Roberto Oliveira, presidente e cofundador da Take: com clientes como Coca-Cola e Itaú, plataforma da empresa transaciona mais de 1,5 bilhão de mensagens por mês (Take/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 7 de outubro de 2020 às 09h15.
Última atualização em 8 de outubro de 2020 às 15h55.
Aumentar a equipe de tecnologia, investir em desenvolvimento de produtos e organizar a expansão para fora do Brasil. É assim que a empresa de tecnologia mineira Take planeja investir o aporte de 100 milhões de dólares que acaba receber nesta quarta-feira, 7, da gestora americana Warburg Pincus. O cheque é o primeiro investimento externo recebido pela startup e é o maior já concedido a uma empresa brasileira em uma rodada de captação série A, de acordo com o Crunchbase.
A empresa não é nenhuma novata. Foi fundada em 1999 pelos empreendedores Roberto Oliveira, Daniel Costa e Marcelo Oliveira. O modelo de negócio foi mudando ao longo das décadas, desde a venda de toques musicais para celulares até o envio de mensagens em massa por SMS. Hoje a companhia oferece uma plataforma para que mais de 750 clientes possam se relacionar com seus consumidores digitalmente, seja por meio do WhatsApp, Facebook Messenger, Google RCS ou Apple Business Chat.
Entre as companhias clientes estão marcas como Itaú, Coca-Cola, Claro e Fiat. Pela plataforma Take Blip, essas empresas conseguem usar as redes sociais para engajar o cliente, fazer vendas e prestar atendimento. A Take integra o serviço de mensagens com chatbots — inteligências artificiais capazes de interagir com humanos — e até mesmo softwares de venda, como Salesforce.
A solução da Take é especialmente interessante para os empreendimentos de grande porte, já que a monetização é feita com base no volume de tráfego na plataforma. Uma taxa de centavos é cobrada por mensagem enviada ou pelo número de usuários únicos. Quando a startup é a responsável por desenvolver o chatbot, um valor extra é cobrado.
Durante a pandemia, quando milhares de empresas precisaram criar soluções para manter o contato com o consumidor remotamente, serviços como o da Take foram muito demandados. Segundo Oliveira, o negócio tem crescido consistentemente desde 2018 — quando o Facebook lançou o WhatsApp Business —, mas esse crescimento foi acelerado pela crise do coronavírus.
“Apesar de toda a tragédia, a pandemia acabou tendo um impacto positivo para nós. Nossa solução foi muito útil para as empresas poderem fazer interações digitais”, diz o presidente. Não só novos clientes chegaram, mas o volume de mensagens trocadas também aumentou. Por mês, atualmente, mais de 1,5 bilhão de mensagens são enviadas pelo sistema.
A receita do negócio, que quintuplicou nos últimos dois anos, deve duplicar novamente em 2020, chegando a um faturamento recorrente anual de 40 milhões de dólares. Só em setembro, 80 novos contratos foram fechados. Para suportar esse crescimento, a equipe da startup, que era composta por trezentas pessoas em janeiro, agora reúne quinhentas.
A rodada de investimento, que acontece em um momento bom para o mercado de tecnologia, vem para coroar os resultados que a empresa teve nos últimos meses e ajudá-la a manter o ritmo.
Ao longo dos 21 anos da Take, a empresa teve altos e baixos. Em 2005, quando ainda era chamada de Takenet, a empresa foi comprada pela japonesa Faith, que fazia toques para celular.
Três anos depois, com a popularização do formato MP3, os ringtones perderam espaço e Take voltou para o controle dos fundadores. Oliveira afirma que eles conseguiram recomprar a marca por 10% do valor de venda.
Depois do fim dos toques para celular, a aposta da empresa foi no envio de SMS como notificação. O modelo deu certo e, de 2010 a 2014, o negócio voltou a crescer, ainda que em ritmo menor que o atual. O presidente diz que durante esses anos, houve oportunidades para que a Take fizesse uma rodada de captação de investimentos, mas os sócios não viam necessidade.
Esse cenário foi mudando de 2015 para cá, conforme a Take foi desenvolvendo sua plataforma de chatbots para atendimento. Os sócios desenvolveram uma tese de que toda empresa precisará ter uma solução de contato inteligente com os clientes. Pelas suas contas, esse mercado teria 5 milhões de clientes em potencial no Brasil e centenas de milhões no mundo. Um verdadeiro oceano azul.
"A oportunidade é grande, nosso produto já se provou e a nossa metodologia está funcionando. Agora, trouxemos a parceira certa para poder executar nosso projeto", diz Oliveira.
A Warburg Pincus, que liderou a rodada, é uma tradicional gestora americana de private equity, fundada em 1966. A empresa gere mais de 53 bilhões de dólares em ativos e tem mais de 180 companhias investidas atualmente no seu portfólio, entre elas as brasileiras Petz, Eleva Educação e Superlogica.
“Estamos muito empolgados com Take Blip. Raramente encontramos uma empresa com esse nível de product market fit e ritmo de crescimento, combinados com excelentes resultados econômicos e uma cultura corporativa empreendedora — e achamos isso no Brasil”, afirma Ash Somani, diretor do fundo, em nota.
No Brasil, empresas como a Wavy, do grupo Movile, e a Zenvia, atuam também no mercado de mensagens inteligentes. Startups mais jovens, como a Nama e a GoBots, trabalham com chatbots.
Nos próximos meses, a Take planeja usar o aporte para aumentar os investimentos em tecnologia, marketing e vendas. Já a expansão internacional, que está sendo desenhada, deve demorar um pouco mais.
A companhia planeja entrar no México e nos Estados Unidos, mas espera o cenário da pandemia se estabilizar para fazer o movimento. "As empresas de lá estão abertas, temos feito reuniões bem sucedidas com companhias mexicanas durante o home office", diz Oliveira.
A longo prazo, a ambição da companhia mineira é ser um novo WeChat: uma solução global necessária para que milhões de empresas cheguem até seus clientes. “No Brasil, temos a vantagem que é a onipresença do WhatsApp. Na América Latina e nos Estados Unidos, atuamos com o Messenger, Apple Chat e Google Business Chat. Queremos nos tornar uma empresa global e continuar crescendo na maior velocidade possível”, diz Oliveira.
Os sócios não descartam a possibilidade de adquirir empresas menores para acelerar os planos de crescimento em novas frentes de negócio. Um time específico de fusões e aquisições será estruturado agora para mapear possibilidades.
Frente a todos os planos e metas ambiciosas da Take, um ponto particularmente preocupa Oliveira: como crescer mantendo os funcionários motivados em meio a um crescimento acelerado do negócio?
Para solucionar o problema, o executivo, que é formado em engenharia elétrica, desenvolveu um método de gestão que apelidou de “sistema operacional”. Nele, é importante que a empresa mantenha claro para os funcionários a visão, os valores, o design de operação, as metas-chave e uma estrutura de feedback 360º. Dessa forma, o presidente espera manter a engrenagem girando.