Eloá Pimentel: a adolescente foi sequestrada e mantida em cárcere privado em 2008 (Netflix/Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 14 de novembro de 2025 às 06h08.
No dia 17 de outubro de 2008, duas adolescentes baleadas foram retiradas de um apartamento em Santo André, na Grande São Paulo. Uma delas, Eloá Pimentel, estava inconsciente e foi levada ao hospital, onde morreu no dia seguinte. A outra, Nayara da Silva, conseguiu deixar o apartamento andando, com o rosto ferido pelo tiro.
O episódio marcou o fim de um sequestro de 100 horas que chocou o país.
Até hoje, o Caso Eloá permanece como um dos mais emblemáticos da história de crimes com repercussão midiática no Brasil. Agora, ele é recontado pelo novo documentário true crime da Netflix, 'Caso Eloá: Refém ao Vivo'.
A produção de 2025 estreou nesta quarta-feira, 12, e reconstrói o caso a partir de depoimentos inéditos de familiares, amigos e jornalistas. O documentário também teve acesso ao diário da própria vítima. Segundo os produtores, esse foi o grande diferencial para mostrar o que não havia sido revelado pela mídia na época e tentar dar voz a Eloá.
Um dos pontos que está chamando a atenção dos telespectadores é que Nayara não participa do documentário sobre o assassinato da amiga. Segundo a produção, todos os envolvidos foram contatados, mas Nayara negou o convite.
Na segunda-feira, 13 de outubro de 2008, Eloá e seus amigos Nayara, Victor e Iago saíram da escola e foram para a casa dela para fazer um trabalho pedagógico.
Tudo corria normalmente, Eloá e Nayara preparavam o almoço enquanto Victor e Iago estavam usando o computador. Lindemberg Alves, ex-namorado de Eloá, invadiu, armado, o apartamento e deu início aos cinco dias de cativeiro.
Os quatro estudantes ficaram de reféns de Lindemberg por um determinado tempo, até Victor e Iago foram liberados no mesmo dia. As duas meninas continuaram no apartamento.
No dia 14, Nayara foi liberta, ficando apenas Eloá e o ex-namorado armado na residência em Santo André. Nayara, ao ser liberta, afirmou que ficou sob a mira da arma de Lindemberg e que Eloá estava sendo agredida no cativeiro, o que foi confirmado por vizinhas do apartamento.
O relato da garota não impediu a polícia de mandá-la de volta ao apartamento no dia seguinte para auxiliar nas negociações. A polícia acreditava que Nayara era o ponto de equilíbrio daqueles momentos de tensão, pois intermediava as discussões constantes entre Eloá e Lindemberg
O coronel Eduardo Félix foi o comandante da operação e das negociações com o sequestrador. Ele chegou a afirmar que a estratégia da polícia não foi combativa. “Por se tratar de um jovem, com uma decepção amorosa, a nossa opção era esgotar todos meios de negociação e tentar cansá-lo", disse.
As negociações foram longas. Um promotor de Justiça esteve na sexta-feira, 17 de outubro, no local com um documento que dava garantia de que o sequestrador não seria ferido ao se entregar. Ele não se entregou.
No início da noite de sexta-feira, o Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) explodiu a porta e deteve Lindemberg. Nesse momento, ele atirou em Eloá e Nayara.
A adolescente Nayara deixou o apartamento andando com o rosto ferido pelo tiro. Já Eloá, baleada na cabeça e na virilha, foi levada inconsciente para o hospital. Ela morreu na noite do sábado, 18 de outubro.
Lindemberg foi a júri popular em 13 de fevereiro de 2012, três anos e quatro meses após o sequestro.
Foram três dias de oitiva de testemunhas, entre elas Nayara, e debates entre o Ministério Público e a defesa do réu.
Nayara disse, em seu depoimento, que o sequestrador assistia às reportagens na televisão enquanto mantinha as meninas em cativeiro. Ela também disse que ele queria se vingar de Eloá.
Ao final, os jurados condenaram Lindemberg Alves Fernandes por todos os 12 crimes pelos quais ele foi denunciado: um homicídio qualificado, duas tentativas de homicídio, cinco cárceres privados e quatro disparos de arma de fogo.
A sentença dada em primeira instância foi de 98 anos de reclusão. Ela foi reformada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo e a pena final do réu foi de 39 anos de reclusão. Preso na P2 de Tremembé, no interior de São Paulo, ele cumpre regime semi-aberto desde 2022.
Parte da controvérsia do caso envolve a atuação da polícia, sobretudo a decisão de enviar Nayara, uma adolescente, de volta ao cativeiro a fim de auxiliar nas negociações.
Em outubro de 2018, dez anos após o sequestro, a Justiça de São Paulo condenou o governo do estado a pagar indenização de R$ 150 mil por danos morais, materiais e estéticos a Nayara Rodrigues da Silva, já com 25 anos.
O entendimento do Tribunal de Justiça foi de que a Polícia Militar colocou Nayara em risco.
Ela foi baleada no rosto, teve ossos da face fraturados e passou por cirurgias de reconstrução, de acordo com reportagem do G1 de 2018.
"Nesse contexto, em relação às situações futuras, a aplicação dos índices (...) é legítima", escreveu o desembargador Evaristo dos Santos sobre o cálculo da indenização.
"Dessa maneira, comprovada exaustivamente não só a condutados policiais militares, mas, mais que isso, a culpa patente dos referidos agentes estatais, que resultou nos ferimentos (danos) provocados na segunda apelante, como também o nexo causal entre os danos sofridos por esta e a referida conduta, razão pela qual, patente está o dever do Estado em indenizar a vítima", escreveu o desembargador Kleber Aquino a respeito da responsabilidade do Estado.