Drone da ARPAC pulverizando lavoura: 2,5 milhões em investimentos já captados (ARPAC/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 2 de outubro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 2 de outubro de 2019 às 06h00.
O potencial brasileiro para a agricultura -- com mais de 70 bilhões de reais, representa quase 15% do Produto Interno Bruto -- reflete-se no número de startups voltadas a trazer mais tecnologia a um mercado tradicional. Já são mais de 300 agtechs e negócios escaláveis e inovadores continuam surgindo e captando investimentos.
É o caso da ARPAC, uma startup que usa drones para trazer precisão à pulverização agrícola. O negócio divulgou com exclusividade a EXAME a captação de um aporte de 1,3 milhão de reais.
Os recursos foram aportados pelo investidor anjo Francisco Forbes (cofundador da empresa de atendimento digital Infracommerce) e pelos fundos MOR Capital e Drone Fund, fundo especializado em drones e com sede no Japão. É o primeiro investimento do Drone Fund em uma startup brasileira.
Formado em administração de empresas, Eduardo Goerl se tornou piloto de avião em 2007. Um grave acidente, com o avião pegando fogo durante a decolagem, fez o piloto pensar em como substituir os pilotos em situações com grandes chances de acidente.
Goerl observou que os riscos eram especialmente altos na aviação agrícola, pois o piloto precisa voar próximo ao solo e realizar diversas manobras para espirrar agrotóxicos biológicos ou químicos. Ao mesmo tempo, a pulverização não é tão precisa quanto poderia ser.
Outras opções são usar tratores, que pedem um grande investimento inicial e demora no processo, ou um funcionário que jogue os biológicos e químicos, o que traz más condições de trabalho. “Antes, as pessoas andavam o dia inteiro por uma lavoura de cana-de-açúcar com embalagens de agrotóxico biológico ou químico. Passavam por calor, cortes e poderiam ter riscos à saúde pela proximidade aos produtos”, afirma Goerl.
Daí nasceu a ideia de usar drones para realizar essa pulverização agrícola. O desenvolvimento começou em 2014, mas a ARPAC começou a operar em 2016. A ARPAC é dona do hardware (o próprio drone), do software (para controlar o voo) e do framework (código que rege o software). O drone é feito com baterias, hélices e motores importados da China.
Os veículos aéreos não tripulados primeiro percorrem a lavoura, realizando um escaneamento de onde estão as pragas. Depois, aplicam agrotóxicos biológicos (ovos de vespa em cápsula biodegradável, que fazem o controle de pragas) ou químicos apenas na área infestada.
Para os agricultores, a solução permite mais agilidade, precisão e redução na quantidade de agrotóxicos usados. Na cana-de-açúcar, principal lavoura atendida pela ARPAC, a aplicação de herbicida costuma ser feita em apenas 15 a 20% da lavoura. Segundo a ARPAC, os drones pedem 80% menos agrotóxicos e representam um custo 55% menor do que uma aplicação de agrotóxicos por avião, geralmente feita em toda a lavoura.
A ARPAC atende hoje 14 grandes empresas do setor, como Coopercitrus, BASF, Raízen e Syngenta. A startup cobra por hectare percorrido, com valor negociado empresa a empresa.
Na última safra, de outubro do ano passado até março deste ano, a ARPAC percorreu 12 mil hectares entre reconhecimento de imagem e pulverização de agentes biológicos e químicos e faturou 125 mil reais. Na safra atual, que começa neste mês e vai até março de 2020, a startup pretende percorrer 110 mil hectares e faturar um milhão de reais. Nas entressafras, o volume da ARPAC é reduzido e o negócio foca em outras lavouras, como as de café e de uva.
Não é o primeiro investimento externo da ARPAC. A startup já havia captado 1,2 milhão de reais com recursos do próprio fundador, de um investidor-anjo, do programa de aceleração Agro Start (da gigante química BASF) e do fundo Brazil Venture Capital. Ao todo, o negócio captou 2,5 milhões de reais em aportes.
Os novos recursos serão usados para backoffice, vendas e suporte operacional nos cinco polos de operação da ARPAC hoje: Jataí (Goiás), Jaú (São Paulo), Piracicaba (São Paulo), Porto Alegre (Rio Grande do Sul) e Sorriso (Minas Gerais). “Escolhemos regiões estratégicas porque logística é um grande desafio, desde transportar o equipamento até fazer marketing local ao produtor. Buscamos crescer nesses polos para depois expandir nossa participação em outras regiões”, afirma Goerl. Lavouras não faltam para permitir a expansão da ARPAC.