" ganha espaço em festas no Brasil (Redes Sociais/Reprodução)
Agência O Globo
Publicado em 4 de julho de 2022 às 11h04.
Novas tendências de moda surgem a toda hora e, graças às redes sociais, elas se espalham cada vez mais rápido. Dessa vez, o que tem literalmente feito a cabeça dos jovens é o “calvão de cria”, corte de cabelo que simula a calvície. Essa onda surgiu há cerca de quatro meses numa barbearia da cidade de Três Passos, no Rio Grande do Sul, e depressa ganhou fãs em vários estados do Brasil, como São Paulo, Minas Gerais e Bahia.
No Rio de Janeiro, profissionais contam que o corte ainda não é uma unanimidade. Mas já há quem aposte nele como marca de estilo e ousadia.
— Um cliente meu chegou aqui pedindo para fazer o corte depois de ter visto na internet. Ele também queria ficar famoso, ganhar curtidas. Eu aceitei o desafio e fiz. Até o barbeiro que trabalha comigo encomendou o “calvão” também. Adeptos estão mostrando que a calvície é normal, que todos podem encarar isso, seja de forma natural ou não. O que era considerado um problema virou estilo — resume Raphael Barbio, de 26 anos, dono de uma barbearia no bairro da Penha, na zona norte carioca.
Quem lançou a ideia foi o barbeiro gaúcho Márcio Campos, de 27, proprietário da Vikings Barber Shop desde 2020. Ele conta que, em fevereiro deste ano, dois clientes chegaram na barbearia com a imagem de um corte visto na internet. Na loja, coube a Márcio reproduzir o desenho. Todo o trabalho durou 20 minutos, foi filmado e postado nas redes sociais. Não demorou para que o vídeo viralizasse e alcançasse cerca de 4 milhões de visualizações e mais de 100 mil curtidas até agora.
Segundo o barbeiro, o que começou como uma zoação, hoje se tornou costume: o “calvão” é adotado principalmente para chamar atenção em festas e eventos na cidade.
— Não imaginei que fosse ficar tão famoso. Já fiz mais de dez cortes desse, em pessoas mais velhas, em crianças e pais. Principalmente os adolescentes estão me procurando para fazer — conta Márcio, que explica a origem do nome: — Os guris aqui de Três Passos se chamam de cria, como uma gíria. O nome surgiu ali, na hora.
Depois desse primeiro hit fashion, Márcio quis ousar ainda mais e criou o corte que simula as entradas de uma calvície. Assim ele lançava o “entradas de cria’’, que foi postado há uma semana no TikTok e já soma 5,6 milhões de visualizações. Atualmente com 35 mil seguidores no perfil, o barbeiro faz uma promessa se chegar a 500 mil:
— Se bater meio milhão de seguidores, vou fazer o “calvão” em mim e doar o cabelo para uma instituição de luta contra o câncer.
A proposta viralizou tanto que chegou até o influenciador digital carioca Matheus Costa (@itsmatheuscosta), que soma 2,3 milhões de seguidores no Instagram. Num vídeo, Matheus faz uma brincadeira com o pai, José Carvalho, que odeia que o filho corte o cabelo.
E a bricadeira veio a partir disso. O rapaz inventa que está participando de uma publicidade contra a calvície e pede para o pai gravá-lo. Então, ele tira o boné e revela o corte inusitado. O pai, como esperado, se revolta: “Eu não acredito nisso. O que você fez no cabelo? Você foi no barbeiro pagar por essa m****?’’, reclama o pai, sem concordar com a ideia.
O espanto não é uma exclusividade de José Carvalho. O empresário Gilberto Schneider, de 36 anos, revela que foi alvo de zoações pela cidade gaúcha de Três Passos, onde mora. Mas isso não o desanimou: ele quer refazer o corte agora que o cabelo está crescendo e já levou o filho, Eduardo, de 8 anos, para se tornar calvo por uns dias.
— Sempre gostei de mudar o visual, platinar o cabelo, pintar de azul, com cores diferentes. Estranhei no início, mas depois me acostumei e já penso em repetir. Amigos falaram que sou corajoso, e a família me chamou de louco, mas o importante é a gente se sentir bem — conta Gilberto.
Outro Gilberto, de sobrenome Senger, de 18 anos, também da cidade gaúcha, fez o corte em maio e aproveitou o visual para gravar vídeos, inclusive numa versão platinada
— O calvão foi uma brincadeira, fiz para postar na internet. Mas também fiz sucesso com as mulheres mais velhas, elas dizem que fiquei um gato — brinca o rapaz.
O barbeiro Felipinho Soares, de 30 anos, cuida dos cabelos de algumas celebridades como DJ Pelé e MC Copinho no salão que mantém na Penha e diz que acompanha o corte nas redes sociais. Com a mão na massa enquanto mudava o corte do cliente Luciano Ferreira, ele aprendeu o “calvão” para atender o público jovem, alvo da tendência criada para zoação.
— Normalmente, adolescentes querem lançar uma moda para curtir e chamar atenção nas festas ou viralizar na web — diz Felipinho.