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‘Baldlocs’: cabeleireiro carioca desenvolve técnica que faz a alegria dos carecas

A única exigência é que o cliente tenha algum volume capilar nas laterais

Calvice: conheça a técnica dos baldlocs (Boy_Anupong/Getty Images)

Calvice: conheça a técnica dos baldlocs (Boy_Anupong/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 29 de janeiro de 2023 às 10h34.

Em uma das ruas principais de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, a pequena porta leva, escada acima, ao salão cuja decoração com arte em grafite já dá pistas sobre a identidade inovadora do lugar. Na Africarioca, que oferece serviços de salão de beleza e barbearia, foi criada uma técnica que vem fazendo a diferença na autoestima dos clientes: o nome dela é baldlocs.

Bald, em inglês, significa “careca” ou “calvo”. O locs vem de dreadlocks, ou tranças, um tipo de penteado que tem origem na cultura afro. A técnica criada por Lucas Preto consiste na aplicação de dreads (ou tranças) em pessoas com pouco ou nenhum cabelo no alto da cabeça. A única exigência é que o cliente tenha algum volume capilar nas laterais.

Lucas Preto começou a desenvolver os baldlocs no início da pandemia. Na época, ele e o cunhado estavam à frente do salão que inauguraram em 2018, no quintal da sogra dele. A princípio, a técnica consistia em apenas fazer dreads maiores, que cobrissem a parte calva. Depois, a ideia foi aprimorada e desenvolvida, o que aconteceu junto com a mudança de endereço para o espaço atual.

O passo a passo da aplicação, claro, ele diz que não pode revelar. Apenas garante que não usa nenhum tipo de cola ou implante. Somente agulhas, que já fazem parte do processo de colocação de qualquer tipo de dread, são utilizadas. O método é chamado de needle technique (técnica de agulha) e não envolve qualquer substância que cause danos ao couro cabeludo.

— Não tenho a presunção de ser alguém que inventou a roda. Sob uma certa perspectiva, é simples. É possível e tem uma relação entre custo e benefício maravilhosa. Se a gente for falar de procedimento capilar de reimplantação, a gente estaria tratando de R$ 5 mil ou R$ 6 mil no mínimo — diz.

Como se sabe, muita gente enfrenta a calvície como um desafio a ser vencido — e o resultado nem sempre é o esperado. A técnica de baldlocs vai além da questão financeira: atrai porque a intrigante proposta de “fazer surgir” cabelo em pessoas que por alguma razão não o têm pode ser a chave para a recuperação da autoestima perdida.

Quando o açougueiro Willian Oliveira, de 29 anos, decidiu experimentar os baldlocs, preferiu não acompanhar o processo de frente para o espelho. Ele pediu para Lucas virar a cadeira e queria conferir apenas o trabalho finalizado. Quando viu os baldlocs, foi às lágrimas e decidiu aderir de vez. Desde então, vem do município de Volta Redonda para realizar a manutenção.

— Conheci a técnica e comecei acompanhar pelo Instagram. Vi, me interessei. Depois entrei em contato para saber como fazia. Deixei o cabelo crescer por três meses. Foi uma mudança total na autoestima. Eu até chorei de tão feliz e realizado — conta Willian.

A reação do cliente emocionou Lucas, que sentou e chorou junto. Ele passou a tratar sua criação como uma missão, um presente divino, além do trabalho.

— Posso falar genuinamente que nem nos meus melhores sonhos imaginei viver essa experiência. Está além da grana que rola. Sem romantizar — garante.

Atualmente, o faturamento mensal permite a contratação de oito funcionários, que sustentam suas famílias por meio dos dreads. Ao custo de aproximadamente R$ 2 mil, as aplicações já rendem, atualmente, mais de R$ 15 mil mensais. Ao lado de Lucas, atuam mais cinco profissionais: Hilton Mendes, o Mussum; Lucas Matheus, o Batina; José Carlos, o Baiano; Miguel Santos, o Rabanada, e Hannanias de Jesus. A equipe cresceu com a mudança de endereço e o aumento da procura pelos serviços de dread, corte e baldlocs.

Hoje, a Africarioca recebe clientes de terça-feira a domingo. Ao todo, 65% são homens e, o restante, mulheres. Com público de maioria negra e periférica — são 70% da Zona Norte e da Baixada Fluminense, o salão também já recuperou a autoestima de moradores de São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Goiás.

Depois de aprimorar sua técnica, Lucas se prepara para um novo desafio: realizar o procedimento em pessoas totalmente carecas, sem um fio de cabelo em nenhuma parte da cabeça. Ele confessa que ainda não conseguiu imaginar como seria o desdobramento da técnica em casos como esse, está estudando a possibilidade.

— A necessidade de expansão foi a ordem natural das coisas. Vir para cá (para o novo endereço) me fez dar esse boom. A expectativa para 2023 é transcender a parada. Ano passado, a gente teve 20 atendimentos por dia, entre aplicação de dread, manutenção, corte, baldlocs. Na quinta-feira passada, foram seis manutenções e oito cortes. É uma média de 15 a 18 por dia. Aumentar em 40% o efetivo de trabalhadores e dobrar o número de clientes, eu quero essa correria — diz Lucas, empolgado.

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