Maria Lúcia Godoy durante homenagem a seu centenário na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (Divulgação/Assembleia Legislativa de Minas)
Redação Exame
Publicado em 16 de maio de 2025 às 11h11.
Última atualização em 16 de maio de 2025 às 11h13.
Morreu aos 100 anos Maria Lúcia Godoy, uma das maiores cantoras líricas do Brasil, cuja voz foi comparada a um "pássaro voando" pelo poeta Ferreira Gullar e ao "ouro que não se destrói" por Carlos Drummond de Andrade.
A artista faleceu na quinta-feira, 15, em Belo Horizonte, onde será sepultada nesta sexta, 16, no Cemitério do Bonfim, após velório no Palácio das Artes.
Ao longo da carreira, a soprano conquistou respeito da crítica, de maestros e do público, se destacando como intérprete principal do Madrigal Renascentista — grupo criado na década de 1950 sob a regência de Isaac Karabtchevsky, seu ex-marido. Seu repertório incluía óperas como La Traviata e músicas populares, entre elas "Travessia", de Milton Nascimento e Fernando Brant.
Reconhecida como a maior intérprete de Heitor Villa-Lobos, Maria Lúcia gravou a versão mais conhecida de Bachianas brasileiras nº 5. A soprano Bidu Sayão chegou a chamá-la de sua "única sucessora" no meio lírico.
Ao longo da vida, ela recebeu apoio de políticos como Tancredo Neves e Juscelino Kubitschek, que a convidou para a cerimônia de inauguração de Brasília. Também teve o reconhecimento do cineasta Glauber Rocha e influência sobre Tom Jobim, que teria se inspirado nela para compor a melodia de "Sabiá".
Nascida em Mesquita, no Vale do Rio Doce, se mudou ainda criança para Belo Horizonte, onde iniciou estudos musicais. Depois, aperfeiçoou a técnica no Rio de Janeiro e na Alemanha, com bolsas de estudo que possibilitaram aprendizado com Margueritte Von Winterfeld.
Formou-se em Letras na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que a homenageou em 2016 com o título de Doutora Honoris Causa. O governo de Minas concedeu-lhe a Grã-Cruz da Inconfidência.
Seu último trabalho musical foi o álbum “Acalantos” (2012), com faixas autorais. Deixou 19 CDs e LPs e participou de filmes como “Os Senhores da Terra”, “Navalha na Carne” e “Poeta de Sete Faces”. Em 2024, seu sobrinho Daniel Godoy anunciou planos de digitalizar e expor o acervo da artista na UFMG e em plataformas digitais.