Dia da criança: Câmara aprova pacote com medidas contra adultização (Kayo Magalhães/Agência Câmara)
Agência de notícias
Publicado em 16 de outubro de 2025 às 14h02.
A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira, 15, um pacote de medidas que amplia a judicialização da proteção infantil, em meio ao avanço de discussões sobre a exposição de menores na internet e a violência sexual.
As propostas aprovadas endurecem as penas para crimes contra vulneráveis e criam novas regras para a atuação de crianças e adolescentes como influenciadores digitais — que, pelo texto, só poderão trabalhar em plataformas online mediante autorização judicial.
A proposta sobre influenciadores altera o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para explicitar que a proibição ao trabalho infantil também vale para atividades digitais, como produção de vídeos, publicidade ou qualquer forma de monetização em redes sociais. Pela regra, o juiz poderá liberar a atuação apenas se houver comprovação de que não há prejuízo à formação escolar e emocional da criança.
O tema voltou ao centro do debate em agosto, após as denúncias feitas pelo influenciador Felca sobre a exposição de crianças em conteúdos sexualizados na internet. As publicações provocaram uma onda de discussões sobre os limites da atuação infantil nas redes e reacenderam o debate que levou, há poucos meses, à aprovação da chamada Lei da Adultização, criada para coibir a erotização precoce e proteger menores de exploração digital e publicitária.
Relatada pela deputada Rogéria Santos (Republicanos-BA), a proposta determina ainda que os valores recebidos com publicidade sejam depositados integralmente em uma conta em nome do menor. O dinheiro só poderá ser usado para despesas essenciais, como saúde e educação, e o saldo total ficará bloqueado até a maioridade ou emancipação, salvo decisão judicial em contrário.
O texto também garante às famílias o direito de pedir a retirada de conteúdos envolvendo menores das plataformas digitais — inclusive a pedido do próprio adolescente, a partir dos 16 anos —, mesmo que não haja comprovação de dano. Caberá às empresas manter canais específicos para atender essas solicitações.
A autora do projeto, deputada Lídice da Mata (PSB-BA), afirma no texto inicial que a intenção é “proteger a infância em tempos de superexposição digital”.
Na mesma sessão, os deputados aprovaram o projeto que endurece penas para crimes sexuais contra vulneráveis e obriga o uso de tornozeleira eletrônica por condenados em saídas temporárias. Relatado pela deputada Delegada Katarina (PSD-SE), o texto eleva a pena de dois a cinco anos de prisão para quem descumprir medidas protetivas de urgência e autoriza o juiz a aplicá-las de imediato quando houver indícios de crimes contra a dignidade sexual — especialmente quando a vítima for criança, adolescente, pessoa com deficiência ou idosa.
Entre as restrições previstas estão o afastamento do agressor do lar, a proibição de contato com a vítima, a suspensão de visitas a dependentes menores e a restrição ao porte de armas.
"Como delegada que sou, entendo a importância desse projeto. Ele representa um verdadeiro pacote para prevenir e punir crimes contra a dignidade sexual de vulneráveis", afirmou Katarina.
De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, apenas em 2024 foram registrados quase 19 mil casos de estupro e estupro de vulnerável, além de 7 mil ocorrências de divulgação de cenas de estupro e pornografia infantil — dados que impulsionaram a tramitação da proposta.
As duas votações fizeram parte da pauta social da semana do Dia das Crianças, quando a Câmara aprovou 15 projetos voltados à educação e à proteção infantil, em articulação comandada pelo presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB).
"Promessa cumprida. Mais um grande dia de votações para nossas crianças e professores ", disse Motta, ao encerrar a sessão.