Francisco da Costa Junior, proprietário da Chico's Skates: estabelecimento especializada em fabricar pranchas de skate (Ricardo Matsukawa/Sebrae/SP)
Por Marcos Leodovico, do Jornal de Negócios do Sebrae-SP
Quando os skatistas brasileiros Kelvin Hoefler, Rayssa Leal e Pedro Barros conquistaram suas medalhas na Olimpíada de Tóquio, encerrada em agosto deste ano, não só serviram de inspiração para muita gente praticar o esporte, mas também impulsionaram os negócios desse segmento, que registraram alta na procura por equipamentos, acessórios, aulas e locais de prática ligados à modalidade.
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Incluído nos jogos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) para rejuvenescer o público e atrair mais audiência, o skate ganhou uma visibilidade inédita por aqui, acentuada pelo bom desempenho dos atletas do País. Prova disso está no aumento de 50% que as vendas de skate pela internet tiveram entre a semana da primeira conquista olímpica brasileira, de 25 a 31 julho, e a anterior, segundo a consultoria Neotrust, efeito que, mesmo cinco meses após a competição, ainda é percebido no mercado.
“O êxito de atletas brasileiros puxou o interesse da população, principalmente de crianças, o que motiva pedidos de skate como presente. Mesmo que a maior parte dessas crianças perca o interesse com o tempo, algumas levarão a atividade para o resto da vida”, afirma o consultor do Sebrae-SP Guilherme Amato.
O maior interesse do brasileiro pelo esporte também ficou nítido no Google. A procura relacionada a skate aumentou 1.150% nos dias seguintes às conquistas dos brasileiros na Olimpíada. Isso fez do Brasil o país com mais buscas pelo assunto no período.
Seja de forma temporária ou permanente os novos skatistas vêm para engrossar um mercado que conta com mais de oito milhões de praticantes no Brasil, segundo a Confederação Brasileira de Skate (CBSK), e movimenta cerca de R$ 1 bilhão por ano em venda de roupas e acessórios, de acordo com pesquisa realizada pela Sports Good Intelligence (SGI) em parceria com a Adventure Sports Fair (ASF) e a promotora alemã de eventos esportivos ISPO.
O segmento, que já vinha com bom desempenho comercial, tem passado bem pela pandemia, uma vez que nesse período a prática de esportes individuais e ao ar livre ganhou força diante dos coletivos e em lugares fechados.
Além disso, o aumento da popularidade ajuda a derrubar o preconceito ainda remanescente sobre o esporte, que chegou a ser proibido na cidade de São Paulo nos anos 1980, só para citar um exemplo de discriminação.
Francisco Rodrigues, dono da marca de skate Chico’s, concorda que a Olimpíada foi um forte incentivo para a modalidade. Ele confirma o aumento do movimento na sua loja em Santo André, com mais interessados nos seus produtos. “Temos que exaltar o que a Rayssa Leal e os outros atletas fizeram nos Jogos Olímpicos. Foi nesse momento que todos voltaram os olhares para o esporte e viram a grandeza que o skate tem para todos os públicos”, diz.
Ele também concorda que a visibilidade da competição ajuda a reduzir o preconceito, tanto com relação a quem pratica quanto com quem trabalha com o segmento. “Poucas pessoas tinham coragem de trabalhar ou falar que eram skatistas. O que ajudou bastante foi o fato de o País ser um celeiro de grandes talentos no esporte”, afirma Rodrigues, que tem as pranchas de surf como modelo para os shapes dos skates que produz.
Rodrigues conta que desde muito novo gostava de trabalhar por conta própria e tentou empreender em vários ramos, mas foi no skate que se encontrou. O empreendedor começou a trabalhar com a fabricação de skates em 2013, quando ainda atuava na área de eventos. “Vi no empreendedorismo uma forma de realizar os meus sonhos e, como sempre gostei de skate, foi a forma que achei de me conectar e levar um propósito para outras pessoas”, explica.
Apesar do crescimento na procura por skates e acessórios, algumas lojas ainda precisam melhorar na parte estrutural e na identidade a ser passada para o público, segundo o consultor do Sebrae-SP Guilherme Amato.
Ele ressalta a importância ter bons produtos para comercialização, mas principalmente se preocupar com os detalhes na hora em que o cliente faz a compra. “Há muitos skateshops espalhados pelo País, porém a maioria tem um alcance regional e pouca margem para trabalhar. Uma ótima oportunidade é oferecer equipamentos de qualidade, sejam nacionais ou importados, para mostrar que há respeito com o que é entregue ao cliente”, afirma.
O medalhista olímpico Pedro Barros está dos dois lados do balcão. Enquanto acumula vitórias no esporte, vê seus negócios ligados ao skate prosperarem. Em 2012, ele e o pai criaram a marca LayBack com o objetivo de representar o estilo de vida de quem passa boa parte do tempo sobre um shape com rodinhas.
Tudo começou com a LayBack Beer, uma cerveja artesanal nascida em Florianópolis (SC). Atualmente, a marca inclui o LayBack Park, que reúne pista de skate, cerveja e gastronomia no mesmo lugar, com franquias em São Paulo, Florianópolis, Belo Horizonte, Criciúma e Brasília, somando 12 unidades. No último ano, a empresa viu seu faturamento crescer 500%.
Este ano, Barros lançou a marca de shapes para skate Privé. As peças são feitas sob encomenda ou de acordo com a vontade e necessidade dele. Ele mesmo produz cada shape, fugindo assim do processo industrial.
O skate pode ser considerado um nicho de mercado, ou seja, um recorte do mercado com um público específico, necessidades e interesses bem particulares. Empreender dentro desse modelo requer vários pontos de atenção.
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