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Startup do Einstein desenvolve novo teste de coronavírus, inédito no mundo

Varstation, startup de bioinformática incubada no hospital, criou teste de covid-19 que pode processar 16 vezes mais amostras do que método usado hoje

Hospital Albert Einstein: objetivo é fazer parcerias em todo o Brasil e no mundo para disseminação do novo teste, diz diretor de inovação do hospital (Nacho Doce/Reuters)

Hospital Albert Einstein: objetivo é fazer parcerias em todo o Brasil e no mundo para disseminação do novo teste, diz diretor de inovação do hospital (Nacho Doce/Reuters)

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Carolina Ingizza

Publicado em 21 de maio de 2020 às 18h43.

Última atualização em 22 de maio de 2020 às 13h57.

O Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, anunciou na quinta-feira 21 ter desenvolvido um tipo inédito de teste para o novo coronavírus. O método garante precisão igual ao do RT-PCR, o teste mais preciso usado atualmente, mas com volume maior de processamentos.

Segundo o hospital, o novo modelo permite a realização simultânea de até 1.536 amostras, totalizando um volume de processamento 16 vezes maior do que no RT-PCR. A descoberta é inédita no mundo e foi patenteada nos Estados Unidos na semana passada.

O teste usa a chamada tecnologia de "sequenciamento de nova geração", que analisa pequenos fragmentos de DNA para identificar doenças e mutações genéticas. O que o time do hospital fez de inovador foi adaptar o método para detectar também moléculas de RNA, que, no caso de alguns vírus, contêm todo o seu material genético. O objetivo, portanto, é detectar no paciente a presença do RNA do vírus Sars-CoV-2, causador da covid-19.

A pesquisa com esse tipo de metodologia começou em março, liderada pelo braço de inovação do Einstein e pela startup de bioinformática Varstation, uma das soluções incubadas no Eretz.bio, a incubadora de startups do hospital.

Segundo Claudio Terra, engenheiro e diretor de inovação e transformação digital do Einstein, a nova metodologia torna o Brasil um ator relevante na discussão sobre testagem em todo o mundo.

"Nosso interesse agora é fazer acordos de grandes proporções, não temos interesse em manter essa tecnologia só no Einstein", disse. A patente foi confirmada na sexta-feira 15 e, agora, a equipe do hospital segue em busca de parcerias, incluindo no exterior. "Anunciamos hoje e esperamos que amanhã de manhã estejamos falando com governos, laboratórios privados, para ver como podemos fazer parcerias e aumentar a capacidade de testagem", disse.

A título de comparação, o próprio Einstein fez até o momento 55.000 testes de covid-19 com o método PCR, desde que a pandemia começou, em março. Com o novo teste e com o potencial de maquinário já instalado, é possível fazer 100.000 testes por mês, ainda que nenhuma máquina nova seja adquirida.

"É uma descoberta muito boa, torna possível acelerar bastante a detecção do vírus", diz Carlos Gouvêa, presidente da Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL). O especialista aponta que essa tecnologia é muito usada, por exemplo, no tratamento de câncer, para entender mutações genéticas e escolher medicamentos mais responsivos para o tratamento. "O que foi feito foi adaptar esse processo para detectar o coronavírus."

Nos pacientes, a coleta da amostra é feita na região da boca ou do nariz. A amostra é preparada seguindo os protocolos estabelecidos pelo hospital e é analisada pela Varstation.

Hoje, o resultado do novo teste de coronavírus fica pronto em três dias, mas as equipes estão trabalhando para tentar reduzir o prazo. A expectativa é que ele esteja sendo utilizado na rotina do hospital até o começo de junho.

Quanto é possível ampliar os testes?

O mundo foi palco nos últimos meses de uma verdadeira guerra em busca dos testes de coronavírus, tanto os rápidos quanto os PCR. Terra, do Einstein, afirma que, no caso do novo teste, é "uma nova avenida que se abre", porque a metodologia não usa nem máquinas nem reagentes que já são necessários em outras testagens de coronavírus. Desse modo, não há uma competição por insumos com os tipos de teste já existentes.

O executivo do Einstein afirma que, com a divulgação dos resultados do teste desenvolvido no hospital, "haverá maior demanda" por reagentes usados nessa metodologia, mas que o Brasil já tem um potencial instalado relevante de máquinas e reagentes para esse novo teste.

Um ponto positivo para uma potencial testagem em massa usando essa ferramenta, segundo Terra, é que há várias alternativas aos reagentes necessários nesse processo, que não vêm de um fornecedor específico. Esses insumos também estão mais disponíveis agora porque os laboratórios diminuíram a realização de outros exames que usariam esses reagentes em virtude do foco no combate ao coronavírus.

Atualmente, para testagem da covid-19, além do RT-PCR, há testes sorológicos, conhecidos como "rápidos", em que os resultados saem em minutos após uma coleta de sangue. São os mais utilizados para testagem em massa. Mas ao contrário do RT-PCR ou do novo teste do Einstein, esses testes não detectam o RNA do vírus, e sim anticorpos da doença produzidos pelo corpo humano. Por isso, têm maior potencial do chamado "falso negativo" e não são recomendados para o estágio inicial da doença, uma vez que anticorpos demoram cerca de uma semana para ser produzidos em massa pelo corpo.

“Até agora, a única forma de registrar sua presença [do vírus da covid-19] dentro das células humanas era pela técnica RT-PCR”, diz em nota o patologista João Renato Rebello Pinho, coordenador do Laboratório de Técnicas Especiais do Einstein e um dos responsáveis pelo novo teste.

Gouvêa, da CBDL, que acompanha a realização e fabricação de testes no Brasil, diz que ainda haverá limites para uma testagem de toda a população, mas que será possível "multiplicar bastante o número de testes". "Para chegar a outros laboratórios será preciso ter o equipamento, que não é tão barato e não é tão fácil de encontrar, principalmente fora de regiões metropolitanas", diz. "Mas toda descoberta é válida, é mais uma possibilidade muito positiva se ampliada para vários laboratórios."

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