Redação Exame
Publicado em 31 de março de 2025 às 11h03.
Última atualização em 31 de março de 2025 às 11h06.
A série britânica Adolescência, lançada pela Netflix, acompanha a prisão de Jamie Miller, de 15 anos, acusado de matar uma colega de escola após ser rejeitado por ela.
A narrativa em tempo real é filmada em plano-sequência, recurso técnico que reforça a imersão nos conflitos familiares e nas pressões da investigação, enquanto mantém ambígua a culpa do protagonista.
O enredo gira em torno da possível relação de Jamie com ideias misóginas, associadas à subcultura incel — termo para homens que se dizem "celibatários involuntários".
Embora o rótulo não seja diretamente mencionado na série, sinais como o isolamento do personagem, o desprezo por mulheres e o consumo de conteúdos de ódio online fazem referência direta a esse universo.
Casos reais como o de Elliot Rodger, que matou seis pessoas em 2014 alegando vingança contra mulheres, inspiram a construção da trama. Assim como Jamie, Rodger também se identificava com a cultura incel e via a rejeição feminina como motivo para violência. O criador da série, no entanto, afirmou que a série não foi baseada em um único caso real.
Adolescência, ao não oferecer respostas fáceis, aposta na dúvida como forma de crítica. A série evita demonizar ou justificar o protagonista, mas mostra como discursos de ódio ganham força em jovens solitários, com acesso ilimitado à internet — e como o resultado pode ser trágico.
O termo incel, abreviação de involuntary celibate — “celibatário involuntário” — surgiu nos anos 1990 como parte de um projeto criado por uma canadense chamada Alana. A ideia original era promover apoio mútuo entre pessoas com dificuldades sociais e afetivas, mas o conceito foi apropriado por comunidades masculinas que passaram a expressar discursos misóginos.
Com o tempo, fóruns e grupos online transformaram o espaço em um ambiente de ressentimento. Participantes relatam frustração sexual e social, mas também alimentam ideias de violência contra mulheres e desprezo a padrões de beleza considerados inalcançáveis.
Termos como “chad” (homem considerado atraente) e “sub-5” (autoimagem de inferioridade estética) tornaram-se comuns nesses círculos.
Os membros da comunidade são, em geral, homens heterossexuais com dificuldades de interação social, frequentemente ligados a universos como o dos jogos online. O Southern Poverty Law Center, organização americana que monitora extremismos, classifica o incel como parte do chamado "supremacismo masculino".
Na cultura pop, a figura do incel vem ganhando espaço como tema de alerta. A série Adolescência é um exemplo recente, mas o assunto já apareceu em filmes, fóruns de discussão e investigações jornalísticas sobre crimes com motivação de gênero.
Embora menos violentas, há também mulheres que se identificam como femcels — versão feminina do termo.
Ao contrário da vertente masculina, o grupo costuma ser associado a temas como depressão, idealização amorosa e estética melancólica. Apesar de também relatarem rejeição e isolamento, raramente manifestam discursos de ódio direcionado.