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Restaurante em SP já aceita bitcoins na hora de pagar a conta

A Tartuferia San Paolo, no Jardim Paulista, resolveu aceitar uma forma inusitada de pagamento: a criptomoeda descentralizada bitcoin

Tartuferia San Paolo, na Alameda Lorena: negócio aceita uma forma diferente de pagamentos desde o mês passado (Raphael Criscuollo/Tartuferia San Paolo/Divulgação)

Tartuferia San Paolo, na Alameda Lorena: negócio aceita uma forma diferente de pagamentos desde o mês passado (Raphael Criscuollo/Tartuferia San Paolo/Divulgação)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 24 de agosto de 2017 às 06h00.

Última atualização em 31 de agosto de 2017 às 11h55.

São Paulo – Quem está de olho em investimentos de risco sabe que há algum tempo só se fala em uma opção: comprar bitcoins.

Não é para menos: desde o início do ano, o preço da moeda virtual quadruplicou e chegou ao seu recorde histórico, chegando a ser comercializada a 4.320 dólares. No Brasil, seu valor chega a 14.000 reais por moeda.

Alguns dos atrativos da moeda para os investidores, além da rentabilidade, são criptografia das transações, o que dá mais segurança na transferência de valores, e o controle descentralizado que a rege. A bitcoin não é administrada por nenhum país ou sistema bancário; os pagamentos podem ser feitos por qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo, de forma ágil e sem intermediários.

Porém, será que a onda da bitcoin irá se espalhar para além dos investidores de risco? Veremos a criptomoeda descentralizada ser usada como meio de pagamento no varejo comum, assim como se paga algo por boleto ou se passa um cartão de crédito?

Alguns empreendimentos apostem nesse futuro. É o caso da Tartuferia San Paolo: o restaurante, localizado na Alameda Lorena (São Paulo), resolveu aceitar recentemente a bitcoin como mais uma forma de pagar a conta.

A Tartuferia

A ideia da Tartuferia nasceu no ano de 2001, quando o empreendedor serial Lalo Zanini queria montar um negócio tão inovador quanto seu anterior: a popularização da bebida absinto no Brasil. Além de possuir cerca de 50 casas pelo Brasil e pelo exterior, Lalo presta consultoria para pequenas empresas e startups que queiram montar projetos gastronômicos.

Naquele ano, surgiu a ideia de pegar um dos ingredientes mais caros do mundo – a trufa italiana – e colocá-la em todos os pratos de um restaurante com preços acessíveis. “Queria tirar aquela coisa de comer trufa em um prato de 500, 600 reais”, conta o empreendedor.

Lalo Zanini, empreendedor serial e dono da Tartuferia San Paolo

Lalo Zanini, empreendedor serial e dono da Tartuferia San Paolo (Milton Galvani/Tartuferia San Paolo)

Zanini fez muita pesquisa e depois visitou à Itália, com o objetivo de ver o processo e entender o que encarecia o produto final. Cerca de cinco anos depois, o projeto da Tartuferia San Paolo estava formatado. O restaurante foi lançado há três anos.

“Foram mais de doze anos de pesquisa, portanto. É a primeira casa de trufa do mundo com uma leitura brasileira e preço muito acessível”, defende o empreendedor. O ticket médio fica entre 96 e 112 reais por pessoa.

Para chegar à mesa do restaurante, a trufa é caçada por cães treinados nos campos da Itália, de onde embarca para o Brasil em tempo recorde, a fim de garantir seu frescor na hora de servir.

“Entendi que o mercado de restaurantes no Brasil ainda era muito verde, e quase tudo que você põe pode virar moda. Logo no primeiro dia, já enchemos”, diz Zanini.

O movimento do restaurante se consolidou quando o empreendedor colocou na Tartuferia a possibilidade de parcelar a conta em três vezes sem juros no cartão de crédito. O faturamento subiu 30% com a novidade.

Hoje, a Tartuferia San Paolo possui sete unidades em operação e espera crescer 65% neste ano em comparação com o ano passado. O plano é abrir outras dez casas no ano que vem, expandindo tanto com unidades próprias quanto pelo sistema de franquias.

Interior da Tartuferia San Paolo, na Alameda Lorena

Interior da Tartuferia San Paolo, na Alameda Lorena (Raphael Criscuollo/Tartuferia San Paolo)

A entrada das bitcoins

A experiência bem sucedida com o parcelamento de conta foi essencial para que Zanini fosse adiante com a ideia de incluir bitcoins em seu restaurante, tomada há poucos meses.

“Quando eu ouvi falar de bitcoin, já sabia que queria no meu restaurante imediatamente. Inovação que traz viabilização sempre me dá resultado. A própria Tartuferia nasceu desse princípio.”

Em poucas semanas, o meio de pagamento foi incluído no restaurante e opera desde julho. Ele funciona por meio de um aplicativo: o cliente scaneia o QR Code da conta com seu celular e as bitcoins são transferidas automaticamente.

Como a solução ainda é recente, não há dados sobre quanto isso representou para o faturamento da Tartuferia. O negócio irá começar a divulgar e fazer promoções relativas ao pagamento em bitcoins em outubro deste ano.

Quem desenvolveu e implantou esse sistema na Tartuferia San Paolo é a startup Coinwise. Baseado em Recife, no Porto Digital, o empreendimento foi criado no começo deste ano.

“Nosso propósito é trazer a bitcoin para a vida das pessoas. Temos duas linhas de negócio: uma voltada para experiências em pagamento e outra de soluções com blockchain que não são moedas”, explica Juliana Assad, co-fundadora da startup.

Ainda em projeto piloto, a startup só começou a operar em São Paulo a partir do interesse de Zanini no serviço, que será expandido para todas as unidades da Tartuferia.

“Estamos em uma fase de estruturação da inteira, montando o time e nossos serviços. Neste mês fazemos o lançamento oficial da nossa solução e almejamos uma expansão em ritmo lento”, explica Assad. Em três meses, a expectativa é que 50 clientes usem o serviço de pagamentos.

A bitcoin como meio de pagamento: previsões

Para a empreendedora, a onda de adoção da bitcoin por estabelecimentos do varejo ainda está bem no começo e irá demorar ao menos um ano para realmente pegar – mas apresenta benefícios visíveis aos negócios.

É o que também ressalta Helena Margarido, do escritório SumLaw. As startups que trabalham com o meio de pagamento de bitcoins, como a CoinWise, têm como função acelerar as transações, que podem levar minutos se forem feitas sem intermediários, e tornar a experiência do usuário mais simples. Além disso, o dono do estabelecimento não precisa pagar a taxa cobrada pelas maquininhas de crédito e débito, por exemplo.

Em troca de tais benefícios, tais startups costumam cobrar uma taxa de 1% do total transacionado - a média de taxas cobrada pelas formas tradicionais de pagamento gira entre 8 a 10%.

Para incentivar seus consumidores a gastarem suas bitcoins (mesmo com a moeda valorizando a cada dia), Margarido recomenda criar formas de incentivo, como promoções – exatamente o que a Tartuferia San Paolo fará nos próximos meses.

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