Lula, presidente brasileiro: "Eu tenho um limite de briga com o governo americano" (Ricardo Stuckert / PR/Divulgação)
Agência de notícias
Publicado em 3 de agosto de 2025 às 14h35.
Última atualização em 3 de agosto de 2025 às 18h45.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a comentar, na manhã deste domingo, 3, o tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A declaração ocorreu durante a cerimônia de encerramento do 17º Encontro Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), realizado em Brasília. O evento marca a posse do ex-prefeito de Araraquara (SP) Edinho Silva como novo presidente nacional do partido.
-- Nessa briga dos Estados Unidos, eu tenho um limite de briga com o governo americano. Eu não posso falar tudo que eu acho que tenho que falar. Nós temos que falar apenas aquilo que é necessário.
Sem citar o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o presidente ainda afirmou que um parlamentar renunciou
-- Nós vamos resgatar a bandeira nacional, a seleção brasileira. Não é possível que só exista fascistas, traidores nacionais. Eles estão traindo o povo brasileiro. Renunciar o mandato de deputado para ir lá lamber as botas de Trump.
Sobre o presidente dos EUA, Lula afirmou que o Brasil tem tamanho para negociar de igual para igual, mas não deseja brigar:
-- Eles tem que saber que nós temos o que negociar. nós temos tamanho, temos postura, temos interesses econômicos e políticos pra negociar. Eu não vou abrir mão de achar que a gente precisa procurar construir uma moeda alternativa para que a gente possa negociar com os outros países. Eu não preciso ficar subordinado ao dólar. Estou falando isso desde 2004. Queremos negociar igualdade de condições.
Ele afirmou que Trump quer acabar com o multilateralismo, mas que o Brasil não vai brigar:
-- Colocar um assunto político para nos taxar economicamente é inaceitável. Agora ele extrapolou os limites porque ele quer acabar com o multilateralismo. Nós estamos trabalhando, vamos ajudar nossas empresas e vamos dizer o seguinte: quando quiser negociar, as propostas estão na mesa. Eu não estou disposto a brigar nem com Uruguai, Venezuela, nem com ninguém. Esse país é de paz. Quem quiser confusão conosco, pode saber que não queremos brigar, mas não pensem que nós temos medo
Desde que Trump anunciou o tarifaço, Lula tem defendido a união pela soberania nacional. Uma campanha do governo chegou a ser montada com os dizeres “Brasil com S de Soberania”.
Na última sexta-feira, Trump deu um sinal de abertura a diálogo e afirmou que está à disposição para conversar com Lula. Integrantes do governo, contudo, tem relato dificuldade.
Com o slogan “Brasil justo e próspero”, o evento do PT evocou as cores da bandeira nacional e também foi marcado por discursos em prol da soberania desde seu início, na última sexta-feira.
O encontro também trouxe músicas sobre o tarifaço, como um funk remixado do discurso em que Lula ironizou a atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos. "Trump, libera meu pai".
Com presença de lideranças nacionais do PT, o encontro reafirma o papel de Edinho como figura de confiança do núcleo mais próximo a Lula. Além de ter comandado campanhas presidenciais do petista, Edinho também atuou como ministro da Secretaria de Comunicação Social no segundo mandato de Dilma Rousseff e como tesoureiro do partido.
Sua vitória refletiu um desejo do Planalto de alinhar ainda mais a atuação institucional do partido com a estratégia de governo, especialmente num momento em que Lula tenta reforçar a base no Congresso e ampliar o diálogo com movimentos sociais e setores organizados da sociedade.
Desde sexta-feira, cerca de mil delegados de todos os estados, eleitos previamente nas instâncias estaduais do partido, participaram das discussões em torno do novo regimento interno e das diretrizes políticas da legenda. Apesar de disputas internas e da tentativa de grupos menores de alterar o equilíbrio de forças, a corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), à qual pertencem tanto Lula quanto Edinho, manteve o controle da maioria do Diretório Nacional. A hegemonia da CNB, consolidada nas eleições internas, reduz as chances de mudanças profundas na linha política ou nas regras de funcionamento do partido.
O 17º Encontro Nacional também foi palco de debates sobre as perspectivas eleitorais do PT para 2026, a relação com os aliados da frente ampla e o fortalecimento da presença digital do partido nas redes sociais, um dos temas considerados centrais pela nova direção. A expectativa é que Edinho assuma um papel na reorganização da militância digital e na construção de pontes com setores do eleitorado ainda resistentes ao projeto petista.
Recentemente, a legenda teve bom desempenho nas plataformas digitais com campanhas temáticas que furaram a bolha da militância, como a defesa da taxação dos super-ricos e a mobilização em torno da soberania nacional, reacendida após o tarifaço anunciado pelos Estados Unidos. A expectativa da nova gestão é intensificar esse tipo de atuação, investindo em linguagem mais popular, engajamento com criadores de conteúdo e maior capilaridade entre os militantes digitais.