Divertida Mente 2: produção da Pixar estreou no Brasil nesta semana (Divertida Mente 2/ Pixar/Disney)
Repórter de POP
Publicado em 22 de junho de 2024 às 07h42.
Última atualização em 22 de junho de 2024 às 09h51.
Tão logo a tela do cinema ascende, começa a música tema de "Divertida Mente" (2015), dedilhada no piano. Já nos primeiros segundos, o público volta a mergulhar na cabeça de Riley e reconhece Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojinho. A delicadeza da trilha, nostálgica por si só, ganha no entanto um novo sentido neste segundo filme da franquia: agora, à frente de uma garota entrando na puberdade, são necessárias novas emoções para conceituar o que há de mais profundo na mente humana. E esse processo, tal como a fase da vida representada, pode chegar de uma maneira bem mais brusca do que o esperado.
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"Divertida Mente 2" traz uma Riley agora adolescente que se vê diante de mudanças súbitas na mente e no corpo. Além de suas emoções nativas na chamada "sala de controle", ela lida agora com quatro novos sentimentos: Ansiedade, Inveja, Vergonha e Tédio, que confundem a ordem das coisas e embarcam, acompanhados do público, em uma aventura empática com ritmo acelerado. A ideia é consistente; quanto mais os anos avançam, mais são necessárias emoções sofisticadas. E a adolescência, em seu cerne, está entre um dos momentos da vida mais confusos.
A continuação da franquia estreou nos cinemas brasileiros na última quinta-feira, 20, já com altas expectativas e uma pressão pulsante para a Pixar. Depois de três bilheterias com baixa arrecadação, como "Red: Viver é uma Fera" (2022) — que custou US$ 175 milhões e angariou somente US$ 20 milhões, menos de 12% do orçamento —, "Lightyear" (2022) e "Elementos" (2023), que fechou em US$ 496,4 milhões, era a hora de apostar grande para sair da crise. Ao que tudo indica, "Divertida Mente 2" pode ser a boia de salva-vidas que o estúdio tanto precisava.
Mesmo mirando em um sucesso já garantido, tendo em vista que o primeiro filme da franquia arrecadou incríveis US$ 858,8 milhões em bilheteria, fazer a continuação de uma obra já bem conceituada foi um jogo arriscado. "Divertida Mente" foi vencedor do Oscar de melhor animação em 2016 não só pelo conceito inovador que apresenta — uma representação única dos sentimentos e da passagem entre a infância e a adolescência —, mas também pelas tecnologias que a animação havia alcançado na época, quase uma década atrás. Trazer algo novo e à altura era, portanto, um desafio que precisava ser, antes de tudo, algo extremamente bem planejado.
O ponto é que, mais uma vez, os "danados" conseguiram. E para garantir uma bilheteria forte, o filme já está disponível em 2.300 salas de cinema espalhadas pelo Brasil. Pela EXAME POP, assisti ao filme e trago para vocês minha análise crítica sobre "Divertida Mente 2". Confira:
Já desde o primeiro longa, a Pixar faz um trabalho excelente na apresentação de sentimentos e emoções em sua forma mais básica e primária. Agora, com a chegada de Ansiedade, Tédio, Inveja e Vergonha, a mistura de sensações — e as consequências de quando uma se sobrepõe sobre as demais — são ainda melhor representadas.
Aguardada por tantos desde os primeiros trailers, Ansiedade domina a tela na segunda animação da franquia e a forma que os criadores optaram para representar um sentimento de tão difícil compreensão tem um toque de magia: o sorriso tremido, os cabelos espetados e a energia caótica dela, em comparação aos demais sentimentos também exacerbados, cria uma situação tragicômica interessante. A angústia que ela promove, tanto quanto a falsa sensação de controle que oferece, são pontos altos do filme.
Pixar faz uma das melhores representações do cérebro humano em Divertida MenteEm conjunto, a Pixar traz sentimentos mais presentes nos jovens de hoje, não necessariamente bons, mas com elementos atuais: Tédio vem acompanhada de um celular, Vergonha se esconde em um moletom, Inveja tem um formato pequeno, mas causa um grande estrago. Uma estratégia muito bem-sucedida de se aproximar da geração ansiosa de crianças de hoje e desmistificar sentimentos que, querendo ou não, estão ali presentes durante a adolescência e, posteriormente, a vida adulta.
Mas o que mais surpreende em "Divertida Mente 2" e serve como fio condutor de toda a trama não é bem a chegada das novas emoções, e sim o que o filme chama de "senso de si". As linhas que formam a personalidade da Riley, suas convicções, são o ponto mais tocante do enredo e consagram a continuação da franquia como mais uma "sacada genial" da Pixar.
Em uma explosão de hormônios e mudanças, "Divertida Mente 2" chega aos cinemas com um ritmo mais acelerado do que o longa produzido em 2015 — agradeça ao maior dinamismo para a tão aguardada Ansiedade. A escolha de roteiro vem ao encontro de um público mais ávido por resoluções e menos paciente para filmes longos, mas pode se apresentar corrida para alguns telespectadores.
Em partes, esse cenário caótico condiz com o recorte da vida de Riley e faz com que a trama ande com um humor mais acentuado. Às vezes, no entanto, ele deixa faltar um pouco de "carinho" com as sutilezas na hora de apresentar sensações e sentimentos tão bem construídos no primeiro filme. Seja proposital ou não, aquela expectativa de ser levado a uma grande epifania ficou, dessa vez, um pouco mais distante. Mas isso não torna, nem de longe, o filme menos impactante que seu antecessor.
Diferente do que foi apresentado no primeiro longa, o que mais toca no coração de quem assiste é a nova função da Alegria, líder do comando das emoções da Riley. Se no longa de 2015 era dela a compreensão de harmonia entre os sentimentos — já que o público acompanhava o amadurecimento da personagem pelos olhos dela —, agora, em 2024, seu papel é mais soturno e centrado em uma jornada autocuidado e autoconhecimento. Essa transição de ofício torna "Divertida Mente 2" uma das animações da Pixar mais empáticas dos últimos anos.
Na estreia como diretor e roteirista de um longa de animação na Pixar, Kelsey Mann opta por deixar trocadilhos mais expostos. Piadas prontas e mais óbvias, como a apresentada no trailer sobre as "emoções reprimidas", são uma constante prazerosa no novo filme do estúdio. Um pouco mais à frente na história, no entanto, Mann capta a essência de "Divertida Mente" com excelência. O caminho claro de amadurecimento está ali e traz ao público o que a Pixar faz de melhor: a risada vai, aos poucos, se transformando em choro.
A transformação das emoções nativas de Riley, tanto em propósito quanto em função, sem dúvidas vão levar o público a mais um olhar empático para si mesmo.
"Divertida Mente 2" estreou nos cinemas brasileiros em 20 de junho.
O primeiro filme está disponível no catálogo do Disney+.