'Adolescente': minissérie virou fenômeno nas redes sociais (Netflix/Divulgação)
Repórter de POP
Publicado em 19 de março de 2025 às 14h26.
Última atualização em 19 de março de 2025 às 15h30.
A adolescência é uma parte complicada da vida, é verdade. Mas a crescente exposição a discursos extremistas, de fácil acesso na internet e dentro de casa, pode ter deixado essa fase mais difícil para as gerações de hoje. Um bom exemplo ilustra "Adolescência", produção da Netflix que revolucionou o formato audiovisual das minisséries e se tornou viral nas redes sociais nos últimos dias.
A trama acompanha a vida de Jamie Miller (Owen Cooper), um garoto de 13 anos que se vê acusado de assassinato após a morte de sua colega de escola. O caso, tenso por si só, é o pano de fundo ideal para o debate sobre como o ambiente interno — na família, nas redes, na própria psique — influencia a vida de adolescentes e causa eventuais consequências severas. O tema em si não é novo. O que muda é o formato.
A série foi gravada em plano-sequência, que exige um trabalho perfeitamente integrado da equipe de câmera, som, iluminação e dos atores, com meses de preparação. Sob o comando do diretor Philip Barantini e o cinematógrafo Matthew Lewis, cada um dos quatro episódios é uma única e contínua tomada, produzida para inserir o espectador numa tensão ininterrupta, sem respiros, sem descargas rápidas de dopamina. Uma escolha ousada para um mundo (e público) bombardeado por cortes secos em vídeos curtos.
Planos-sequência têm sido mais comuns em produções recentes para causar a sensação de falta de fôlego. "The Bear" (2022), da FX, usou o recurso no sétimo episódio da primeira temporada, que se passa dentro da cozinha alguns minutos antes do restaurante abrir para o público. O filme "1917" (2019) tem boa parte das cenas ininterruptas. "Birdman" (2014), vencedor do Oscar de Melhor Filme em 2015, é quase inteiro feito em uma única cena — ainda que se utilize de pequenos cortes invisíveis. Quatro episódios inteiros em um só take, no entanto, não se vê todo dia.
A estratégia funcionou. Sob direção de Jack Thorne e Stephem Graham, que também entra para o elenco como pai de Jamie, "Adolescência" já foi vista por mais de 24,3 milhões de pessoas mundo afora e tornou-se a mais assistida da semana em 71 países — o Brasil entre eles.
Owen Cooper como Jamie Miller em "Adolescência" (Netflix/Divulgação)
Em entrevista ao Tudum, blog da Netflix, Graham destacou que a história de "Adolescência" não é exatamente inspirada em um evento real, e sim em vários episódios recentes de violência cometidos por jovens e adolescentes nos Estados Unidos.
“Houve um incidente em que um jovem [supostamente] esfaqueou uma menina”, contou ele. “Fiquei chocado. Eu estava pensando: ‘O que está acontecendo? O que está acontecendo na sociedade em que um menino esfaqueia uma menina até a morte? Qual é o incidente incitante aqui?’ E então aconteceu de novo, e aconteceu de novo, e aconteceu de novo. Eu realmente só queria lançar luz sobre isso e perguntar: ‘Por que isso está acontecendo hoje? O que está acontecendo? Como chegamos a isso?’”.
Thorne também comentou ao blog que havia uma necessidade maior de falar como os discursos extremistas, reflexos da sociedade polarizada de hoje, despertam violência — especialmente nos homens. O roteiro reflete a origem da raiva masculina e como ela se manifesta nos jovens, diante da onda crescente da misoginia e do conservadorismo.
“Um dos nossos objetivos era perguntar: ‘O que está acontecendo com nossos jovens hoje em dia e quais são as pressões que eles enfrentam de seus colegas, da internet e das mídias sociais?’”, Graham disse à Netflix. “E as pressões que vêm de todas essas coisas são tão difíceis para as crianças aqui quanto são no mundo todo.”
Stephen Graham como Eddie Miller e Owen Cooper como Jamie Miller em "Adolescência"
Não só a série tem sido assistida em todo mundo, como também tornou-se um dos assuntos mais comentados nas redes sociais dos últimos dias. O terceiro capítulo, no qual Jamie passa por uma entrevista com uma psicóloga, recebeu milhões de menções no X (antigo Twitter) e gerou debates acalorados em vídeos do TikTok. Muito porque a direção de câmera se alterna entre os dois personagens — e fortalece o clima de nervosismo e confusão emocional do protagonista.
Bullying, machismo estrutural, a dúvida se um adolescente de 13 anos é um assassino ou não, a polícia tratando ele como adulto… apesar da história ser similar a “Defending Jacob”, “Adolescência” da Netflix incomoda muito mais e o final é dilacerante. Boa surpresa.
— aquele virando a esquina (@djdiandrade) March 14, 2025
🔥 Adolescence (Netflix) es la serie que TODO padre, madre y educador debe ver. No es solo una historia sobre un crimen juvenil; es un espejo brutal de lo que están viviendo los adolescentes en la era digital. Redes sociales, pornografía, masculinidad tóxica, la presión de “ser… pic.twitter.com/8UKBdEmZC0
— José Mario (@JoseMarioMX) March 16, 2025
Para muitos, a série representa um retrato da geração atual e dos desafios que jovens enfrentam em um ambiente saturado por influências externas. Boa parte das publicações no X levanta reflexões sobre as diferenças geracionais e a presença de estímulos contínuos da internet nos adolescentes do século XXI, bem distante da realidade dos adolescentes nos anos 1990 e anos anteriores.
A série está disponível na plataforma da Netflix.
São ao todo quatro episódios com uma hora de duração.