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Startup cria "camarão" que não é camarão — mas pode comer

Apesar de textura, cor e forma semelhantes às do crustáceo, nova versão é cria de laboratório e uma promessa para reduzir pressão sobre os recursos pesqueiros


	Startup: "primo" falso e mais ecológico do camarão da New Wave Food quer mudar a indústria de frutos do mar.
 (New Wave Food)

Startup: "primo" falso e mais ecológico do camarão da New Wave Food quer mudar a indústria de frutos do mar. (New Wave Food)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 7 de agosto de 2016 às 08h16.

São Paulo - Acredite, nenhum camarão morreu para entrar na refeição que ilustra esta matéria. Essa preocupação com a origem do crustáceo pode parecer exagerada, mas ela tem fundamento. A indústria pesqueira e de frutos do mar possui graves falhas quando o assunto é sustentabilidade, ainda que seja possível avistar sinais de mudanças.

Nosso apetite crescente tem levado, paulatinamente, ao esgotamento dos recursos pesqueiros em nossos oceanos, com algumas espécies em sério risco de extinção, a exemplo do atum rabilho e da sardinha. A criação de camarão também não está isenta de problemas.

Em grande medida, a aquicultura industrial de camarões se expandiu, historicamente, à custa de áreas alagadas de mangues e pântanos, que estão entre os habitats mais ameaçados do mundo. A prática degradou nada menos 30% dessas áreas com o acúmulo de resíduos orgânicos e substâncias químias usadas na criação do crustáceo. 

Uma forma de combater abusos no setor é buscar operações mais sustentáveis. Para a startup de biotecnologia americana New Wave Food, isso significa, literalmente, deixar os camarões em paz e criar um "primo" mais ecológico em laboratório.

Os camarões produzidos na sede da empresa, em São Francisco, são feitos a partir de algas vermelhas e proteína vegetal e têm textura, forma e cor semelhantes ao ser in natura — chega até mesmo a mudar do tom cinza para o rosa no processo de cozimento.

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Por trás da investida audaciosa estão três mulheres com vasta experiência em estudos ambientais: Dominique Barne, a CEO, é mestre em biodiversidade marinha, sua amiga e sócia Michelle Wolf é formada em ciência de materiais com mestrado em engenharia biomédica e Jennifer Kaehms possui formação em bioengenharia.

Segundo as empreendedoras, os ganhos ambientais da produção de camarão em laboratório são o diferencial do produto. "Em termos de uso de água, terra e energia para transporte, nosso produto é muito menos intenso que a produção convencional", explicou Barnes em entrevista à revista Wired.

As vantagens vão além. O "primo mais ecológico" do camarão pode se revelar uma opção para vegetarianos ou pessoas em processo de adaptação para uma dieta livre de produtos de origem animal, como a vegana. 

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No contexto americano, o produto também pode ganhar apelo por questões sanitárias. Em 2014, uma análise encomendada pela revista americana Consumer Reports revelou que 60% dos camarões à venda no mercado testaram positivo para bactérias do tipo E.coli, salmonella e listeria, que causam graves doenças de origem alimentar.

Independentemente da motivação, é difícil negar o potencial de produtos que se apresentam como alternativas mais sustentáveis, ainda que passem por uma completa reinvenção de ingredientes ou composição básica.

Por mais que, de início, pareçam "bizarros", eles já despertam interesse de empresas visionárias. Não faz muito tempo, o Google ofereceu algumas dezenas de milhões de dólares para comprar a startup de hamburguer vegano Impossible Foods, que usa apenas plantas na formulação. Uma coisa é certa: em se tratando de inovação à mesa, esses novos alimentos ganham cinco estrelas.

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