Sou obrigado a falar mal do concorrente — e acabo me sentindo como se fosse uma comadre em roda de fofoca (Margan Zajdowicz/ stock.xchng)
Da Redação
Publicado em 24 de agosto de 2011 às 17h58.
Há mais de 20 anos participo de feiras de negócios. Nesses eventos, eu e minha equipe demonstramos equipamentos de impressão digital, adesivos e outros produtos da minha empresa, a Sid.
Feiras são um momento mágico. Num único lugar e com data e hora combinadas, a demanda se junta à oferta. É uma grande oportunidade para colocar as teorias em prática e exercitar estratégias de negociação.
Os competidores também estão lá, o que é ótimo para ver se surgiu alguma empresa ameaçadora e provar, por a + b, que o meu produto é melhor.
Mas vou confessar uma coisa: odeio feiras de negócios. Acho mesmo que não existe nada mais cruel. Para que as chances abertas em eventos desse tipo se tornem realidade, é preciso enfrentar uma competição esquentada. Parece que estou numa rinha — e, pior, fazendo papel de galo.
Durante muitos anos, foi o contrário: achava que feiras era hora de congratular clientes, funcionários e até concorrentes. Montava um grande bar, com bebida e comida para receber todo mundo como convidado VIP. Para a imagem da marca, era um espetáculo. Venda, que é bom, nada.
Com o tempo, me convenci de que aquele é um ambiente predatório. Começa com os chineses: eles alugam um estande espartano, não se preocupam com marketing nem em oferecer cafezinho. Comem de marmita, lá mesmo, para aproveitar 100% do tempo. Muitos clientes vão aos chineses não porque pretendem comprar algo, mas para buscar pretextos e chorar: "Me dá um desconto?"
As pessoas se comportam como donas de casa em feira livre, e querem o menor preço possível. As feiras lhes são oportunas porque sempre há uma banca oferecendo, por menos, um produto parecido com o seu.
Daí, a rinha de galos. O oponente ataca, falando mal de você para o cliente. E, quando o cliente vem a meu terreno, sou obrigado a falar mal dele. Me sinto como comadre em roda de fofoca.
Agora, o custo desse estresse. O aluguel nas feiras deve ser o mais caro do mundo. O preço do metro quadrado, ao dia, daria para ter um lugar nos Jardins, em São Paulo, na Times Square, em Nova York, ou na Champs Élysées, em Paris. Além disso, é preciso construir um estande de sonho se você quiser sobreviver à carnificina.
Há que servir comida, instalar equipamento de som e imagem e contratar modelos para as boas-vindas. E tem a conta de eletricidade (que daria para pagar a luz de um ano inteiro), taxa disso e daquilo, licenças, impostos.
É um esforço danado — para depois desmontar tudo em poucos dias. Compensar, não compensa. Mas qual é a opção? Se minha empresa não comparecer, outra ocupará meu lugar — o que não é nada bom para os negócios. Por isso, no próximo ano lá estarei eu de novo, com um estande lindo e maravilhoso, mesmo achando tudo aquilo um show de horror.