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Receitas para resistir à pressão

Pesquisa mostra como reajustes dos fornecedores afetaram pequenos e médios negócios nos últimos meses. Saiba que medidas tomar.

Calculadora (Flavio Takemoto/stck.xchng)

Calculadora (Flavio Takemoto/stck.xchng)

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Da Redação

Publicado em 17 de abril de 2011 às 08h00.

Houve um tempo em que, por total falta de alternativa, tornou-se natural para os empreendedores brasileiros conviver com índices inimagináveis de inflação. Felizmente, esses tempos sombrios ficaram para trás. Ainda assim, certo incômodo vem rondando a economia brasileira nos últimos meses. Desde o início do ano, a expectativa de aumento dos preços acima da meta definida pelo Banco Central ganhou espaço nas previsões dos analistas. Para alguns deles, o IPCA, índice usado para medir a inflação, deve chegar a 6,44%, 1,94 ponto percentual acima do centro da meta estabelecida pelo BC. Para os pequenos e médios empresários, esta pode ser a hora de se precaver para enfrentar um cenário de preços em alta. Os dois primeiros meses deste ano foram o período em que os fornecedores mais pressionaram por reajustes desde 2009, segundo uma pesquisa feita pela consultoria Deloitte com empreendedores das 200 pequenas e médias empresas que mais crescem, um ranking produzido anualmente pela Deloitte e por Exame PME. Veja algumas medidas que podem ser tomadas agora para lidar com esse novo cenário.

1-Negociar agora com os fornecedores 

Muitos empreendedores já estão tendo de lidar com aumentos de preços mais frequentes. Apenas 1% dos empresários que responderam à pesquisa da Deloitte disseram não ter sofrido reajustes de seus fornecedores nos últimos 12 meses. Em 43% dos casos, o aumento médio foi superior a 10%. Elaborar projeções de crescimento no volume de compras ajuda a barganhar preços mais baixos ou prazos mais longos com os fornecedores. “É preciso ser criativo nas negociações”, diz o consultor Artur Lopes, especialista em gestão para pequenas e médias empresas. Para evitar variações bruscas nos custos que comprometam a rentabilidade, empresas que tiverem dinheiro em caixa têm a opção de antecipar compras e fazer estoques das matérias-primas cujos preços têm mais probabilidade de subir, como é o caso das commodities. “Neste momento, também é importante evitar contratos de compra que sejam indexados pela inflação”, afirma Lopes.

2- Aumentar o rigor no combate à ineficiência

Um dos aspectos mais preocupantes dos reajustes frequentes nos preços das matérias-primas e dos serviços essenciais é seu impacto negativo sobre as margens de lucro. Num ambiente competitivo como se tornou o mercado brasileiro nos últimos anos, dificilmente será possível repassar todo o aumento de custos ao cliente. “É preciso reduzir custos para não correr o risco de perder rentabilidade caso os preços das matérias-primas continuem subindo”, diz o consultor Marcos Martins, professor do Ibmec, escola de negócios do Rio de Janeiro. “A combinação de inflação com descontrole nos custos pode ser catastrófica para os negócios.” Para adotar medidas de contenção de despesas sem comprometer a expansão do negócio, o primeiro passo é levantar informações e descobrir as áreas que concentram as maiores despesas e em quais estão as principais fontes de receitas. Com isso, é possível definir onde dá para cortar mais e preservar os recursos de atividades que geram caixa. Agora também é um bom momento para criar iniciativas que premiem os funcionários que economizam. 


3- Revisar os preços periodicamente

Quando a economia está estável, é aceitável que uma empresa revise seus preços a cada quatro ou seis meses. Com a inflação subindo, a recomendação dos especialistas é que essa revisão seja mensal. O monitoramento mais frequente ajuda a evitar que seja necessário fazer grandes reajustes de uma vez só, quando os custos do negócio já tiverem subido demais. É fundamental que a empresa mantenha o controle sobre o que está acontecendo com suas margens para saber a cada momento se sua operação continua rentável. Nem sempre será possível repassar integralmente o aumento de custos para os clientes, embora negócios bastante capitalizados estejam em condições melhores para absorver parte do impacto da inflação. A atitude errada a tomar é ignorar os riscos e empurrar a necessidade de aumentar os preços com a barriga para não se desgastar com os clientes. “Quem fizer isso estará criando um problema para o futuro”, diz o consultor Artur Lopes. “Se as margens caírem demais, será inevitável aumentar os preços e descontentar os clientes.”

4- Diversificar a clientela

Como a necessidade de praticar reajustes frequentes pode desagradar aos clientes, o risco de perdê-los aumenta. Os negócios mais vulneráveis são os que concentram as receitas numa clientela reduzida. “Quem estiver nessa situação deve começar já a diminuir essa concentração para evitar problemas no futuro”, diz Roberto Amatuzzi, da consultoria Excelia. Uma regra geral diz que mais de 80% do faturamento não deve vir de menos de 20% dos clientes nem que 30% das receitas venham de contratos com empresas do mesmo setor.  

5- Avaliar a suspensão dos investimentos

 Empresas prestes a começar projetos que exigem grandes investimentos devem avaliar a possibilidade de deixar para depois — sobretudo se o empreendedor tiver de recorrer a empréstimos bancários para levar o planejamento adiante. Como o aumento da taxa básica de juro é a principal arma do Banco Central para conter a inflação, a tendência é que o custo do dinheiro continue subindo — no início de março, a Selic chegou a 11,75% ao ano, o maior índice desde janeiro de 2009.  “Quem tem dinheiro em caixa deve poupar para preservar o capital de giro e diminuir o risco de ter de recorrer a um empréstimo no futuro”, diz o consultor Artur Lopes. Outro motivo para suspender investimentos é o impacto da alta dos juros sobre o consumo, capaz de afetar as receitas das empresas. “Os consumidores tendem a comprar menos, o que pode obrigar os empreendedores a rever suas metas para este ano”, diz Lopes.


6-Conter os aumentos na mão de obra

Nos últimos 12 meses, o aumento nos salários foi um dos fatores que mais pesaram nos custos das pequenas e médias empresas ouvidas pela Deloitte. A escassez de mão de obra que afeta, em maior ou menor grau, vários setores é apontada pelos especialistas como uma das razões para a inflação da folha de pagamentos. “Faltam bons profissionais, há vagas sobrando no mercado e os empreendedores estão tendo de aumentar suas ofertas salariais para contratar”, diz Martins, do Ibmec. O que fazer se, mesmo depois de recalcular as projeções de crescimento para o ano, ainda for preciso recrutar mão de obra? Oferecer aos candidatos uma renda maior atrelada à participação nos resultados ou benefícios como bolsas de estudo e treinamentos, sobre os quais não incidem encargos trabalhistas, pode ser uma opção para atrair talentos sem inflacionar demais a folha de pagamentos. Quem não precisar mais contratar deve fazer o possível para conter os aumentos, congelando vagas em aberto e promoções.

7-Monitorar o mercado a todo momento

Estar atento ao que acontece no mercado pode ser fundamental para que uma empresa consiga reagir rapidamente às mudanças repentinas. Uma iniciativa possível é destacar funcionários para formar uma espécie de grupo de pesquisa que traga informações que ajudem o empreendedor a tomar suas decisões com mais agilidade. Esse grupo pode ser encarregado de acompanhar as variações de preço dos fornecedores, reunindo dados que sejam úteis ao negociar a compra de insumos e matérias-primas — como médias de preços do mercado ou tendências de aumento na demanda. Também é importante monitorar a movimentação dos concorrentes para saber como eles reagem ao cenário da economia. 

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