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Startup põe Coca-Cola e Bacio di Latte no Apple Business Chat e WhatsApp

A mineira Take foi criada há 20 anos e passou pela moda dos toques musicais no celular, do SMS e apostou que a próxima seria a de conteúdo multimídia

Sorvetes da Bacio di Latte: Apple Business Chat reduzir pela metade fila nas lojas físicas (Foto/Divulgação)

Sorvetes da Bacio di Latte: Apple Business Chat reduzir pela metade fila nas lojas físicas (Foto/Divulgação)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 30 de setembro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 30 de setembro de 2019 às 06h01.

Mesmo negócios com vários anos de tradição precisam acompanhar as mudanças tecnológicas e adaptar sua forma de atuação -- às vezes, matando sua própria empresa. A startup mineira Take, criada há 20 anos, tomou a atitude diversas vezes.

A provedora de soluções para celulares passou pela moda dos toques musicais, do SMS e apostou há cinco anos que a próxima tendência seria a do conteúdo multimídia. “Tivemos a visão de que aplicativos como o WhatsApp iriam se tornar o canal de comunicação entre empresas e clientes”, afirma o presidente Roberto Oliveira. Hoje, a Take ajuda empresas a se tornarem um “contato inteligente” no WhatsApp e no Apple Business Chat.

A startup mineira é provedora e gestora desses serviços de mensagem para 220 empresas. O empreendimento está na lista de As Pequenas e Médias Empresas Que Mais Crescem deste ano. O ranking, elaborado pela consultoria Deloitte em parceria com EXAME, elenca 100 companhias com receita líquida entre 10 milhões e 800 milhões de reais e em operação há pelo menos quatro anos.

A Take apresentou um crescimento médio de 18,6% entre 2016 e 2018. No último ano, o faturamento foi de 48,4 milhões de reais. Para o próximo ano, projeta dobrar seu tamanho.

 

Do ringtone ao WhatsApp e Apple Business Chat

Oliveira remonta a origem da Take a uma loja de conserto de celulares, fundada em Belo Horizonte no ano de 1997. “Acompanhamos a revolução no mercado de telefonia, que foi de estatal para privado [privatização da Telebrás, em 1998]. As operadoras precisavam oferecer assistência técnica e suporte pulverizado -- e nossa loja explodiu em atendimentos”. 

Oliveira chegou a ter dez lojas de assistência técnica autorizada, com 20 mil telefones consertados por mês, e se aproximou de fabricantes como Nokia e operadoras como Telemig. A expectativa com o uso da internet nos celulares era grande. As lojas de conserto conviveram com um novo negócio de Oliveira. A Takenet, criada em 2001, era um diretório de sites mobile e uma vendedora de toques musicais. A nova empresa juntava a venda dos ringtones com a do celular 6120, da Nokia, que tinha suporte para diversos toques musicais. 

A Takenet vendia cerca de 250 mil de ringtones por dia e atraiu o interesse da japonesa de toques musicais Faith, que comprou a startup mineira em 2005. Logo, porém, os ringtones cederiam espaço ao formato MP3 e enfrentariam redução de margem pelo repasse às gravadoras. Em 2008, Oliveira decidiu recomprar a empresa por “10% do valor que havia vendido há três anos.”

“O faturamento caía, mas acreditava na equipe e na nossa cultura de sempre se transformar. Logo percebemos que havia uma oportunidade maior no SMS [serviço de mensagens instantâneas] do que nos ringtones”, diz Oliveira.

Roberto Oliveira, da Take

Roberto Oliveira, da Take (Take/Divulgação)

A Takenet, que mudou seu nome para apenas Take, lançou uma plataforma para aplicações do SMS, como notificações. Demorou, mas o resultado apareceu. O negócio cresceu 35% ao ano entre 2010 e 2013. Mas logo sentiu novamente uma queda no ritmo, crescendo 10% em 2014.

A Take apostava que a próxima onda era a de conteúdo multimídia -- espécie de SMS com fotos e vídeos -- e queria desenvolver um serviço próprio. Mas percebeu que a oportunidade era maior em aplicativos já existentes, como o WhatsApp.

“Pensávamos que logo as empresas se tornariam uma espécie de ‘contato inteligente’ no WhatsApp, fornecendo atendimento e vendas por lá. Seria a união do call center com uma interface mais digital e móvel. As pessoas querem conversar com um contato de celular, não com uma corporação”, diz Oliveira. 

Em 2015, a Take criou a plataforma de construção, gestão e evolução de chatbots de atendimento, engajamento e vendas BLiP. A empresa criou mais de 35 mil chatbots para mensageiros e tem uma ferramenta para operadores de call center, chamada BLiP Desk.

No ano passado, o WhatsApp criou a solução voltada a empresários WhatsApp Business e a Take se tornou provedora. A empresa ajuda outros negócios a usarem o aplicativo para atendimento, vendas e engajamento. A Take integra o mensageiro profissional com chatbots dotados de inteligência artificial, como o Watson (IBM), e com softwares de venda, como Salesforce.

Escritório da Take

Escritório da Take (Take/Divulgação)

A solução da Take é especialmente interessante nos empreendimentos de grande porte, com alto volume de mensagens. Empresas como Coca-Cola e Nextel usam o WhatsApp por meio da startup mineira. A monetização é através de tráfego na plataforma, com uma taxa de centavos cobrada por mensagem ou usuários únicos. Também vende serviços adicionais, nos quais a Take fica responsável pelo desenvolvimento do chatbot. Quanto mais profundas as conversas, melhor para a startup mineira.

Mesmo assim, as empresas menores também estão no WhatsApp. Segundo levantamento da plataforma gratuita de e-commerce Loja Integrada, 51% dos micros e pequenos lojistas virtuais usam o aplicativo como principal canal de atendimento. Cerca 61% dos lojistas virtuais usam o WhatsApp como canal de vendas e 34,1% para atendimento e dúvidas.

O WhatsApp Business levou a outros mensageiros. Recentemente, a Take se tornou provedora do Apple Business Chat, mensageiro exclusivo para celulares com o sistema operacional iOS e integrado ao meio de pagamento Apple Pay. Empresas como as sorveterias Bacio di Latte e a locadora de carros Localiza têm o mensageiro. 

O Bacio di Latte, por exemplo, reduziu seu tempo de espera em 50% nas lojas físicas usando o Apple Business Chat para otimizar as filas nas sorveterias. Os consumidores antecipam o pedido em um chatbot no iMessage, instalado em todos os iPhones. Fazem o pedido, escolhem a loja, pagam pelo Apple Pay e passam apenas para retirar o produto.

O Apple Business Chat da Bacio di Latte está operando com a loja da Avenida Paulista, em São Paulo. A expectativa é ampliar para todos os 140 pontos de venda até o final do ano. A base de WiFi das sorveterias tem mais de 75 mil pessoas cadastradas, e mais de 60% delas usam iOS. Mais de 80% do orçamento de marketing da rede é destinado ao digital, incluindo o uso de soluções da Take.

Apenas no último mês, a Take mediou 200 milhões de mensagens de sete milhões de usuários. A startup mineira fecha de 50 a 70 novos contratos por mês e projeta chegar a um ritmo de 100 contratos por mês no curto prazo. Estimando um mercado de cinco milhões de CNPJs com mais de uma pessoa no atendimento, Oliveira afirma que o ritmo de contratos pode chegar a 1.000 por mês no ano que vem. Em 2019, o negócio espera dobrar de tamanho. Em 2020, triplicar.

A Take também planeja expandir sua solução -- especialmente a criadora e gestora de chatbots BLiP -- para outros países da América Latina, Estados Unidos e Europa. A equipe, hoje de 250 funcionários em Belo Horizonte e São Paulo, recebe 30 funcionários novos mensalmente. E todos continuam à espera da próxima moda nos celulares.

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