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O ex-presidiário que virou um empreendedor serial

O americano Robert Williamson foi presidiário, sem-teto e viciado em drogas. Hoje, é um empreendedor serial que já construiu diversas empresas

Bob Williamson: "Espero que minha trajetória possa incentivar aqueles que perderam a esperança" (Jeffery A. Salter/Redux/Latinstock)

Bob Williamson: "Espero que minha trajetória possa incentivar aqueles que perderam a esperança" (Jeffery A. Salter/Redux/Latinstock)

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Da Redação

Publicado em 23 de dezembro de 2011 às 05h00.

Bob Williamson, na imagem ao lado, tem 64 anos e nasceu no Mississippi, no sudeste dos Estados Unidos. Na foto, de 2008, ele está na lanchonete de uma escola, cercado por crianças. Na época, comandava a Horizon, empresa que fundou para desenvolver soft­wares para restaurantes, bandejões e cafeterias.

A empresa faturava 26 milhões de dólares por ano e tinha 15 000 clientes, entre hos­­pitais, escolas e instalações militares. Olhando assim, é difícil acreditar que esse empreendedor, pai de três filhos e com sete netos, já foi mendigo, alcoólatra, viciado em drogas e presidiário. 

A história de Williamson, hoje milionário, é de superação e com final feliz. Morando no interior da Flórida com sua mulher, Teresa, com quem é casado há 40 anos, Williamson está iniciando mais um negócio — o 12º de sua vida. Desta vez, trata-se do Honey Lake Plantation, spa-resort  previsto para começar a funcionar neste mês.

"Tornei-me um empreendedor serial porque nunca temi correr riscos e sempre perseverei até alcançar o sucesso", disse ele a Exame PME.


As coisas nunca foram fáceis para William­son. O pai, militar da Força Aérea, vivia mudando com a família de cidade em cidade. Williamson começou a beber aos 12 anos e mudou de escola 19 vezes. Com 17 anos, saiu de casa e tentou ingressar nas Forças Armadas, mas foi expulso seis meses depois ao ser diagnosticado como sociopata — uma pessoa impulsiva, indiferente aos sentimentos alheios e com grande desprezo por normas sociais.

Passou a viver nas ruas de Nova Orleans e logo ficou viciado em heroína e anfetaminas. Arrumou uma Magnum 357 e começou a roubar. Foi preso 19 vezes. Aos 24 anos, quando a barra pesou de vez e a polícia de Nova Orleans o perseguia, Williamson fugiu da cidade e foi para Atlanta. "Eu tinha só uma muda de roupa e não conhecia ninguém lá", diz. "Mas precisava tentar mudar de vida de algum jeito."

Em Atlanta, Williamson conseguiu emprego numa construtora. Seu trabalho era raspar com uma machadinha a argamassa de tijolos que sobravam das construções para que fossem reutilizados. Ganhava 15 dólares por dia. Acabou se livrando das drogas — mas não do álcool.

Um dia, dirigindo bêbado, causou um sério acidente e quase morreu. Passou meses se recuperando no hospital. Para passar o tempo, pedia às enfermeiras que lhe trouxessem livros da biblioteca. Um dia, recebeu a Bíblia. Ateu convicto, decidiu provar que as Escrituras eram um amontoado de bobagens. Mas aconteceu o contrário e ele acabou se convertendo ao cristianismo.

"Se não tivesse aceitado Jesus como meu salvador, estaria morto, na prisão ou num asilo de loucos", afirma. "O cristianismo me fez acreditar que eu podia ser outra pessoa."


Ao sair do hospital, encontrou trabalho numa fábrica de tintas. No porão, ele colava rótulos nas latas. "Era o pior trabalho na empresa", diz Williamson. "Mas eu era o primeiro a chegar e o último a sair." Por sua dedicação, o dono o promoveu oito vezes. Em 1977, depois de aprender tudo o que pôde sobre a fabricação do produto, pediu demissão e montou seu primeiro negócio — a Wasco, que produzia tintas especiais para aerógrafos,  uma pistola de ar comprimido para pinturas.

A marca era distribuída em lojas especializadas ou entregue aos artistas pelo correio. A Wasco chegou a oferecer 7 000 itens, entre tintas, pincéis, compressores e pistolas para aerógrafos. A empresa cresceu e atingiu 1 milhão de dólares de faturamento ao ano. 

Uma auditoria nas finanças revelou que a Wasco vinha sendo roubada há meses por um grupo de funcionários. "A empresa devia mais de 1 milhão de dólares aos fornecedores", diz Williamson.

Ele, então, escreveu uma carta dizendo que pagaria a todos e pediu que não o processassem. Isso deu tempo de reestruturar a empresa e saldar as dívidas. "Apesar do pesadelo, foi uma experiência fundamental", diz Williamson. "Aprendi a negociar e a dirigir uma empresa."

Em 1992, Williamson enxergou uma oportunidade. Um de seus representantes, que atuava também no setor de alimentação, comentou que não havia um bom software de gerenciamento de cantinas, lanchonetes e restaurantes. Williamson recrutou seus filhos, Jim, Michael e Jon, que eram talentosos desenvolvedores de softwares, para trabalhar com ele e criar o produto. 


A área de TI não era totalmente nova para Williamson.  Em seus tempos na empresa de tintas, ele havia participado da implantação de um software de armazenamento e distribuição. A partir daquela experiência, Williamson criou a Horizon  para fornecer sistemas de gestão a cantinas escolares. O software integrava processos, como compra de matéria-prima e controle de estoque, e também permitia aos pais saber em tempo real o que os filhos comiam na escola.

Por um bom tempo, não houve rivais. "O mercado era pequeno para atrair grandes empresas, mas grande o bastante para mim", diz Williamson. Entre os principais clientes havia escolas públicas de Los Angeles. O passo seguinte foi adaptar o programa para universidades, hospitais e até para submarinos das Forças Armadas. Em 2008, Wil­liam­son vendeu a Horizon a um grupo com investimentos em energia, transportes e educação.

O negócio foi avaliado em 75 milhões de dólares. "Foi uma oferta irrecusável", diz ele. Com o dinheiro, comprou uma propriedade na Flórida. Poderia estar aposentado, mas resolveu fazer ali o resort Honey Lake Plantation. Também achou tempo para escrever sua autobiografia, recém-lançada nos Estados Unidos, e dar palestras em prisões e centros de reabilitação. "Espero incentivar aqueles que perderam a esperança", diz.

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