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Com foto de celular e 3 minutos, app dá preço para reparar carro batido

A startup de seguros Thinkseg comprou uma participação em um aplicativo dotado de inteligência artificial que processa 150 imagens por minuto

Batida: a Thinkseg é a primeira a testar o aplicativo dotado de inteligência artificial chamado Fasttrack (VPVHunter/Thinkstock)

Batida: a Thinkseg é a primeira a testar o aplicativo dotado de inteligência artificial chamado Fasttrack (VPVHunter/Thinkstock)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 23 de agosto de 2019 às 06h00.

Última atualização em 23 de agosto de 2019 às 06h00.

As startups já transformaram diversos setores e hábitos, desde como contratar serviços financeiros até como se alimentar melhor ou se relacionar com seu trabalho. Agora, o alvo é transformar a cotação dos reparos após uma batida de carro: bastará uma foto de celular e três minutos para que o dono, a seguradora e a oficina saibam o orçamento.

A startup de seguros (ou insurtech) Thinkseg é a primeira a testar o aplicativo dotado de inteligência artificial chamado Fasttrack, desenvolvido pelo investido Cilia, negócio especializado em orçamentos online. O app pode processar até 150 imagens por minuto. Até o final deste ano, o Cilia espera chegar a um milhão de orçamentos, com a ajuda do Fasttrack. Enquanto isso, a Thinkseg projeta distribuir 200 milhões de reais em prêmios para as seguradoras associadas.

Como funciona?

O Fasttrack está sendo desenvolvido desde o começo do ano pelo Cilia, startup goiana de orçamentos online criada há sete anos e que vendeu recentemente uma fatia de 35% para a Thinkseg. A insurtech buscava uma experiência digital de seguros que fosse além da contratação e do acompanhamento da apólice.

“Nosso cliente já podia chamar o guincho ou o táxi pelo aplicativo, mas queríamos uma solução na própria vistoria e abertura do sinistro [ocorrência]. Ele quer resolver uma colisão de forma fácil e rápida, tornando seu dia mais simples”, afirma Andre Gregori, sócio da Thinkseg.

No Fasttrack, o usuário libera seu carro para conserto ou recebe na hora uma indenização financeira a partir de fotografias. As imagens tiradas do veículo passam por uma inteligência artificial, que identifica padrões e interpreta as fotografias. A capacidade de processamento é de 150 imagens por minuto. 

A IA pode dizer se há danos leves ou graves e identificar componentes que podem estar danificadas mesmo sem aparecerem nas fotos. Por exemplo, um problema no farol do carro pode indicar o reparo de diversos componentes elétricos. A imagem é mapeada com códigos de cada peça e estimam-se preços e horas necessárias para o reparo.

Toda a análise de fotografias leva cerca de três minutos, contra 48 horas em uma seguradora tradicional. O aplicativo faz o orçamento do reparo ou indenização e os envia para o dono, a seguradora, o guincheiro e oficinas de escolha.

Aplicativo Fasttrack, do Cilia

Aplicativo Fasttrack, do Cilia (Cilia/Divulgação)

O Fasttrack está disponível pela Thinkseg desde o começo deste mês, mas a ideia é colocá-lo em diversos aplicativos de seguradoras. Já há negociação com uma “grande seguradora em automóveis”, segundo Gregori. 

A projeção do Cilia é realizar um milhão de orçamentos ainda neste ano, com a ajuda do Fasttrack. O alimento de mais imagens e dados poderá melhorar a eficiência do aplicativo, que já tem mais de três mil oficinas e dezenas de seguradoras conectadas. Segundo o Cilia, todas as peças apontadas para reparos pela inteligência artificial somaram 1,2 bilhão de reais no primeiro semestre deste ano.

Usar o smartphone para avaliar batidas de carro é um recurso mais conhecido pelos usuários da chinesa Ant Financial, braço financeiro do grupo de comércio eletrônico Alibaba. Segundo estimativas da Thinkseg, por volta de 10 startups pelo mundo estariam aperfeiçoando o uso de imagens de veículos com avarias para o cálculo do reparo.

A Thinkseg aposta em ajudar o Cilia a liderar essa tecnologia por aqui, com o entendimento do mercado de seguros brasileiros e anos de coleta de informações.

Histórico e planos de expansão

Criada em abril de 2016, a Thinkseg é um portal que usa algoritmos próprios para identificar o perfil do cliente, tanto pelas informações preenchidas quanto por bancos de dados e postagens nas redes. Após a análise, seleciona pacotes personalizados de seguros. 

Há 500 mil combinações de produtos possíveis de 22 seguradoras na Thinkseg, a partir de um questionário de oito perguntas e uma análise que leva cinco segundos. O tradicional é responder de 28 a 35 perguntas e levar 20 segundos para conseguir uma cotação, de acordo com Gregori. No banco de dados há um histórico de mais de oito milhões de cotações.

Os usuários são atendidos de forma 100% digital por corretores cadastrados. Junto com o Fasttrack, a Thinkseg também lançou um modelo de seguro “pague pelo uso” (pay per use) em parceria com a seguradora Generali. Nele, o preço varia de acordo com os quilômetros rodados pelo motorista.

A Thinkseg possui 30 a 35 mil usuários ativos e coletou mais de 100 milhões de reais em prêmios para as seguradoras, sendo que 80% dos seguros vendidos são para automóveis. A insurtech espera que a porcentagem diminua, com o interesse dos brasileiros em outros tipos de seguros, e estima chegar a 200 milhões de reais em prêmios em 2019.

O negócio se monetiza por comissões, por ser registrado como uma corretora, e também dá bonificações às seguradoras parceiras. A insurtech atingiu o ponto de equilíbrio operacional (descontando os investimentos iniciais) com um ano e dois meses de operação.

Cerca de 50 milhões de reais foram aportados inicialmente na Thinkseg por seus dez sócios, seja no desenvolvimento da tecnologia, na aquisição da Bidu Seguros ou em patrocínios de peso, como o do time de futebol carioca Flamengo. A insurtech avalia negociar uma rodada de aportes no futuro.

Andre Gregori, da Thinkseg

Andre Gregori, da Thinkseg (Thinkseg/Divulgação)

Segundo Gregori, a Thinkseg enfrentou obstáculos para fazer o discurso do digital emplacar. “Era difícil ver seguradoras com vontade de ouvir, ainda que soubessem da necessidade de inovar. Eu era um agressor. Agora, todas direcionam algum investimento para o digital”, comentou em entrevista anterior a EXAME

Após conquistar seguradoras, o grande desafio é fazer os brasileiros sentirem a necessidade de ter um seguro. “A percepção de valor, nesse mercado, só aparece quando o cliente tem um problema. Não somos uma fintech percebida de cara como uma oportunidade para ele, como é o Nubank, por exemplo”.

Agora, pelo menos, os problemas poderão ser resolvidos com a câmera do próprio celular dos segurados.

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