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Em negócios, é melhor sem complicação

Em Simply Effective, Ron Ashkenas mostra como combater um efeito comum em negócios em expansão — a complexidade que tende a destruir a agilidade de uma empresa

Livro Simply Effective, do autor americano Ron Ashkenas (Divulgação)

Livro Simply Effective, do autor americano Ron Ashkenas (Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 30 de março de 2011 às 08h00.

Os negócios, assim co­mo as pessoas, ficam mais complicados à medida que crescem. A nova mudança no comando do Google é um bom exemplo disso. No começo de janeiro, a empresa anunciou que, em abril, seu cofundador Larry Page assumirá a presidência no lugar de Eric Schmidt, no comando há quase uma década.

O motivo da troca estaria relacionado ao excesso de burocracia que recentemente teria tomado conta do Google. “Com o crescimento rápido nos últimos anos, nossa gestão ficou muito complicada”, disse Schmidt num comunicado aos funcionários. De volta à linha de frente da operação, Page terá como missão renovar o frescor da com­panhia e prepará-la para enfrentar a expansão vigorosa de sites como o Facebook, que competem com o Google pelos anúncios online, sua principal fonte de receita.

Depois de muitos anos mantendo a aura de negócio ágil e inovador, a empresa parece estar sentindo os efeitos colaterais do próprio sucesso. 

Mas por que é tão difícil manter a simplicidade? No livro Simply Effective (“Simplesmente efetivo”, numa tradução livre), o americano Ron Ashkenas tenta responder a essa questão, ca­paz de atormentar muitos empreen­de­dores às voltas com a complexi­dade crescente de um negócio em expansão.

O livro se propõe a ser um guia prático para ajudar empresas de todos os portes a se tornar me­nos complicadas e, por consequência, mais eficientes. Seu objetivo não é trazer nada propriamente revolucionário, mas dar orientações que, em boa parte das vezes, são pura questão de bom senso.

Há uma razão prática para a preocupação — para Ashkenas, empresas mais simples estão numa posição melhor para sustentar o crescimento. Tratar a complicação como fonte das ineficiências que corroem a agilidade dos negócios é a mensagem mais forte do livro.


“Escapar da armadilha da complexidade e simplificar a estru­tura interna, os processos e os produtos é o grande desafio dos negócios”, diz ele. “Existe um clamor crescente entre os consumidores por simplicidade.”

A fonte desse desejo viria de uma espécie de mal-estar contemporâneo com as promessas não cumpridas da tecnologia — as pessoas não estão trabalhando menos, e admi­nistrar a vida pessoal e os negócios tampouco se tornou mais fácil. Nes­se cenário, empresas menos complexas exerceriam uma poderosa atração sobre os consumidores. 

O livro traz exemplos de grandes empresas que, nos últimos anos, se tornaram mais eficientes ao descomplicar seus negócios. Ashkenas relata os resultados obtidos pela Johnson&­Johnson depois de simplificar os procedimentos em seu departamento de controle de qualidade.

Até o final da década de 90, cada unidade da companhia seguia seus próprios métodos e processos, criando um emaranhado de normas quase impossível de gerenciar. Se alguma das unidades da empresa desenvolvia um processo mais rápido ou mais barato, dificilmente a iniciativa poderia ser copiada pelo departamento de qualidade de outra área da Johnson — os procedimentos eram tão diferentes entre si que, na maior parte das vezes, não havia uma adaptação possível.

Entre 2000 e 2004, um processo gradual de unificação das normas fez a produtividade do controle de qualidade da companhia aumentar 50%.


Outro caso citado por Ashkenas é o da Ford americana. Desde 2005, a empresa vem eliminando do catálogo automóveis e utilitários pouco lucrativos. Ao longo dos anos, a Ford havia construído um portfólio no qual nem tudo era rentável. Mais que isso, alguns modelos traziam prejuízo — um tipo de problema muito frequente em pequenos e médios negócios que, às vezes, lançam novos produtos sem avaliar o retorno do in­vestimento.

Ao extirpar da linha de montagem tudo que não era lucrativo, a Ford deu passos importantes para sair da complicada situação financeira em que se encontrava até poucos anos atrás. Em 2008, quando a crise chegou com força aos Estados Unidos, a Ford foi a montadora americana mais preparada para enfrentar o mau momento — e a única entre as grandes fabricantes de automóveis do país que não precisou pedir socorro do governo para não ir à lona. 

Ashkenas alerta, contudo, que a simplificação não é uma meta fácil e exige tempo, dedicação e persistência para ser alcançada. Trata-se de uma cultura a ser construída pela empresa, pois contraria a tendência natural de qualquer negócio em crescimento. É muito comum que, à medida que uma empresa se expande, novos departamentos e unidades de negócios sejam criados e outros sejam incrementados.

O risco, nesses casos, é dar origem a pequenos feudos dentro da empresa, cada um fazendo as coisas à sua maneira e desperdiçando recursos. Para combater esse tipo de problema, Ashkenas afirma ser importante rever, de tempos em tempos, todas as áreas de uma empresa, a fim de avaliar quais delas são realmente essenciais para o negócio.

Entre 2006 e 2009, por exemplo, a americana ConAgra diminuiu seus custos anuais em 7% unificando áreas como marketing e desenvolvimento de produtos, que trabalhavam em separado para cada uma de suas marcas de alimentos.

Do ponto de vista conceitual, simplificar significa obter o resultado desejado com o menor uso possível de recursos e de tempo. Ashkenas afirma que muito da complexidade em uma empresa é gerado individualmente, cada vez que um executivo, gerente ou funcionário do chão de fábrica criam um novo processo ou uma maneira própria de fazer as coisas — a soma de tudo é que acaba sendo um grande problema a ser enfrentado.

Embora o poder para mudar esse quadro seja inegavelmente maior por parte de quem está no comando da empresa, o autor prega a necessidade de que cada funcionário seja responsável por contribuir a favor da simplificação. Como fazer isso? Deixando clara a insatisfação com certas situações. “Quantas vezes você participou de uma reunião pouco produtiva e sem objetivos claros e nada fez para evitar que isso se repetisse?”, diz Ashkenas. “Se você não é parte da solução, então é parte do problema.”


No livro, as reuniões surgem como maior símbolo de perda de tempo nos negócios. Frequentemente, os encontros duram além do previsto, envolvem mais gente que o necessário e raramente têm foco claro. Perde-se tempo com conversas sobre banalidades, e muito do que é discutido não interessa a todos os presentes.

Para piorar, recursos como o PowerPoint, que deveriam servir para condensar informações e ideias, acabam se tornando um elemento a mais a roubar o tempo dos participantes, com apresentações enfadonhas e pouco objetivas.

A boa notícia é que a simplificação tem efeito multiplicador no dia a dia das empresas: pequenas melhorias em várias frentes podem ter um resultado surpreendentemente significativo. Uma reunião de 2 horas com dez pessoas custa quase o dobro de uma reunião de 1 hora e meia com sete pessoas — são 1 200 minutos de trabalho no primeiro caso e 630 minutos no segundo.

Ou seja: uma redução de 30% no número de pessoas presentes à reunião e de 25% na duração resulta em quase 50% de economia. Ciente disso, o Banco Mundial instalou em suas salas de reunião um mecanismo que calcula e exibe em tempo real o custo do encontro, com base no número de participantes e no valor médio da hora de trabalho da equipe.

O simples fato de fazer com que as pessoas tivessem consciência disso — e ficassem constrangidas em elevar desnecessariamente os custos para a instituição — levou a uma redução imediata e significativa no número de reuniões e na duração de cada reunião.

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