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Um pouco de descontrole na gestão faz bem

De nada adianta ter um monte de números de sua empresa se você não é capaz de decidir sozinho qual o melhor momento para acelerar

O mais gostoso nos negócios  é o friozinho na barriga na hora de ultrapassar adversários (Alexander T./stock.xcng)

O mais gostoso nos negócios é o friozinho na barriga na hora de ultrapassar adversários (Alexander T./stock.xcng)

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Da Redação

Publicado em 4 de abril de 2011 às 08h00.

Não fazer nada é uma boa maneira de colocar as coisas em ordem na cabeça da gente. Neste início de ano, tirei dez dias de férias para viajar com a minha família. Então, entre uma manhã sem fazer nada e uma tarde em que eu não tinha coisa alguma para fazer, aproveitei para pensar na vida e na minha empresa.

Mas, em vez de me preocupar se os fornecedores entregaram a matéria-prima no prazo ou se as vendas iam bem, fiquei pensando nas formas que tenho para acompanhar e controlar meu negócio.

Nos últimos anos, conforme a empresa foi crescendo, investi em mecanismos de gestão sofisticados. Hoje, tenho controle quase em tempo real de toda a operação. Cruzando dados, posso saber a produtividade de cada funcionário, a evolução das vendas por região e mais uma porção de indicadores que nem lembro direito.

Parece muito bom ter todos esses números na mão. Mas, sinceramente, não sei até que ponto tanto controle ajuda um negócio a ter sucesso. No início, eu não tinha nada dessas coisas — e minha empresa deu certo mesmo assim. Mesmo sem números tão precisos, tim-tim por tim-tim, eu era capaz de sentir quando os negócios iam bem e era hora de investir ou quando chegava o momento de pisar no freio.

Funciona mais ou menos como pilotar um carro de corrida. O motorista tem vários reloginhos no painel. Mas não precisa ficar olhando cada um o tempo todo para saber se o carro está estável e a pista livre para ele acelerar. Apenas três mostradores são importantes de verdade — o velocímetro (que seria o faturamento da empresa), o nível de combustível (fluxo de caixa) e o conta-giros (lucro). O resto é acessório.


Recentemente, conversei com meu ídolo Tony Kanaan, campeão de Fórmula Indy. Sempre tive curiosidade de saber se um piloto consegue prestar atenção em todos os mostradores de um carro a 350 quilômetros por hora. “Sidney, o que determina a vitória não é o controle sobre todas as variáveis do carro”, disse Kanaan.

“O mais importante é ser ágil para tomar decisões.” Ele disse mais: às vezes, os controles do carro indicam que o motor está no limite ou que a pressão nos pneus está alta demais. Meu amigo piloto nem liga, acelera mesmo assim — e, muitas vezes, vence.

Não quero fazer apologia à falta de controle. É óbvio que o empreendedor precisa estar ligado nos detalhes de seu negócio. Mas de que adianta ter um monte de números nas mãos se 1) você não sabe o que fazer com tanta informação, 2) você perde tanto tempo analisando dados que se esquece de coisas mais estratégicas?

Caso seu carro (empresa) esteja muito controladinho, sem sair de traseira nas curvas, tome cuidado — talvez você esteja devagar demais. Correr riscos é inerente a todo empreendedor. O mais gostoso na corrida — e nos negócios — é aquele friozinho na barriga na hora de ultrapassar os adversários. Saia um pouco do controle, encontre seu limite e... acelere.

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