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Pequenos negócios lutam pela sobrevivência em época de coronavírus

Proprietários de restaurantes chineses tentam compensar as perdas nos negócios com um menu voltado para entregas

CORONAVIRUS: a epidemia está destruindo pequenos negócios chineses, que não têm estrutura para sobreviver durante a crise econômica / Gilles Sabrié/The New York Times

CORONAVIRUS: a epidemia está destruindo pequenos negócios chineses, que não têm estrutura para sobreviver durante a crise econômica / Gilles Sabrié/The New York Times

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Da Redação

Publicado em 10 de março de 2020 às 08h00.

Última atualização em 10 de março de 2020 às 08h00.

Pequim – Os balcões normalmente ocupados pelos clientes na Loja de Macarrão Pang Mei, em Pequim, foram transformados em uma linha de montagem de trabalhadores distribuindo bolinhos, macarrão, molhos e outros ingredientes em recipientes plásticos.

O restaurante está fechado ao público há mais de um mês. Seus clientes, como todos os pequineses, receberam ordens de ficar em casa e evitar qualquer reunião pública.

Seus proprietários estão tentando compensar a perda nos negócios com um menu de entrega improvisado – com pouco sucesso.

“Quero dizer, agora não estamos realmente lucrando”, disse uma das proprietárias, Du Tianqi.

A epidemia de coronavírus, que infectou mais de 90 mil pessoas e se espalhou por pelo menos 67 países, abalou os mercados globalmente e interrompeu os negócios de algumas das maiores corporações do mundo. Também está devastando pequenas empresas em Pequim e em outras cidades da China, sem recursos para suportar uma crise econômica que não dá mostras de abrandamento.

Esses negócios incluem mercadinhos, livrarias, barbearias, bares, restaurantes e cafés – todos os lugares que são essenciais para uma sociedade urbana vibrante e uma enorme fonte de emprego. Os 80 milhões de empresas “domésticas” do país empregam mais de 200 milhões de pessoas, segundo autoridades do governo. As pequenas e médias empresas compõem mais da metade da produção econômica do país.

O governo chinês deve agora equilibrar seu impulso de contenção do surto – e, por extensão, salvar sua credibilidade política – com a necessidade de fazer com que a economia volte a se mover.

Reconhecendo a ameaça, uma força-tarefa de emergência liderada pelo primeiro-ministro da China, Li Keqiang, prometeu apoio às pequenas e médias empresas do país, incluindo um adiamento nos pagamentos de taxas de previdência, saúde e habitação e promessas de reduzir preços de aluguéis e juros de empréstimos.

Os restaurantes e cafés de Pequim foram particularmente atingidos. Uma pesquisa encomendada pela Associação da Indústria de Catering de Pequim descobriu que quase 70% deles permanecem fechados na cidade, que vive hoje uma desaceleração assustadora.

Eles estão sendo prejudicados não apenas por uma queda impressionante no número de clientes, mas também pela dificuldade de adquirir suprimentos e de trazer de volta os trabalhadores que saíram em viagens de férias que deveriam ter terminado há quase um mês.

A pesquisa do setor estimou que o custo para a indústria de restaurantes e bufês em todo o país já havia atingido US$ 85 bilhões. A epidemia foi chamada de Waterloo da indústria, remetendo à derrota final de Napoleão Bonaparte em 1815, e a pesquisa alertou que empresas com fluxo de caixa ou popularidade insuficientes provavelmente nunca reabrirão.

“Sim, haverá muita coisa que não conseguirá sobreviver”, afirmou Du.

Pang Mei's Noodle Shop: por conta da epidemia de coronavírus, restaurantes chineses trabalham atendendo a demanda de delivery (Gilles Sabrié/The New York Times)

A Loja de Macarrão de Pang Mei abriu em 2015 em um dos famosos becos de Pequim conhecidos como hutongs, oferecendo macarrão encharcado de pimenta no estilo de Chongqing, cidade no centro da China. Ela se originou de uma cadeia de Chongqing de propriedade de um primo do marido de Du, Yuan Jie, e conquistou seguidores dedicados. (Um ano depois de sua inauguração, a Eater a incluiu entre os 38 “restaurantes essenciais de Pequim”.)

Nos últimos dias antes do feriado do Ano Novo Lunar, em janeiro, Du, de 34 anos, lembrou em uma entrevista que se sentia ansiosa enquanto trabalhava no caixa. Os primeiros relatos preocupantes do coronavírus vinham de Wuhan, contou ela, referindo-se à cidade agora reconhecida como o centro do surto. A multidão de sempre estava “muito à vontade, saboreando alegremente sua comida”.

“As pessoas realmente não levaram isso a sério”, disse ela. Isso foi há semanas.

Como a maioria das pequenas lojas e restaurantes em Pequim, o casal planejava fechar para o feriado e reabrir em seis de fevereiro. Mas a epidemia e os esforços do governo para contê-la acabaram causando a interrupção do fornecimento de especiarias e pimentas do restaurante de Chongqing.

Os produtos de Pequim “não são tão saborosos”, explicou Du. De qualquer forma, muitos dos mercados da cidade também fecharam. “Não tínhamos sequer os temperos mais básicos.”

Em 14 de fevereiro, eles tinham montado uma nova cadeia de suprimentos. Foi o suficiente para oferecer um menu reduzido de macarrão e bolinhos prontos para cozinhar, com instruções para as pessoas terminarem o prato em casa. (O macarrão, disse ela, é melhor quando comido imediatamente após ser cozido e certamente perderia sua qualidade, devido ao tempo necessário para entregá-lo.)

A crise desafia a sabedoria convencional de que a epidemia significaria um benefício para os serviços de entrega. De acordo com a pesquisa da associação do setor, as entregas de alimentos também caíram – em parte porque poucos entregadores conseguiram voltar ao trabalho e, em parte, porque os clientes parecem não querer qualquer contato com estranhos que circulam pela cidade.

Du disse que a renda do restaurante era agora apenas um terço do que já fora. Isso já os forçou a reduzir custos. Eles normalmente têm 20 funcionários, mas apenas oito retornaram ao trabalho. Ela lida com os pedidos on-line por meio do WeChat, aplicativo de mensagens e pagamento móvel da China, em seu computador. Seu marido, que também é cantor pop, frita as pimentas em um armazém em outra parte da cidade.

Du disse que ainda não tinha ouvido falar de qualquer possível ajuda governamental, embora mantenha contato com outros empresários do setor, comparando informações. Ela se preocupa com o pagamento do aluguel e dos empréstimos.

Uma cervejaria local também se interessou pela união de forças e a inclusão de sua cerveja nas entregas. “Eles nos apresentaram uma proposta muito detalhada de cooperação que não pude recusar. Este é um momento muito especial. Todo mundo está apenas tentando sobreviver ao se unir para compartilhar o calor”, disse ela.

Du não acredita que vai reabrir totalmente até o fim de março, mas está tentando permanecer otimista. “No fim das contas, as pessoas sempre precisam comer.”

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