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Tekoha fatura com artesanato brasileiro

A empresa de brindes e presentes sustentáveis promove os produtos e o trabalho de comunidades espalhadas pelo país

Bolsas de capim-dourado vendidas pela empresa e produzidas na comunidade de Mumbuca, no Tocantins (Divulgação)

Bolsas de capim-dourado vendidas pela empresa e produzidas na comunidade de Mumbuca, no Tocantins (Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 20 de outubro de 2010 às 17h05.

São Paulo - A ideia de ser um intermediador entre o artesanato produzido em comunidades brasileiras e grandes empresas como Santander, Unilever, Natura e Correios foi do empreendedor Henrique Bussacos.

Depois de uma viagem a uma comunidade ribeirinha da Amazônia, ele percebeu que o maior entrave para esses grupos era a comercialização. "As comunidades têm grandes riquezas, que precisam ser 'traduzidas' para o mercado e o artesanato é uma delas", conta Henrique.

Com a experiência que teve em bancos, companhias e ONGs e o boom do e-commerce, ele resolveu levar os produtos da comunidade para o mundo e dar vida à Tekoha, em 2006.

O modelo em que a empresa funciona é chamado de negócios sociais. "São iniciativas rentáveis que contribuem para reduzir a pobreza. Você não precisa escolher entre ganhar dinheiro e mudar o mundo", explica Maure Pessanha, diretora do Centro de Formações em Negócios Sociais da Artemísia, que funciona como uma espécie de incubadora para esse tipo de empresa.

Para Henrique, a companhia de brindes "está realmente a serviço das pessoas". "Aos poucos percebemos que esse não era um negócio tradicional e que o objetivo era dar visibilidade para os produtos feitos pelas comunidades, lucro não era nosso objetivo final", acrescenta Andressa Trivelli, uma das quatro sócias da Tekoha.

Foco na preservação
Além da intermediação para a venda dos produtos, a empresa faz uma aplicação de conceitos mínimos de gestão e marketing, por exemplo, agregando um conceito para potencializar a venda. "Outra coisa é ver no mercado de brindes, grande parte vindo da Ásia, o que é moda e qual comunidade poderia fazer algo parecido, adaptar a moda ao artesanato", diz Andressa.

Hoje, 140 grupos fornecem 2000 produtos que são vendidos a grandes empresas como brindes para eventos ou presentes. A Cerâmica Capivara é uma delas. Com sede no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, a comunidade faz peças que exploram a pintura rupestre do parque e que podem ser usadas na alimentação e não só para decoração. São 40 pessoas trabalhando na produção de 3 mil peças por mês.

Parte do crescimento da comunidade foi impulsionada pela visibilidade que o produto ganhou. "A gente trabalha com as pessoas do entorno do parque e se elas têm serviço têm condições de preservar nossa região. A Tekoha fez o que era mais difícil para nós pelo lugar que moramos: colocar o produto no mercado", conta Girleide Maria de Oliveira, administradora da oficina.


"Quanto mais a gente cresce, mais gera renda para a comunidade", diz Andressa. Segundo ela, todos os grupos parceiros têm noção de gestão e formação de preço. "Nós pagamos quanto eles querem pelo produto. No preço da peça, normalmente, 50% vai para a comunidade, 30% para a Tekoha e 20% em transporte e imposto", explica.

Vendas
Com a parceria com o ArteSol, que promove o artesanato brasileiro, a empresa, de apenas cinco pessoas, pretende fechar o ano com faturamento de 500 mil reais, um crescimento de quase 300% em relação a 2009.

A empresa já exportou para Holanda, Portugal, Suíça, Polônia, Inglaterra e França. Por enquanto, estão "tateando, conhecendo, analisando e identificando o mercado", diz Andressa. Para isso, Henrique está na Inglaterra fazendo algumas pontes para exportação e um mestrado em desenvolvimento local no Institute of Development Studies, o IDS.

Negócios sociais
A Tekoha faz parte das empresas apoiadas pela Artemísia, que promove o conceito de negócios sociais e tem uma aceleradora. "Nós selecionamos e apoiamos empresas em estágio inicial", explica Mauren.

Há ainda projetos de viagens sustentáveis para regiões isoladas do Brasil, um banco de microcrédito para jovens e outros projetos de comércio justo. "É possível gerar um bem social e ser um negócio", conta Andressa.

No mundo, Índia, EUA e Bangladesh já têm um setor de negócios sociais mais organizado, muito por conta da legislação, que favoreceu esse cenário. Apesar disso, empreendimentos do tipo já são uma tendência muito forte e uma realidade para as novas gerações.

"No Brasil o cenário é promissor, pelo aumento do poder de consumo das classes populares, a estabilidade macroeconômica e a sofisticação dos setores social e empresarial. Mas, hoje, esse é um campo em construção, não tem ainda um número de negócios sociais", diz Mauren. Segundo ela, para que o setor evolua é preciso leis que regulem o tema, institutos de pesquisa e universidades que se interessem e pesquisem a área.

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