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Startup surfa na onda de carros para 99 e Uber e recebe US$ 10,6 milhões

A Kovi, de ex-funcionários do app de mobilidade urbana 99, projeta quase quadruplicar número de motoristas que alugam pela plataforma até o fim de 2019

Adhemar Neto e João Costa, da Kovi: startup expande junto a trabalhadores com menor renda e sem automóveis próprios que passaram a alugar carros para obter uma renda extra por apps (Kovi/Divulgação)

Adhemar Neto e João Costa, da Kovi: startup expande junto a trabalhadores com menor renda e sem automóveis próprios que passaram a alugar carros para obter uma renda extra por apps (Kovi/Divulgação)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 30 de julho de 2019 às 06h00.

Última atualização em 30 de julho de 2019 às 15h21.

O Brasil é um mercado quente para a mobilidade urbana -- apenas falando da gigante do transporte Uber, são centenas de milhares de motoristas cadastrados e São Paulo é uma das cidades mais importantes para a empresa. Nem só as grandes ganham com o setor, porém. 

A startup Kovi, de aluguel e gestão de frotas aos motoristas de aplicativos de mobilidade urbana, captou uma rodada semente nada usual: 10,6 milhões de dólares. Criada em novembro de 2018, a Kovi tem 1,4 mil motoristas de aplicativo em sua plataforma. Com os novos recursos, o negócio espera chegar a mais de 5 mil usuários até o final deste ano.

99, Cabify e Uber: oportunidade de mercado

A Kovi foi criada pelos empreendedores Adhemar Neto e João Costa, respectivamente gestores de expansão e de produto do aplicativo brasileiro de mobilidade urbana 99, ao perceberem um problema de atendimento aos motoristas -- especialmente aos que alugavam carros para trabalhar pelo app. 

“Vimos que muitos deles sentiam a necessidade de uma melhor gestão de sua atividade, o que começa no preço, variedade e volume ideais por parte das locadoras de frotas veiculares”, diz Neto.

Segundo o agora presidente da Kovi, os motoristas de aplicativo começaram usando seus próprios veículos nos aplicativos de mobilidade urbana 99, Cabify e Uber. Durante os anos de recessão econômica, trabalhadores com menor renda e sem automóveis próprios passaram a alugar carros para obter uma renda extra pelos mesmos apps.

Surgiu uma oportunidade para locadoras, como as grandes Localiza (que viu seu lucro crescer 20% no primeiro trimestre deste ano e não considera baixar preços por enquanto) e Movida (que recente movimentou cerca de 830 milhões de reais em uma oferta de ações). Elas realizam o aluguel e depois revendem os automóveis como seminovos.

Mesmo com a atuação de gigantes, a Kovi busca crescer focando no nicho dos motoristas de aplicativo, sem equilibrar o atendimento B2C (direto ao consumidor final) com o B2B (para empresas). Apenas a Uber tem cerca de 600 mil motoristas brasileiros cadastrados. 

Como funciona a Kovi? 

Os veículos na plataforma da Kovi são fornecidos pelas próprias montadoras e locadoras grandes com frentes sólidas de aluguel corporativo, como as próprias Localiza e Movida. Elas conseguem negociar preços atrativos por conta de seu volume, enquanto a Kovi se preocupa com a gestão dessas frotas até sua eventual revenda como veículos seminovos.

A startup oferece ao motorista de aplicativo a possibilidade de pagar a locação por boleto, hoje a preferência de 95% dos seus clientes. Também possui um modelo de locação renovada semanalmente como forma de congelar uma parcela menor do caixa do motorista, no lugar da locação com adiantamento mensal.

Os carros mais alugados são hatches e sedans populares, como Ford Ka, Fiat Siena, Chevrolet Prisma e Volkswagen Voyage. “Incentivamos os sedans porque eles aumentam a renda do motorista, seja pelo conforto proporcionado ao passageiro quanto por permitir acesso a categorias mais luxuosas, como o Uber Select”, diz Neto.

Após o pagamento, a Kovi repassa os automóveis aos motoristas de aplicativo e ajuda na gestão de suas atividades por seu aplicativo. O app funciona de forma similar à aplicação de controle de gastos GuiaBolso, mostrando comportamentos de direção e maneiras de economizar no combustível.

“Buscamos oferecer o carro como serviço, e não como ativo. Também temos a proposta de aumentar a renda do motorista, desde permitir um acesso barato ao veículo até acompanhar seu consumo”, afirma o presidente da Kovi.

É possível baixar a aplicação sem alugar um carro pela startup, o que faz o app funcionar como uma estratégia de aquisição de novos clientes. Além do esforço de fidelização, o aplicativo da Kovi gera dados anonimizados fundamentais para análise de crédito e de risco de furto.

“Usamos essas informações para identificar possíveis fraudes antes, durante e depois da locação de um veículo”, afirma Neto.

Segundo cálculos da própria Kovi, usar os serviços da startup é 20% mais econômico do que comprar um carro próprio ao se tornar motorista de aplicativo. A conta leva em consideração depreciação, juros de financiamento e contratação de seguro, por exemplo. 

O tempo médio de permanência do motorista na plataforma é de 10 meses e o custo médio de aluguel é de 369 reais por semana. Em relação às locadoras, o diferencial está menos no preço e mais na conveniência do pagamento e nos serviços associados.

Investimento e expansão

No começo do ano, a Kovi passou por um processo de aceleração na Y Combinator. A aceleradora é uma das mais conhecidas no Vale do Silício (Estados Unidos) e startups que se tornaram gigantes, como o marketplace de aluguel de moradias Airbnb e o meio de pagamentos Stripe, participaram de seu processo. Juntando o investimento da aceleradora e de investidores anjo, a Kovi captou 400 mil dólares em sua primeira rodada de capital externo. 

Agora, a startup fechou uma rodada semente de 10,6 milhões de dólares dos fundos Maya Capital (investidora nas startups Em Casa, Gupy e The Not Company) e Monashees (99, Loggi e Yellow), além do investidor Kevin Efrusy, do fundo Accel (Facebook, Dropbox e Spotify).

O valor é superior ao tradicionalmente visto em aportes sementes em startups, o que Neto afirma ser comum em negócios inovadores em mobilidade urbana. A startup brasileira de bicicletas e patinetes elétricas Yellow, por exemplo, levantou um investimento semente de 9 milhões de dólares em abril de 2018, também com participação da Monashees.

O objetivo é expandir o negócio e melhorar a business unit economics da startup (custos e receitas por unidade comercializada). A Kovi tem 1,4 mil motoristas cadastrados em sua plataforma. Até o final do ano, espera ultrapassar a marca de 5 mil motoristas. O faturamento deve acompanhar essa proporção de crescimento e não é divulgado.

O aumento de uso deve acompanhar o investimento no próprio aplicativo e na equipe. A Kovi tem 60 funcionários e espera dobrar seus membros até a virada para 2020. 

A startup dos ex-funcionários da 99 une potencial de mercado, diferencial de tecnologia e investimentos de peso. Quem dará a palavra final para cumprir suas metas de expansão serão as avaliações dos crescentes motoristas de aplicativo.

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