São Paulo: ela é bicampeã no ranking de melhores cidades para empreender, feito pela Endeavor (Thinkstock/Thinkstock)
Mariana Fonseca
Publicado em 17 de novembro de 2016 às 16h14.
Última atualização em 17 de novembro de 2016 às 17h19.
São Paulo – A cidade de São Paulo é, mais uma vez, a melhor localidade do país para abrir (e manter) uma empresa.
É o que diz o Índice de Cidades Empreendedoras (ICE 2016), que está em sua terceira edição. O estudo, elaborado pela entidade de fomento ao empreendedorismo Endeavor, avalia o ambiente empreendedor nas 32 cidades brasileiras com mais empresas de alto crescimento (as chamadas scale-ups).
Esses negócios devem apresentar um crescimento de ao menos 20% ao ano por ao menos três anos seguidos. Em um universo de cinco milhões de negócios, as scale-ups são apenas 30 mil, e geraram cerca de três milhões de empregos nesses últimos três anos.
O resultado do ICE 2016 foi divulgado hoje, em evento da Endeavor. O principal objetivo da pesquisa é fomentar o ambiente de negócios do país. Para isso, ela pretende identificar as melhores táticas replicáveis de incentivo ao empreendedorismo; criar indicadores mensuráveis ao longo do tempo; e gerar comparação e competição saudáveis entre as cidades participantes.
“Tínhamos uma preocupação muito grande sobre a condição de empreender no país”, ressalta Juliano Seabra, diretor da Endeavor. “Não adianta nada apoiar o empreendedor, ajudá-lo a crescer e perceber que a sensação de empreender no Brasil é estar correndo com um elástico amarrado na cintura. Você fica preso e não alcança a velocidade potencial que teria dentro de si.”
As melhores cidades para abrir e manter negócios trabalham justamente para acabar com tais amarras, por meio de incentivos em diversas frentes. Ao todo, são sete áreas determinantes: ambiente regulatório; infraestrutura; mercado; acesso a capital; inovação; capital humano; e cultura empreendedora.
Cada área possui um peso diferente na hora de calcular o resultado agregado. Um item como capital humano, por exemplo, tem maior peso na elaboração da média ponderada: sem uma boa equipe, é impossível que um negócio seja bem-sucedido. Ao todo, 60 indicadores foram mensurados no estudo.
Confira, a seguir, as melhores cidades para empreender no Brasil:
Posição em 2016 | Cidade | Posição em 2015 |
---|---|---|
1º | São Paulo | 1º |
2º | Florianópolis | 2º |
3º | Campinas | 5º |
4º | Joinville | 9º |
5º | Vitória | 3º |
6º | São José dos Campos | 6º |
7º | Porto Alegre | 7º |
8º | Sorocaba | 15º |
9º | Maringá | 11º |
10º | Ribeirão Preto | 12º |
11º | Belo Horizonte | 13º |
12º | Caxias do Sul | 16º |
13º | Blumenau | 20º |
14º | Rio de Janeiro | 10º |
15º | Curitiba | 8º |
16º | Brasília | 19º |
17º | Uberlândia | 18º |
18º | Recife | 4º |
19º | Londrina | 17º |
20º | Aracaju | 23º |
21º | Goiânia | 14º |
22º | Natal | 25º |
23º | Teresina | 31º |
24º | Cuiabá | 28º |
25º | Salvador | 24º |
26º | Belém | 29º |
27º | João Pessoa | 22º |
28º | Manaus | 26º |
29º | Fortaleza | 30º |
30º | São Luís | 27º |
31º | Campo Grande | 21º |
32º | Maceió | 32º |
São Paulo é a melhor cidade do Brasil para abrir e manter um negócio pelo segundo ano consecutivo – no ICE 2015, ela já havia conquistado o primeiro lugar. A cidade despontou por conta de, principalmente, três determinantes: acesso a capital, infraestrutura e mercado. São Paulo, diz a Endeavor, concentra 10% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e quase 60% dos investimentos de risco. Além disso, é o principal centro logístico do país.
São Paulo abriu uma maior distância em relação ao segundo lugar, Florianópolis. A cidade de Santa Catarina tem mais da metade dos universitários formada em cursos de alta qualidade, aumentou vagas nos cursos técnicos e possui muitos mestres e doutores. A qualidade do capital humano transforma Florianópolis em um centro de inovação e facilita a vida de quem empreende, ressalta Seabra.
Outros destaques são as cidades de Campinas e Joinville, que estão no terceiro e quarto lugares. Assim como Florianópolis, as duas regiões investem muito no quesito de educação e nos cursos de alta qualidade. Joinville, por exemplo, possui o maior Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) das cidades pesquisadas pela Endeavor. As cidades também possuem boa infraestrutura, com fácil acesso às principais capitais brasileiras.
É interessante notar o avanço das cidades interioranas neste ano: das dez primeiras colocadas, seis são do interior do país, desbancando algumas capitais fortes. Todas as cinco cidades do estado de São Paulo avaliadas estão no top 10, por exemplo.
O Rio de Janeiro (14º lugar) caiu quatro posições na comparação anual do Índice de Cidades Empreendedoras. Segundo a Endeavor, os empreendedores cariocas sofrem com o ambiente regulatório e condições internas complexas, com custos altos e a pior mobilidade urbana do relatório.
Curitiba (15º lugar) caiu sete posições, ficando atrás da cidade interiorana Maringá, também no estado do Paraná. Curitiba tem altos impostos e apresentou um recuo na oferta de crédito, além de a cultura empreendedora ser mais vista no interior, diz a entidade.
Por fim, Recife (18º lugar) viu o número de matriculados em cursos profissionalizantes ser reduzido em 26 mil, o que afeta a criação de capital humano. A cidade também enfrenta problemas de trânsito e teve queda nas compras realizadas pelo governo, o que desaquece os empreendimentos da região.
O quesito “ambiente regulatório” inclui aspectos como tempo de processos, custo de impostos e complexidade tributária. São avaliados o tempo de abertura de empresas; o tempo de regularização de imóveis; a taxa de congestionamento de processos tribunais; a alíquota interna média do ICMS e do IPTU; a alíquota do ISS; o número médio incentivos fiscais estaduais; as obrigações acessórias estaduais (leis que valem apenas para um lugar ou para um mercado específico); e o número atualizações tributárias.
Posição | Cidade |
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1º | Uberlândia |
2º | Brasília |
3º | Joinville |
A parte de “infraestrutura” avalia itens como o transporte interurbano e as condições urbanas de cada cidade. Ou seja: a facilidade em chegar até a cidade e de viver dentro dela. Por isso, são considerados aspectos como acesso a internet, custo de energia, preço do metro quadrado, trânsito e violência.
Posição | Cidade |
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1º | São Paulo |
2º | Sorocaba |
3º | Campinas |
O determinante “mercado” avalia o desenvolvimento econômico e os clientes potenciais das cidades, seja por parte do setor público ou do lado privado. Olha-se para o PIB total e o crescimento real do PIB; para a proporção de empresas exportadoras com sede na cidade (ou seja, a quantidade de internacionalização); e para os clientes potenciais. Esses clientes representam tanto pessoas físicas, por meio de PIB per capita, e pessoas jurídicas privadas e públicas, por meio da proporção de grandes empresas e de empresas públicas no total de empresas. Os resultados não são tão óbvios, destaca a Endeavor.
Posição | Cidade |
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1º | Sorocaba |
2º | Manaus |
3º | Brasília |
O “acesso a capital” foi dividido de duas formas pelo Índice de Cidades Empreendedoras: por meio da facilidade em contrair dívidas (pegar empréstimo) ou em conseguir capital de risco (por meio de investidores-anjos e fundos). De acordo com a entidade, esse indicador ressalta a grande concentração que São Paulo ainda possui quanto ao capital disponível para empreendedores.
Posição | Cidade |
---|---|
1º | São Paulo |
2º | Porto Alegre |
3º | Florianópolis |
A “inovação” é avaliada por meio de inputs e outputs. Os inputs são as matérias-primas disponíveis para gerar inovações, como especialistas em tecnologia, mestres e doutores e infraestrutura também no setor tecnológico. Já os outputs são os impactos gerados pela inovação, como proporção de empresas com patentes, tamanho das empresas criativas, tamanho das empresas de Tecnologia da Informação e transferência de patentes entre academia e empresas.
Posição | Cidade |
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1º | São José dos Campos |
2º | Florianópolis |
3º | Rio de Janeiro |
O determinante “capital humano” olha a disponibilidade tanto de mão-de-obra básica quanto de mão-de-obra qualificada. Há alterações relevantes nesse determinante quando saem as notas do Ibed e do Enem, por exemplo.
Posição | Cidade |
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1º | Florianópolis |
2º | Vitória |
3º | Porto Alegre |
Por fim, o indicador “cultura empreendedora” leva em consideração tanto o fomento ao empreendedorismo nas cidades analisadas quanto a imagem que o empreendedorismo tem nos locais. Há uma pesquisa com a própria população para ver como ela avalia os empreendedores.
Posição | Cidade |
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1º | Natal |
2º | Maringá |
3º | Teresina |
Seabra, da Endeavor, citou alguns impactos que as edições anteriores do Índice de Cidades Empreendedoras geraram – o que pode dar pistas sobre as reverberações do estudo anunciado hoje.
Dez prefeitos eleitos das 32 cidades analisadas se comprometeram a melhorar o ambiente de negócios de suas respectivas localidades.
Porto Alegre tem uma meta ambiciosa há anos, por exemplo: reduzir o tempo necessário para a abertura de uma empresa. O objetivo é passar de 484 dias para 60 dias (negócios de alto risco) ou para 5 dias (negócios de baixo risco). Esse projeto, chamado Simplificar, conta com a ajuda da Endeavor desde o começo de 2015. Segundo Seabra, já houve grande redução no tempo de abertura de empreendimentos em Porto Alegre, para pouco mais de 200 dias. A expectativa é chegar aos cinco dias de tempo de abertura até o fim deste ano.
O anúncio do ICE 2016 contou com os prefeitos de Campinas e de Joinville – que ocupam os terceiro e quarto lugares no ranking. Eles contaram seus aprendizados com o mundo do empreendedorismo e deram perspectivas futuras sobre suas regiões.
"O povo brasileiro tem essa vontade de empreender. O que nós precisamos fazer é desenvolver essa mentalidade", diz Jonas Donizette, prefeito de Campinas. "Governar é gerar oportunidades na vida das pessoas. Em Campinas, procuramos fazer essa parceria com as ideias dos empreendedores e facilitar a vida das pessoas. Em termos práticos, criamos uma via rápida para as empresas: o tempo de abertura passou de 180 para 8 dias."
Campinas criou também a "aprovação responsável imediata", diz Donizette: por meio dela, o empreendedor assina um documento aceitando as condições da prefeitura e em até 48 horas o alvará do imóvel é entregue. "Uma surpresa positiva: tivemos 100% de conformidade com as leis. A grande contribuição que tivemos é uma inversão de valores: no lugar de desconfiar da pessoa, você dá o crédito e a ajuda em um primeiro momento."
Já Udo Dohler, prefeito de Joinville, ressalta a criação do "Joinvalle": inspirada no Vale do Silício, a região fomentou o florescimento da economia criativa, segundo Dohler.
"Isso permitiu que Joinville se juntasse ao clube de cidades inteligentes e humanas. Lá, há cerca de 100 mentores que nos ajudam muito", afirma o prefeito. Nesses últimos três anos, isso tem permitido que a cidade de Joinville tenha enfrentado um grande desafio na sua economia: a centralização muito grande no setor mecânico, especialmente no automotivo - uma área que sofreu muito com a recessão econômica.