Delber Lage, presidente da SalaryFits: expectativa é fazer nova rodada de investimento daqui a 18 a 24 meses (Level 39/UK/Divulgação)
Natália Flach
Publicado em 18 de novembro de 2019 às 08h00.
Última atualização em 18 de novembro de 2019 às 09h00.
São Paulo - Com ajuda da tecnologia, a startup SalaryFits pretende impulsionar uma prática muito comum em mercearias do interior do país: o famoso fiado, também chamado de pendura em algumas regiões. Para isso, a companhia está fechando parcerias tanto com cadeias de supermercados e de farmácias quanto com empresas que tenham grande número de funcionários.
Uma vez que todos esses agentes estejam conectados à plataforma da SalaryFits, os funcionários das companhias participantes que não tiverem dinheiro para pagar uma despesa excepcional no fim do mês poderão ter esse valor descontado do seu próximo contracheque (ou holerite), sem ter de desembolsar mais por isso. A engrenagem se parece com a de um crédito consignado, com a diferença de que não há cobrança de taxa de juros.
"Detectamos que 84% das pessoas com contas em atraso se endividavam por causa de uma despesa inesperada. A solução que criamos foi antecipar parte do salário sem que houvesse a incidência de juros. A ideia é atender principalmente a população de baixa renda", afirma Delber Lage, presidente da SalaryFits.
Na prática, vai funcionar assim: ao fazer uma compra em um estabelecimento comercial participante, o funcionário de uma empresa conveniada usa o aplicativo SalaryPay - que já está disponível no Google Play e na Apple Store - para ler o código QR (ou QR Code). Naquele mesmo instante, a despesa será informada à empregadora que vai descontar esse valor do próximo contracheque do empregado. Tudo é feito em segundos, inclusive, a análise de quanto o funcionário pode gastar sem comprometer demais a sua renda.
Portanto, a iniciativa é boa para todas as partes da cadeia: para o empregado que não precisa recorrer a empréstimos, para a empresa que não tem de se preocupar com o bem-estar financeiro de seus colaboradores e para o comércio que deve ver um incremento de suas vendas. "A expectativa é que o supermercado e a farmácia acabem dando desconto para esses consumidores, afinal, 'o risco de crédito' acaba sendo da companhia", explica Lage.
O projeto-piloto com 20.000 usuários foi concluído com sucesso e agora a startup, que deve faturar 100 milhões de reais neste ano, está apresentando a iniciativa para a lista de 350 clientes, que inclui Embraer, Mitsubishi, Coca-Cola, Nestlé, Peugeot Citroen e Azul Linhas Aéreas, além da Prefeitura de Belo Horizonte, da Marinha e da Aeronáutica. "Esperamos dar tração para o projeto no primeiro trimestre de 2020. É um negócio com propósito social", acrescenta Lage.
Para ter uma carteira de clientes como essa, é claro que a história da SalaryFits não começou ontem. A companhia, que provê infraestrutura tecnológica e promove inclusão financeira a partir do desconto de itens como previdência privada, consórcio, plano de saúde seguro e produtos de investimento em folha de pagamento, tem uma história de 18 anos. É a divisão internacional (spin off, no termo em inglês) da fintech Zetra, que faz exatamente a mesma coisa só que no Brasil.
Atualmente, o grupo gerencia 4,5 milhões de deduções em folhas de pagamento, o que, em valores monetários, representa cerca de 70 bilhões de reais a serem pagos na plataforma.
O modelo de receita da SalaryFits é simples. A startup ganha uma taxa (fee) toda vez que a loja, gestora, seguradora, banco etc. recebe uma cobrança descontada da folha de pagamento do funcionário. Se o pagamento não é feito, a Salaryfits não recebe pelo serviço.
O pioneirismo chamou a atenção da gestora de venture capital Confrapar, que possui mais de 400 milhões de reais sob administração. O fundo acaba de fazer um aporte de 20 milhões de reais na SalaryFits que serão usados para acelerar a expansão internacional para os Estados Unidos e para a Colômbia. Hoje a companhia já atua em seis países, como Itália, Reino Unido e Portugal.
"Esperamos fazer uma rodada maior de investimentos daqui a 18 a 24 meses", diz o executivo, cujo foco no ano que vem será levar as soluções para pequenas e médias empresas. "A nossa expectativa é crescer 40% em 2020."