Hospital de Campanha do Complexo Esportivo do Ibirapuera: unidade deve contar com 268 leitos, sendo 240 de baixa complexidade e 28 de UTI. (Miguel Schincariol/Getty Images)
Carolina Ingizza
Publicado em 16 de abril de 2020 às 08h00.
Última atualização em 16 de abril de 2020 às 19h29.
A construção de um hospital de campanha para ajudar na crise do novo coronavírus requer inúmeros esforços. Quando o governador João Doria anunciou no dia 7 de abril que iria erguer um hospital no ginásio do Ibirapuera até o dia 1º de maio, foi necessária uma força-tarefa não só para a montar a estrutura, mas também para contratar os cerca de 800 profissionais de saúde que vão atender no local.
A empresa responsável pela seleção é a startup brasileira Rocketmat, que também foi contratada pelo hospital Israelita Albert Einstein para ajudar a preencher 1.426 vagas. Ela é especializada em usar inteligência artificial para ajudar o departamento de recursos humanos dos clientes em processos seletivos grandes e na gestão de funcionários. Foi fundada em 2017 pelos sócios Paulo Nascimento, Tiago Machado e Pedro Lombardo.
A solução oferecida pela empresa para auxiliar nas contratações consegue processar muitas informações em um curto espaço de tempo, o que permite que um número alto de currículos seja analisado. No caso do Einstein, foram analisados quase 10.000 candidatos para 150 vagas. O processo, que normalmente demoraria 30 dias, foi finalizado em 5. “A gente consegue olhar de maneira justa, então todos os candidatos têm a mesma chance”, diz Machado.
O software é customizado para cada cliente, para que a assertividade do processo seja maior. No caso das contratações da área de saúde, em que o componente técnico é essencial, há uma triagem online dos candidatos, analisando suas capacidades de entrega. Em 24 horas, a empresa consegue enviar uma análise completa dos melhores currículos.
O resultado é encaminhado para o profissional de recursos humanos, responsável por contratar ou não os candidatos. “A inteligência artificial não tira empregos, ela ajuda os profissionais de RH a ter maiores condições de tomar decisões melhores e mais assertivas”, afirma Machado.
O sistema faz recomendações, não prescrições. A inteligência artificial recomenda que o RH tome a decisão de contratar os candidatos melhores avaliados, mas evolui também quando o humano opta por um caminho diferente. “Na medida que os gestores tomam decisões, o algoritmo vai aprendendo”, diz Machado.
A Rocketmat foi fundada em 2017, unindo a experiência dos sócios em inteligência artificial e administração de recursos humanos. Após testar o produto no mercado brasileiro, decidiram levar a sede da empresa para Dallas, nos Estados Unidos. A companhia tem hoje um escritório em Toronto, no Canadá, e outros dois no Brasil, um em Belo Horizonte e outro em São Paulo.
A empresa nasceu com proposta internacional. O processamento de dados é feito todo na nuvem da Amazon, o que garante que não haja barreiras para expansão global. Além disso, o algoritmo do produto foi programado para aprender a funcionar em outros idiomas em até dois dias. Atualmente, está disponível em português, inglês, francês e espanhol.
Fora do Brasil, a startup já tem clientes em outros oito países. Atualmente, está executando 20 projetos com empresas como Ambev, BV e Creditas. Na área de saúde, além do hospital de campanha, Einstein e Unimed de Belo Horizonte são clientes.
Os produtos oferecidos pela startup não se limitam a processos seletivos. Há soluções para empresas organizarem programas internos de treinamento, gestão, desenvolvimento, segurança do trabalho e engajamento.
O preço é definido pelo número de análises feitas. “Se atraiu 10.000 candidatos, vamos cobrar por 10.000 análises”, diz Machado. Conforme o volume aumenta, o valor de cada processo fica mais barato. Em média, o preço de cada análise pode variar de 5 centavos de dólar a até um dólar, dependendo do contrato. O pagamento pode ser feito na moeda local de cada país.
Desde sua fundação, a empresa recebeu dois investimentos e está com uma rodada aberta agora para captar dois milhões de dólares. Ao todo, já levantou um milhão de dólares com investidores anjos. O plano dos sócios é fazer uma rodada série A, de valor maior, em 2021. Em termos de faturamento, a empresa vem crescendo: faturou 150 mil dólares em 2019, seis vezes mais do que em 2018.
Por causa da pandemia, as projeções de crescimento para 2020 precisar ser encolhidas. A meta inicial dos sócios era triplicar a empresa este ano, mas agora projetam que o faturamento somente irá dobrar. A startup adiou também sua entrada no mercado europeu para 2021. Apesar disso, a diretoria está confiante de que a empresa terminará o ano com cerca de 50 clientes.
“Nossa meta é trazer para a equipe de recursos humanos condições de tomar decisões mais assertivas. O mercado financeiro tem ferramentas assim há dez anos, agora chegou a hora do RH”, diz Machado.