PME

A economia colaborativa molda os negócios. Aceite ou morra

Como usar os novos formatos de comunidades que unem clientes, fornecedores e concorrentes para criar produtos e serviços, aumentar a produtividade e cortar custos

Janara Lopes e Vanessa Queiroz, do do site Ideafixa  (Daniela Toviansky / EXAME PME)

Janara Lopes e Vanessa Queiroz, do do site Ideafixa (Daniela Toviansky / EXAME PME)

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Da Redação

Publicado em 7 de maio de 2014 às 21h06.

São Paulo - Estamos vivendo em comunidades há pelo menos 10 000 anos, quando o acesso a uma grande quantidade de alimentos levou os seres humanos a se juntar em ­assentamentos e não depender exclusivamente da caça, da pesca e da coleta.

A agricultura incentivou o comércio e a cooperação entre as pessoas, criando o conceito de sociedade como conhecemos hoje.

Ao longo dos tempos, a criação de ferramentas como o telefone, o avião, o satélite e a internet serviu para nos aproximar cada vez mais uns dos outros. Hoje, pessoas, empresas e cidades usam a tecnologia para alcançar uma cooperação global nunca antes possível.

Para os negócios, uma das profecias mais anunciadas desde a aurora da internet era que o acesso a uma grande rede de computadores — à qual milhões e milhões de consumidores estariam conectados — poderia abrir portas para o desenvolvimento das empresas, principalmente dos pequenos e médios negócios. 

Tudo isso, de fato, se concretizou — mas depois vieram novos desafios.

O que está acontecendo mais recentemente é uma mistura de quem faz o quê. Até há pouco tempo, fazer negócios era mais simples — as empresas vendiam e os clientes compravam. Agora os consumidores alugam, pegam emprestado e compartilham tudo numa escala inédita. Não satisfeitos, eles querem também participar da concepção e do desenvolvimento de produtos e serviços que compram.

Em suma, querem fazer tudo juntos. “De repente, não é mais certo para as empresas que sempre trabalharam do mesmo jeito que elas continuarão crescendo ou existindo”, diz Daniel Saad, sócio da consultoria mineira de inovação Inventta. “Elas terão de se adaptar.”

Algumas empresas que estão nascendo agora (caso dos sete exemplos desta reportagem) naturalmente já incorporam uma nova maneira de empreender, que os especialistas chamam de economia colaborativa. “São negócios que compartilham conhecimento e permutam recursos entre si e com a sociedade”, afirma Michel Bauwens, criador da P2P Foundation, organização que estuda o assunto.

Exame PME apresenta quatro novos tipos de comunidade que estão abrindo caminho para a economia colaborativa — coworking (espaço de trabalho compartilhado), crowdsourcing (uso da inteligência coletiva para resolver problemas), cocriação (envolvimento de clientes e concorrentes no processo de produção) e crowdfunding (financiamento coletivo). 

São conceitos com os quais todas as empresas de agora em diante terão de lidar. Esse é o futuro. 


O que é coworking

É um espaço de trabalho compartilhado entre duas ou mais empresas que pode juntar também autônomos e freelancers. Diferentemente de um ambiente típico de escritório, o coworking não tem cubículos nem paredes separando as empresas e isolando as pessoas.

“Acreditamos que os cubículos são silos em miniatura que inibem a criatividade e as interações sociais”, diz Henrique Bussacos, sócio da unidade paulistana do Impact Hub, espaço de coworking presente em 60 cidades do mundo, como Madri, na Espanha, e Helsinque, na Finlândia.

“No coworking, o empreendedor se beneficia de um caldeirão de ideias que surgem de pessoas com diferentes habilidades e perspectivas sobre como resolver os problemas”, diz Bussacos.

Uma série de eventos — formais e informais — estimula o espírito de camaradagem entre os participantes, como exposições, palestras, workshops e sessões improvisadas de bilhar e videogame.

Entre um papo e outro, um vizinho de mesa pode se transformar num parceiro de negócios, fornecedor ou cliente. É o que alguns especialistas chamam de acaso assistido — uma multiplicidade de encontros inesperados difíceis de recriar em outro ambiente.

De acordo com dados da revista alemã Deskmag, há mais de 2 500 espaços de coworking espalhados pelo mundo. Eles vêm aumentando 80% ao ano. Seus organizadores cobram um aluguel mensal de cada coabitante. O valor costuma variar de 150 reais (no Amazon Hub, em Belém, no Pará) a 800 reais (no Coworking Offices, em São Paulo).

O conceito não é novo. Nos anos 90, o professor americano Michael Porter, da Universidade Harvard, já usava o termo clusters para definir concentrações de empresas que compartilhavam suas estruturas. O que mudou de lá para cá então?

“A ênfase deixou de ser a divisão de custos para viabilizar uma empresa iniciante”, diz Alexandre Alves, gestor da mineira Inseed Investimentos, que faz aportes de capital em negócios emergentes. “Agora tem mais a ver com o desejo de fazer parte de uma rede de negócios em expansão.”


Exemplo

Desde 2010, as empresas IdeaFixa e Estúdio Colletivo ocupam a mesma casa num bairro da zona sul de São Paulo e dividem custos como luz, água, telefone e os salários da recepcionista, da cozinheira e do pessoal administrativo.

Os funcionários de cada negócio — programadores, designers e redatores — também se misturam. Num mesmo dia, eles podem estar trabalhando para as duas empresas.

O Estúdio Colletivo, fundado em 2003, presta serviços de design e ilustração por encomenda. A IdeaFixa, fundada em 2006, mantém um site em que profissionais de arte, como arquitetos, desenhistas, fotógrafos e cineastas, divulgam seus portfólios.

“Montamos uma estrutura de coworking para ganhar fôlego de empresa maior”, diz Vanessa Queiroz, de 37 anos, sócia do Estúdio Colletivo.

Entre os últimos projetos em conjunto estava uma encomenda da grife de roupas Calvin Klein. “A marca nos procurou para criar um concurso de intervenções artísticas com grafite e colagens”, diz Janara Lopes, de 31 anos, sócia da IdeaFixa. “Para isso, precisávamos desenvolver um sistema para o cadastro de artistas, mas não tínhamos programadores suficientes.”

Nesse ­caso, a IdeaFixa pediu emprestado alguns funcionários do Estúdio Colletivo, que têm mais experiência com tecnologia. “Se tivéssemos de ir atrás de programadores terceirizados, talvez nem desse tempo de aceitar o trabalho”, afirma Janara.

Ao fim de cada mês, uma empresa paga a outra pelo tempo que ocupou dos funcionários emprestados. “Ganhamos produtividade ao trocar conhecimento técnico e experiência de mercado com gente que, a rigor, não faria parte de nossa equipe”, diz Vanessa.

As duas empresas se uniram quando a IdeaFixa precisava diversificar suas atividades — criar cursos, eventos e um portal para conectar profissionais de arte às empresas interessadas em contratá-los. “Certo dia, conversando com os sócios do Estúdio Colletivo, percebemos que os dois negócios eram complementares e que, juntos, seríamos mais fortes”, afirma Janara.


Outras possibilidades

Muitas empresas têm alugado espaços de coworking para acomodar funcionários nômades, que precisam trabalhar a distância, ou quando querem manter equipes locais em outras cidades ou países sem precisar investir numa estrutura física.

Mesmo nas empresas com sede própria, o coworking tem inspirado uma reorganização das estações de trabalho. “Em vez de ter mesas e lugares fixos, muitas empresas estão preferindo criar estruturas móveis, em que as pessoas se agrupam de acordo com o tipo de tarefa que precisam desempenhar e a quantidade de gente envolvida”, diz Bussacos, do Impact Hub.

O que é crowdsourcing

O termo apareceu num artigo escrito pelo jornalista Jeff Howe para a revista americana Wired. É uma junção das palavras crowd (multidão) e outsourcing (terceirização). Significa “usar a inteligência coletiva para resolver problemas”.

Um exemplo clássico de projeto construído usando a força do crowdsourcing é a Wikipédia. Em vez de contratar autores e editores por conta própria, os idealizadores da Fundação Wiki abriram para qualquer pessoa a possibilidade de criar o conteúdo. O resultado foi a enciclopédia mais abrangente já construída em todos os tempos.

“A mobilização coletiva costuma executar trabalhos com mais rapidez, menos dinheiro e com menos erros, uma vez que várias pessoas oferecem suas melhores ideias, habilidades e apoio”, afirma Daniel Saad, sócio da consultoria mineira de inovação Inventta.

Para os empreendedores, a novidade é que a internet e as redes sociais podem ser utilizadas como atalho para acessar uma mão de obra global que, não faz muito tempo, estava fora do alcance de uma pequena ou média empresa.

“O empreendedor que precisa resolver demandas pontuais ou criar produtos e serviços pode recorrer a uma imensa comunidade online de profissionais dispostos a vender sua força de trabalho”, diz Alexandre Alves, da Inseed Investimentos.

Digamos que sua empresa precise de um novo logotipo. Você pode dizer a uma comunidade de designers as especificações mínimas da marca, quanto está disposto a pagar e o prazo de conclusão do trabalho. Os interessados criam projetos específicos para você, que escolhe os melhores entre dezenas ou centenas de opções.

“Imagine uma startup brasileira que tenha seu produto desenhado pelo mesmo designer italiano que projetou partes de um carro da Ferrari”, diz Saad.­ “Sem a internet, um profissional como esse ficava inacessível, pois faltavam ferramentas para se conectar a ele.”

Atualmente, mais de 1 milhão de tarefas são concluídas por dia em plataformas de crowdsourcing no mundo, segundo estimativas da empresa americana CrowdFlower.


Exemplo

Há pouco mais de um ano, o publicitário Luiz Camara Lopes, de 34 anos, sócio da loja online de móveis e objetos decorativos Galatea, decidiu usar os recursos de crowd­sourcing no site de sua empresa. A ideia era receber projetos de poltronas, mesas e luminárias concebidos por designers que não trabalham na Galatea.

“Temos apenas cinco funcionários”, afirma Lopes. “Por mais que estudemos o mercado, não damos conta de saber todas as tendências.”

Lopes reservou no site um espaço em que qualquer profissional de qualquer lugar do mundo pode sugerir novos produtos. Para isso, o interessado precisa enviar alguns esboços. Uma equipe analisa as sugestões e as coloca em votação entre os clientes da loja.

Quando uma peça recebe muitos votos, é fabricada e incluída no catálogo — o autor da ideia recebe 5% do valor de cada venda. “Já recebemos mais de 150 projetos dessa forma e 30 deles viraram produtos”, diz Lopes.

A arquiteta mineira Laura Serafini, de 33 anos, foi uma das que enviaram contribuições ao site da Galatea. A primeira foi um desenho de um banco de madeira revestido de almofada branca, que recebeu votos suficientes para ser fabricado em poucas semanas.

“Foi muito bacana ver que os clientes da empresa gostaram da minha criação”, afirma Laura. Foi a primeira vez que ela teve um produto seu vendido em uma loja. Até então, Laura só desenhava móveis para os próprios clientes — ela é sócia de um escritório de arquitetura que leva seu nome em Belo Horizonte.

“O mercado de decoração é muito concorrido”, diz Laura. “É preciso trabalhar por muitos anos para ter seus móveis expostos no catálogo de uma empresa bacana, e esse era um de meus sonhos.”

No site da Galatea há também um espaço onde decoradores podem publicar fotos de ambientes, como quartos e salas de jantar pré-moldados, com objetos da loja. Dessa forma, o cliente pode comprar os produtos já combinados clicando na foto. Quando isso acontece, o decorador recebe uma comissão de 1% sobre o valor da venda.

De acordo com Lopes, essas iniciativas devem ajudar a Galatea a faturar 5 milhões de reais neste ano, mais do que o dobro de 2013. “Com uma estrutura enxuta e lançamentos frequentes, podemos crescer rapidamente sem aumentar os custos na mesma proporção”, afirma Lopes.


Outras possibilidades

Muitas empresas usam um recurso chamado microtasking, que é dividir um trabalho em pequenas tarefas e distribuí-las por plataformas de crowdsourcing para várias pessoas executá-las simultaneamente. “Quem tem um site com 1 000 fotos que precisam de legendas, por exemplo, pode pedir que 1 000 pessoas escrevam a sua”, diz Saad, da Inventta.

Paga-se por tarefa. Dependendo do caso, o trabalho pode ser feito em poucas horas ou minutos. “O microtasking é muito eficiente para tarefas que podem ser desempenhadas de forma independente, como edição de imagens, revisão e tradução de documentos e correção e transcrição de dados”, diz Saad.

O que é cocriação

É a iniciativa de envolver clientes, fornecedores e até concorrentes no processo de criação de um produto ou serviço. O princípio é que muitas cabeças pensam melhor do que uma.

“A expectativa é que, ao fim, se obtenha um resultado melhor para todas as partes envolvidas, comparado ao que cada uma conseguiria sozinha”, diz Daniel Saad, da consultoria Inventta.

O termo foi popularizado por dois professores indianos de negócios, C.K. Prahalad e Venkat Ramaswamy, no livro O Futuro da Competição, de 2004. De lá para cá, a cocriação foi facilitada por tecnologias como redes sociais, wiki, blogs e plataformas de crowdsourcing.

A cocriação funciona como o crowdsourcing ao buscar informações e ideias de um grupo de pessoas. Mas há uma diferença crucial: na cocriação, o projeto não é escancarado em fóruns abertos. “Um grupo restrito de indivíduos com habilidades e talentos específicos se reúne para colaborar”, afirma Saad.

A contrapartida das empresas que optam pela cocriação é que, ao desenvolver projetos em grupo, elas abdicam da posse da propriedade intelectual. O conceito é mais fácil de ser compreendido no caso dos soft­wares livres, que podem ser usados de graça, copiados, modificados e redistribuí­dos de acordo com as necessidades de cada pessoa ou empresa.


Um exemplo de cocriação é o navegador Firefox, da Mozilla Foundation. Criado em 1998, o código do software foi escrito por centenas de programadores ao redor do mundo e traduzido para 70 idiomas por outros voluntários.

Depois disso, o código do Firefox serviu de base para a criação de outros navegadores, como o Chrome, do Google. “Todo mundo ganha ao se ajudar mutuamente”, diz Saad. “A qualidade tende a melhorar, e o custo de produção, a cair, pois o preço inicial de ­reaproveitar um conhecimento é zero.”

Exemplo

A paulistana Metamáquina fabrica e vende impressoras 3D, máquinas que produzem objetos de plástico ou resina por meio de imagens tridimensionais desenhadas no computador. A empresa faturou 600 000 reais em 2013 e deve triplicar as receitas neste ano.

Desde a fundação do negócio, em 2009, a Metamáquina se beneficia da cocriação para melhorar seus produtos.

“Estamos conectados ao que há de mais novo em tecnologia produzida por nossos concorrentes”, afirma Filipe Moura, de 30 anos, sócio da empresa.

Para funcionar, as impressoras precisam de dois programas. Um é para desenhar os objetos que vão ser impressos. O outro é para coordenar o funcionamento da impressora no computador — nos equipamentos da Metamáquina, esse é um software livre. Moura e seus sócios escolheram um programa que já existia de graça na internet e fizeram as modificações que julgaram necessárias.

“É um software escrito por centenas de programadores em colaboração, inclusive nós”, afirma Moura. Uma das mudanças foi incluir no menu do programa um botão para imprimir uma peça de teste. “Dessa forma, o cliente pode verificar se o equipamento está funcionando direito.”

A versão do software mudada pela Metamáquina, por sua vez, está disponível sem restrições no site da empresa e pode ser usada à vontade por qualquer pessoa ou empresa — até pelos concorrentes.

É o caso da americana Aleph Objects, que usou os mesmos códigos que a Metamáquina para aperfeiçoar suas impressoras 3D vendidas em vários países, incluindo o Brasil.


“É ótimo aproveitar o conhecimento de outros empreendedores que provavelmente nunca vou conhecer pessoalmente”, diz Jeff Moe, sócio da Aleph Objects. O que o pessoal da Metamáquina acha disso? Concorrência desleal? “Que nada”, diz Moura. “Em parceria, nosso mercado nunca deixa de evoluir.”

Outras possibilidades

Além de aperfeiçoar produtos com a ajuda da concorrência, a cocriação tem sido usada por pequenas e médias empresas para envolver os clientes no desenvolvimento de novos produtos.

“Em grandes empresas, é comum definir lançamentos com base em incontáveis reuniões sonolentas, pesquisas de mercado e estudos do departamento de P&D”, afirma Cassio Spina, diretor da Anjos do Brasil, associação que reúne investidores em empresas nascentes. “É um processo caro e demorado.”

A fabricante americana de barrinhas de cereais Element Bars, por exemplo, usa a cocriação para descobrir novos sabores desejados pelos clientes. Num site, os consumidores brincam de montar sua própria barrinha arrastando ingredientes com o mouse, como frutas e tipos de cereal.­ As combinações mais frequentes viram produtos testados nas prateleiras.

O que é crowdfunding

É a palavra em inglês que define financiamento coletivo — várias pessoas e empresas contribuem com pequenas quantias em dinheiro para realizar uma ideia. O capital é obtido por meio de sites que fazem a intermediação entre o dono do projeto e os interessados em financiá-lo.

“O sistema de crowdfunding abre oportunidade para qualquer empreendedor com uma boa ideia captar recursos sem ter de pedir dinheiro emprestado no banco ou procurar investidores”, diz Diego Reeberg, sócio do Catarse, um dos maiores sites de crowdfunding do Brasil.


A vantagem sobre os métodos tradicionais é que não existe cobrança de juros nem necessidade de abrir mão de uma parte do negócio em troca do dinheiro.

Quem contribui recebe algum tipo de recompensa. Pode ser o investimento de volta — caso o projeto obtenha retorno financeiro — ou o acesso em primeira mão ao serviço ou produto que está ajudando a financiar.

Pela própria natureza, as plataformas de financiamento coletivo em alguns casos funcionam como um rápido e eficiente teste inicial. “Geralmente, ao lançar a campanha de um projeto, o dinheiro só é entregue ao criador se a meta de financiamento é atingida em determinado tempo”, diz Caio Ciampolini, sócio da plataforma de crowdfunding Startando.

“Além de ajuda financeira, o empreendedor tem a oportunidade de receber avaliações críticas e criar uma comunidade de potenciais clientes que já deram uma declaração explícita de interesse pela empresa.”

Os sites de financiamento coletivo começaram a se popularizar em 2009, quando a plataforma americana Kickstarter foi lançada. Estima-se que em 2013 todas as plataformas de crowdfunding no mundo tenham movimentado 5 bilhões de dólares — o dobro do ano anterior, segundo a consultoria americana Massolution.

No Brasil, uma pesquisa recente do Catarse aponta que 32% dos projetos de crowd­funding são de donos de pequenas empresas que querem lançar novos produtos e serviços ou viabilizar algum investimento na expansão do negócio.

Exemplo

Há quase três anos, Carolina Piccin, de 35 anos, sócia da consultoria ambiental paulistana MateriaBrasil, decidiu diversificar as receitas. A empresa faz análises do ciclo de vida de produtos e pesquisa fornecedores de material sustentável para grandes clientes, como Embraer, Bunge e Good­year.

“Queria aproveitar tudo que já sabía­mos para começar a vender produtos ecológicos com nossa marca”, diz Carolina. “O risco era alto, porque não tínhamos expe­riência com fabricação, e os produtos poderiam não ser aceitos pelo mercado.”

Ao conhecer o Catarse, plataforma de financiamento coletivo que havia acabado de ser lançada no Brasil, Carolina percebeu que essa seria uma boa maneira de testar a receptividade de possíveis compradores. O primeiro projeto colocado no ar foi de um porta-laptop feito de acrílico reciclado e madeira certificada. Em pouco mais de dois meses, a MateriaBrasil foi ajudada por 248 pessoas e empresas. 


A empresa ofereceu prêmios para quem contribuiu com 10, 50 e 120 reais. Quem ajudou com 10 reais teve o nome impresso na embalagem do produto. Quem deu 50 reais também ganhou uma camiseta. Os que contribuíram com 120 reais receberam o próprio porta-laptop. Um dos financiadores foi o economista paulistano Oswaldo Oliveira, de 49 anos.

“Sou entusiasta do tema sustentabilidade e achei que a iniciativa merecia meu apoio”, diz Oliveira. “Já colaborei com mais de 20 projetos do Brasil e de fora.”

A experiência foi positiva, o que incentivou a MateriaBrasil a criar um segundo projeto no Catarse no ano passado — um portal que reúne informações sobre fornecedores de material de construção com atestado de baixo impacto ambiental. “­Arrecadamos 33 000 reais, e o banco de dados já pode ser consultado gratuitamente na internet”, afirma Carolina.

Recentemente, a MateriaBrasil se juntou a outras empresas que trabalham com sustentabilidade para desenvolver produtos e serviços em conjunto, como a paulistana Arquitetura da Terra, que desenvolve projetos de construção ecológica. “Estamos adaptando nosso escritório para se transformar num coworking e então trazermos esses parceiros para trabalhar aqui”, afirma Carolina.

Outras possibilidades

O crowdfunding pode ajudar quem precisa começar um negócio do zero. Uma empresa brasileira que nasceu com financiamento coletivo é a loja virtual de sapatilhas Ballerini, de São Paulo, fundada no fim de 2013. “Conseguimos 20 000 reais de investimento inicial com a ajuda de 80 pessoas e empresas reunidas numa plataforma de crowdfunding”, afirma Cin­tia Tominaga, de 32 anos, sócia da Ballerini.

Clientes da capital paulista acessam, por meio do site da Ballerini, um sistema de prova em domicílio. Os interessados escolhem nove modelos de sapatilhas, que são recebidas em casa. Alguns dias depois, a transportadora volta para buscá-las. “Mais de 90% das consumidoras acabam comprando até três sapatilhas”, diz Cintia.

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