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O Sul, terra da inovação para o agronegócio

Onde estão as oportunidades de crescimento para fornecer tecnologias que aumentem a produtividade na região

Iomani Engelmann e Fernando Peixoto, sócios da Pixeon, empresa que desenvolve softwares para exames médicos por imagem (Eduardo Zappia)

Iomani Engelmann e Fernando Peixoto, sócios da Pixeon, empresa que desenvolve softwares para exames médicos por imagem (Eduardo Zappia)

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Da Redação

Publicado em 1 de março de 2011 às 08h00.

Não é difícil encontrar nas pequenas ruas de Treze Tílias, uma cidadezinha de 5 000 habitantes encravada no meio-oeste catarinense, algum bar onde senhores de bochechas rosadas e cabelos grisalhos divertem-se tomando cerveja artesanal enquanto batem papo num idioma diferente do português. De um lado, alguns falam uma mistura de alemão com austríaco típica da região do Tirol, de onde vieram os fundadores da cidade, oito décadas atrás.

 Um pouco adiante, outro grupo conversa num dialeto muito próximo ao falado na região do Vêneto, na Itália. A colonização europeia de Treze Tílias fica ainda mais evidente quando se visitam os castelinhos de arquitetura tirolesa ou se almoça um prato de massa acompanhado de uma taça de vinho caseiro num dos restaurantes das pequenas pousadas familiares da cidade. 

A mistura entre culturas que é celebrada em Treze Tílias a cada festa popular se repete em praticamente todo o Sul, uma região cuja colonização não trouxe apenas os costumes culturais do Velho Continente — mas também ajudou a estabelecer um dos pilares da economia dessa região, o agronegócio. Povoado por grupos de imigrantes que encontraram no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul as condições de clima mais parecidas com as de seus países de origem, o Sul se beneficiou dessa força de trabalho e se tornou uma grande fronteira agrícola com forte participação no cenário nacional. Eis alguns números do IBGE que demonstram essa posição:

• O Sul foi responsável por 31% do leite produzido no Brasil em 2010 — e a indústria local de laticínios deve crescer 30% nos próximos três anos.

• 44% da carne produzida pelo país em 2010 veio de estados da Região Sul. 

• Embora represente menos de 7% do território brasileiro, a Região Sul foi responsável por 43% da produção nacional de grãos na safra colhida em 2010.


Por trás dos números exuberantes que o Sul apresenta no campo, existe um desafio para as pequenas e médias empresas que atuam nas cadeias produtivas ligadas ao agronegócio: até onde é possível encontrar espaço para crescer numa região que já apresenta ótimos  indicadores? Atualmente, o cenário é bastante diferente daquele que foi encontrado pelos imigrantes europeus no começo do século 20, quando havia terra barata e em abundância.

Nos últimos três anos, o preço médio do hectare na Região Sul subiu 51%, de acordo com um levantamento da AgraFNP, consultoria paulista especializada em agronegócio. E as condições para dar grandes saltos de produtividade no campo, como os que foram registrados na década de 80, também já não são mais tão favoráveis — a qualidade e a fertilidade do solo sulista sempre foram ótimas e o grau de mecanização da lavoura há tempos está entre os mais altos do país. “Com exceção das culturas que passam por algum melhoramento genético, os níveis de  produtividade se mantiveram praticamente constantes nos últimos dez anos”, afirma Jaqueline Bierhals, analista da AgraFNP.

Para as pequenas e médias empresas do Sul, a boa notícia é que há muito espaço para crescer fornecendo equipamentos e serviços que injetem novas tecnologias capazes de ajudar as cadeias de suprimentos do agronegócio a produzir mais com os mesmos recursos. É nesse contexto que a Sulinox, da cidade de Alvorada, na Grande Porto Alegre, vem expandindo seus negócios rapidamente. A Sulinox fabrica ordenhadeiras mecânicas e tanques de refrigeração para pequenos produtores de leite. Em 2010, o faturamento da empresa ficou em 28 milhões de reais — aproximadamente 20% acima do ano anterior.

Muitos dos clientes do mercado-alvo da Sulinox, fundada em 1999 pelo empreendedor gaúcho Leandro Einsfeld, de 44 anos, precisam acordar antes de o sol nascer para ordenhar as vacas e colocar o leite em galões, que depois são levados para os laticínios. “Para melhorar os resultados, esses produtores precisam se modernizar”, diz Einsfeld. Na verdade, para se manter competitivos no mercado os produtores não têm alternativa. “A automatização da pecuária leiteira está se tornando obrigatória para aumentar a produção e para cumprir os padrões  sanitários, que ficarm cada vez mais rígidos com o passar dos anos”, diz Carlos Paiva, professor da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul.


Ao colocar no mercado um maquinário totalmente produzidono Brasil, Einsfeld  pode cobrar preços até 20% menores que os das multinacionais. “Fabricamos máquinas acessíveis a produtores de pequeno porte”, diz Einsfeld. “Dois terços do faturamento da Sulinox agora vêm de propriedades com menos de 30 vacas leiteiras, que antes eram pouco ou nada automatizadas.” O restante vem da venda de equipamentos de maior porte, fabricados por multinacionais e revendidos pela Sulinox.

Para continuar expandindo no mercado de pequenos produtores de leite, Einsfeld recentemente aprimorou a equipe comercial. Agora, em vez de contar apenas com vendedores comuns, a equipe da Sulinox tem 18 profissionais de vendas com formação em agronomia, veterinária ou zootecnia. “Muitos produtores ficam inseguros de passar de um processo manual para outro mecanizado de uma hora para outra”, diz Einsfeld. “Com profissionais  mais bem preparados é possível dar todas as explicações de que eles necessitam.” Einsfeld acha que está dando certo e que as vendas começaram a ser fechadas com mais facilidade depois da contratação de gente talentosa — uma característica que alguns especialistas em recursos humanos costumam apontar como um ponto forte da região.

A demanda constante por inovações tecnológicas, sem as quais não seria possível obter os aumentos de produtividade de que o Sul precisa, criou um ambiente propício à formação de gente boa. Num primeiro momento, muitos desses talentos vieram de  outros estados — eram executivos cansados do estresse e dos congestionamentos de  grandes cidades, como São Paulo e Rio, que foram atraídos para cidades onde se dizia que a qualidade de vida era bem melhor, como Florianópolis ou Curitiba.


Para atender os jovens da região e  também os filhos desses forasteiros, mais e mais cursos foram criados nos estados da Região Sul. Vários deles têm qualidade bem acima  da média — como o de engenharia de controle e automação, da Universidade Federal de Santa Catarina, classificado com a nota máxima na última avaliação do MEC. No caso de Santa Catarina, juntaram-se em Florianópolis pequenas e médias empresas de TI e bons cursos de nível superior na  área. “A disputa por bons profissionais de tecnologia da informação é duríssima no país todo”, afirma Ernani Ferrari, consultor da Mondo Strategies, da cidade catarinense de Joinville. “Mas, como em Santa Catarina a oferta é um pouco maior, é possível contratar excelentes profissionais por um salário cerca de 20% menor do que no Sudeste.”

Essas vantagens têm sido aproveitadas por pequenas e médias empresas, como a Pixeon, de Florianópolis, especializada em sistemas  de digitalização de exames médicos. A Pixeon é uma das cerca de 1 500 desenvolvedoras de sofware instaladas em Santa Catarina,  estado que concentra 20% do total nacional de empresas desse tipo. O nicho foi ocupado por acaso em 2001 por Iomani  Engelmann, de 29 anos, formado em ciências da computação, e seu sócio, o engenheiro eletricista Fernando Peixoto, de 36 anos.

Na época, eles foram procurados por um médico de um hospital público da região, que havia adquirido um equipamento sofisticado para usar em cirurgias de crânio. “O problema é que o médico não tinha conseguido verba adicional para adquirir um sofware que ajudaria a planejar os detalhes das cirurgias”, diz Engelmann. Ele e Peixoto acabaram aceitando o trabalho — e do projeto surgiu a Pixeon, que em 2010 faturou 4 milhões de reais, 17% mais que no ano anterior.

Hoje, a especialidade da Pixeon é desenvolver novas tecnologias que dispensam o uso de filmes radiológicos, o que pode resultar em mais economia e proporcionar  vantagens técnicas, como dar zoom em pontos específicos do exame. Nos últimos sete anos, o  percentual de exames radiológicos digitalizados saltou de 3% para 18%  no país, e a expectativa dos sócios da Pixeon é que chegue a  50% em cinco anos. “Uma fatia desse bolo vai ser nossa”, afirma Engelmann.

Para aumentar rapidamente a  base de clientes, a empresa está se associando  a produtoras de sofwares de gestão hospitalar com a perspectiva de fazer vendas conjuntas. “Precisamos estar preparados para aproveitar esse mercado que está em ascensão”, afirma Engelmann. “E a Pixeon não poderia estar localizada numa região melhor para colocarmos em prática nosso plano de crescimento.” 

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