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Transformando a vida saudável em jogo, startup cresce 1.600% na pandemia

A startup mineira RadarFit criou um aplicativo que transforma a dieta e os exercícios físicos em um jogo, com possibilidades de recompensa no final

RadarFit: fundada em 2018, a startup cresceu mais de dez vezes durante a quarentena (RadarFit/Divulgação)

RadarFit: fundada em 2018, a startup cresceu mais de dez vezes durante a quarentena (RadarFit/Divulgação)

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Carolina Ingizza

Publicado em 12 de setembro de 2020 às 07h00.

Como estimular as pessoas a seguir uma vida saudável? Essa foi a pergunta que fez as sócias Jade Utsch, Tatiany Ribeiro e Jennifer de Faria criarem a RadarFit em 2018. Em três anos, a startup mineira mudou o modelo de negócio duas vezes até encontrar a resposta: as pessoas precisam de uma recompensa imediata para manter bons hábitos.

Com isso, surgiu o modelo atual da startup. Ela oferece aos assinantes missões diárias com base na meta final do usuário — perder peso, comer melhor ou ganhar massa muscular. A cada meta cumprida, que precisa ser fotografada, o usuário desbloqueia a próxima e ganha moedas virtuais.

No caso de uma pessoa que quer se exercitar mais, por exemplo, a startup oferece planos diários de exercícios para serem feitos em casa ou na academia. No final da atividade, a inteligência artificial avalia o tempo gasto no aplicativo e a foto enviada para comprovar que a missão foi cumprida.

As moedas que os "jogadores" ganham servem para eles poderem participar de campeonatos. Neles, o usuário compete com outros assinantes do aplicativo por um prêmio, que pode ser algo como um iPhone, uma TV Smart ou uma caixinha de som da JBL. Cada torneio tem de 100 a 200 participantes e ganha quem cumprir mais missões saudáveis durante o período da competição.

“Com isso, a gente resolve a questão de falta de previsibilidade e ajusta a meta das pessoas para manter a vida saudável”, diz Jade Utsch, sócia e presidente da RadarFit.

Trajetória do negócio

No começo da empresa, as sócias tentaram construir um marketplace de bem-estar, conectando os clientes com lojas de produtos orgânicos, academias, clínicas de estética. Logo perceberam que os clientes logo deixavam a startup para comprar diretamente do fornecedor. Depois, elas tentaram criar um jogo dentro do marketplace, para engajar os clientes. “Não eram missão tão completas e acabavam não convertendo vendas para nós”, diz Utsch.

Depois de dois fracassos, as sócias perceberam que a chave do sucesso estava em um jogo que estimulasse as pessoas a seguir uma vida saudável. Mas após terem perdido capital em duas ferramentas que não deram certo, o trio decidiu que era hora de testar a nova ideia antes de investir.

Então, com ajuda de amigos e familiares, criaram grupos no WhatsApp com 50 pessoas cada. Diariamente, a RadarFit começou a mandar listas de atividades que os participantes tinham que cumprir para ganhar pontos. A somatória de cada uma das 5.000 pessoas participantes era feita em uma planilha simples. No final do dia, quem acumulasse mais pontos dentro do grupo ganhava.

“As pessoas gostavam mais do jogo do que do prêmio em si. Era uma forma delas conquistarem resultados de forma leve, rápida e divertida”, diz a presidente da startup. Só depois da tese comprovada é que startup investiu na criação de um site e aplicativo. Com isso, conseguiu entrar no programa de aceleração da Startup Farm, sendo coroada a melhor empresa de 2018.

A visibilidade do programa levou ao primeiro grande cliente: o Banco do Brasil. A instituição financeira procurou a startup para oferecer o produto como um benefício para seus funcionários. Foi aí que a empresa percebeu que deveria apostar no mercado corporativo, cobrando 4,90 reais por empregado cadastrado e unindo todos eles em um ranking unificado.

A pandemia como catalisador

Até meados de 2020, a startup crescia operando só no modelo corporativo, mas a pandemia mostrou que havia demanda para clientes finais. Logo no começo da crise, a RadarFit foi procurada pelo Gympass para oferecer seu jogo aos clientes dela.

Percebendo a boa adesão ao produto, as sócias entenderam que havia uma demanda significativa para um modelo individual de assinaturas. Sem poder ir ao nutricionista ou à academia, as pessoas estavam procurando alternativas online. Em junho, então, a RadarFit disponibilizou a plataforma em português, inglês e espanhol para usuários finais. A assinatura custa 15,90 reais por mês e já tem mais de 15.000 pessoas adeptas.

O movimento causado pela pandemia fez a empresa crescer 1.600% em relação ao mesmo período do ano passado. A meta do ano, que era chegar a 30.000 usuários no modelo corporativo, já foi batida. O modelo de assinaturas individuais, que seria lançado em 2021, também foi adiantado. Agora, o plano da empresa é mais ambicioso: terminar 2020 com 80.000 usuários no modelo corporativo e 50.000 no individual.

Em 2021, o objetivo é acelerar e dobrar os números de clientes conquistados ao longo de 2020. As sócias planejam também uma nova rodada de captação, que pode ser um seed ou série A, para o futuro. Fora a aceleração da Startup Farm, até hoje a empresa só recebeu um investimento de 1 milhão de reais no começo deste ano da Domo Invest (Agenda Edu; IOUU).

Os desafios, segundo Jade Utsch, são encontrar as pessoas certas para contratar, de modo que a empresa mantenha o ritmo de crescimento conquistado agora. “A tecnologia foi toda criada por nós, é um aplicativo todo gamificado. É difícil encontrar bons desenvolvedores de jogos em Belo Horizonte”, diz a fundadora.

Outra dificuldade para a startup é encontrar especialistas para treinar a inteligência artificial. Como as missões são diárias, o programa precisa conhecer muito sobre psicologia, nutrição e educação física para poder criar metas possíveis para os usuários. “A saída é contratar bons profissionais e ir desenvolvendo eles dentro da empresa para o que a gente precisa”, diz Utsch.

Se o serviço da RadarFit de fato conseguir manter os clientes em dia com seus hábitos saudáveis, a tendência é a startup seguir crescendo em 2021.

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