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Boate Kiss: familiares estudam processar Netflix por série "Todo Dia a Mesma Noite"

Os parentes afirmam que não foram consultados e dizem estar incomodados com parte das cenas e com o que classificam como comercialização da tragédia

Boate Kiss: o empresário Eriton Luiz Tonetto Lopes é um dos líderes do movimento, e alega ter sido pego de surpresa pela obra audiovisual (REUTERS/Edison Vara/Reuters)

Boate Kiss: o empresário Eriton Luiz Tonetto Lopes é um dos líderes do movimento, e alega ter sido pego de surpresa pela obra audiovisual (REUTERS/Edison Vara/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 30 de janeiro de 2023 às 15h23.

Última atualização em 30 de janeiro de 2023 às 15h36.

Um grupo de 42 famílias de vítimas do incêndio na Boate Kiss estuda ir à Justiça contra a Netflix. O motivo é a série ficcional Todo Dia a Mesma Noite, que retrata a história do desastre do dia 27 de janeiro de 2013, quando 242 pessoas morreram após a boate em Santa Maria (RS) pegar fogo. Os parentes afirmam que não foram consultados e dizem estar incomodados com parte das cenas e com o que classificam como comercialização da tragédia.

O empresário Eriton Luiz Tonetto Lopes é um dos líderes do movimento, e alega ter sido pego de surpresa pela obra audiovisual. "A maioria não foi ouvida, então me achei no direito de protestar", conta ele que perdeu a filha Evelin, de 19 anos, na tragédia. De acordo com ele, os responsáveis pela série não procuraram os familiares de outras vítimas além das retratadas nas obras.

Lopes garante que os pais não vão procurar qualquer indenização da empresa. "Não queremos dinheiro da Netflix, a gente quer que parte desse valor arrecadado seja usada para ajudar os sequelados", diz. Lopes é bastante crítico pelas ações comerciais que envolvem a memória da tragédia, como venda de camisetas, canecas e garrafas d'água.

Segundo ele, uma empresa já estuda a criação desses produtos com imagens ligadas à tragédia. "Nosso intuito é parar por aí, que não seja mais comércio. Estão lucrando com a tragédia desses pais. "Não queremos dinheiro. Queremos justiça e que parem de comercializar nossos filhos", afirma.

"Minissérie é diferente do que já foi produzido até agora"

Advogada que representa as famílias, Juliane Korb, diz que as medidas legais ainda estão sendo avaliadas, já que é necessário avaliar as queixas dos familiares em relação à lei. "Ainda estamos estudando o que podemos fazer juridicamente a respeito de algumas informações desses pais." De acordo com ela, o principal motivador para esse movimento dos pais foi a surpresa e falta de comunicação sobre a produção da Netflix.

"Uma minissérie é muito diferente de tudo que foi produzido até hoje de conteúdo jornalístico. Muitos pais não tiveram estrutura psicológica de entrar naquele ginásio para fazer o reconhecimento de seus filhos, e muitos até hoje não tiveram coragem de se deparar com essas imagens", afirma. "E a série traz no trailer imagens desse momento."

A cena do ginásio onde os corpos foram levados no dia tragédia é uma das que compõem o trailer da minissérie de cinco episódios que estreou em 25 de janeiro. Juliane diz que o primeiro pedido a ser feito diretamente à Netflix é uma adequação desse trailer pois, de acordo com ela e com Lopes, as imagens já despertaram problemas psicológicos em alguns familiares que conseguirem "se blindar" de cenas que remetessem ao ginásio.

"Faltou muita sensibilidade, porque os familiares envolvidos de forma direta com a associação tinham conhecimento. Mas faltou sensibilidade da plataforma aos demais pais serem pelo menos comunicados que estava acontecendo", diz Juliane. Segundo ela, esses pais são favoráveis que a história siga sendo contada, mas defendem que isso seja feito por meio de conteúdos jornalísticos e documentários.

Em nota publicada nas redes sociais no domingo, 29, a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) declarou apoio à produção, disse estar ciente e afirma que se sentiu representada pela minissérie. Acrescenta ainda que a obra retrata as famílias que chegaram a ser processadas por críticas ao trabalho do Ministério Público na época. A reportagem não conseguiu contato com a Netflix até a publicação deste texto.

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