Guilherme Hashioka, Lucas Baraças e Laura Castro, fundadores da Vigilantes do Sono: a empresa usa técnicas de terapia cognitiva-comportamental para melhorar a insônia (Vigilantes do Sono/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 25 de fevereiro de 2021 às 11h57.
Última atualização em 25 de fevereiro de 2021 às 14h49.
Os problemas para dormir atrapalham a rotina de mais de 70 milhões de brasileiros e, infelizmente, ainda não há uma formula mágica que ajude a resolver a insônia. Os tratamentos mais comuns hoje incluem uma combinação de terapia, mudança de hábitos e remédios. Mas uma startup brasileira fundada em 2020 propõe uma nova saída: um programa digital que ajuda os usuários a seguir as técnicas recomendadas pela terapia cognitiva-comportamental.
A empresa, chamada Vigilantes do Sono, foi fundada pelos engenheiros de computação Lucas Baraças e Guilherme Hashioka e pela psicóloga Laura Castro. Com pouco mais de um ano de atuação, a tecnologia criada pelo trio atingiu resultados significativos: pelo menos 50% dos usuários que seguem o programa pegam no sono mais rápido e 60% deles acordam menos durante a noite.
Esses números fizeram a empresa de desenvolvimento de aplicativos Taqtile, antiga empregadora de Baraças e Hashioka, investir 1,1 milhão de reais no negócio neste mês de fevereiro. Com o aporte, a startup pôde reforçar seu time de tecnologia e, nesta quinta-feira, 25, lança um aplicativo próprio. Até então, o programa rodava no app Messenger, do Facebook.
O programa da Vigilantes do Sono ajuda o paciente a ensinar ao próprio corpo quando é hora de dormir. Para isso, ele recomenda que os usuários criem horários fixos para ir dormir e acordar, parem de fazer sonecas ao longo do dia e diminuam o tempo que ficam acordados na cama. Esse condicionamento, aliado com a privação do sono, ajuda o corpo a voltar a um ritmo saudável.
Todas essas ferramentas são recomendadas pela psicologia. O diferencial da startup é embalar essas técnicas em um programa que acompanha os pacientes diariamente. Segundo a companhia, é esse monitoramento diário do sono, feito com a ajuda de uma inteligência artificial, que traz os bons resultados.
“Por cerca de dez minutos por dia, nossa assistente virtual, a Sônia, conversa com os usuários, entende os hábitos deles, e dá dicas do que eles podem mudar para melhorar a noite de sono”, diz Baraças, fundador e presidente da startup.
De acordo com o empreendedor, é isso que diferencia a Vigilantes do Sono de seus principais concorrentes, como o aplicativo americano Sleepio, fundado em 2012, e que já recebeu mais de 40 milhões de dólares em aportes.
A empresa abriu sua tecnologia ao público em janeiro de 2020. Nos primeiros seis meses, para validar o projeto, o acompanhamento era gratuito e atendeu mais de 20.000 pessoas. A partir de agosto, os sócios começaram a fazer testes para entender qual seria a melhor forma de cobrar pelo produto.
Hoje, há quatro modelos sendo testados. No primeiro, o paciente que sofre com insônia pode desembolsar 150 reais por ano para acessar o programa. Em outra frente, a startup cobra dos médicos uma mensalidade para que eles possam oferecer o aplicativo como tratamento complementar a seus pacientes — hoje, 20 médicos assinam o serviço.
A empresa também oferece o seu aplicativo para a indústria farmacêutica. A ideia é que usuários de determinados medicamentos controlados para dormir possam usar o programa da Vigilantes do Sono como ferramenta complementar. Por enquanto, a empresa não fechou nenhum contrato, mas está em fase de negociação com algumas indústrias.
A grande aposta da companhia, no entanto, está na venda para empresas privadas. Em modelo semelhante ao Gympass, a startup quer vender seus serviços como um benefício corporativo. A tese dos sócios é de que empregados que dormem melhor faltam menos ao trabalho e têm desempenho superior. “Estamos seguindo duas direções, indo direto aos RHs e falando com intermediários, como a Porto Seguro e o Fleury”, diz o presidente. Hoje, 12 empresas assinam o programa.
Para Baraças, o principal desafio da empresa em 2021 é entender qual desses modelos vai ser o mais interessante para o negócio. “Sabemos que temos bons resultados melhorando o sono, mas precisamos descobrir se conseguimos de fato ajudar as empresas com as suas demandas”, diz.
Até dezembro, os sócios projetam faturamento de 300.000 reais, que será suficiente para manter o time de sete funcionários e contratar mais cinco pessoas para as áreas de tecnologia e vendas. “Nossa principal meta é ter sustentabilidade financeira. Temos uma visão de ser uma startup mais camelo do que unicórnio” afirma o fundador.