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Ele começou um negócio com nada mais que uma planilha de Excel

O que é bootstrap? O americano John Doherty explica, na prática, como ter um negócio sem gastar muito

John Doherty, da plataforma Credo: ele conseguia bons resultados financeiros no trabalho, mas estava infeliz (John Doherty/Credo/Divulgação)

John Doherty, da plataforma Credo: ele conseguia bons resultados financeiros no trabalho, mas estava infeliz (John Doherty/Credo/Divulgação)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 12 de agosto de 2017 às 08h00.

Última atualização em 12 de agosto de 2017 às 08h01.

São Paulo – O empreendedor americano John Doherty enfrentava um problema que quase todo funcionário conhece bem: sofrer de um esgotamento físico e mental intenso, também conhecido como “síndrome de burnout”.

A fórmula para sair dessa situação surgiu de uma fonte inesperada: uma planilha de Excel. Começando um novo empreendimento a partir da junção de uma dor de mercado e uma simples tabela, Doherty criou seu próprio buscador de consultores. Em cinco anos de empreendimento, mais de 800 empresas já usaram a plataforma.

O que ele aprendeu com isso? Uma lição muito cara aos empreendedores, conhecida como bootstrap: tocar um projeto apenas com os recursos que estão ao seu redor.

Mudança de vida

Doverty acumulava dois empregos. Além de trabalhar 50 horas por semana em uma agência de marketing online, prestava consultoria de forma freelancer para clientes menores, que não se encaixam no perfil da agência.

Os resultados financeiros eram bons – mas ele estava infeliz. “O problema era que eu estava exausto e não tinha nenhum tempo livre”, conta Doherty em relato publicado no site Entrepreneur. “Para mim, a maior liberdade é decidir o que fazer com meu tempo.”

O ano era 2012. Doherty, então, tomou uma decisão radical: anunciou aos seus clientes que não daria mais consultorias. Mas, quando esses consumidores perguntavam quem procurar no lugar, o empreendedor também não tinha indicações de novos consultores.

“Nessa hora, decidi sanar minha própria dor e construir essa lista”, escreve. Doherty criou uma planilha do Microsoft Excel com alguns nomes:

Planilha de Excel que daria origem à plataforma Credo, de John Doherty

Planilha de Excel que daria origem à plataforma Credo, de John Doherty (John Doherty/Credo)

Conseguindo seu primeiro pagamento pelas indicações, de 50 dólares, o empreendedor também comprou um domínio e abriu um site bem simples, com os dizeres “Hiregun – Ache seu próximo consultor de confiança.”

Tela de reprodução do site Hiregun, que daria origem à plataforma Credo

Tela de reprodução do site Hiregun, que daria origem à plataforma Credo (John Doherty/Credo)

Cinco anos depois, muita coisa mudou. O site, agora chamado Credo, possui recursos como feed de projetos, notificações e canais de comunicação.

Os usuários podem se cadastrar na plataforma e criar pedidos com serviços buscados, orçamento e perfil de provedor. A plataforma entra em contato com o usuário e faz perguntas mais avançadas. A partir dos dados, faz a conexão entre agências ou consultores mais adequados por projeto, já dentro dos requerimentos de segurança do Credo. Por fim, as partes podem acertar as condições do serviço.

Até agora, mais de 800 negócios já acharam uma agência ou um consultor de marketing pelo Credo, com cerca de quatro milhões de dólares em projetos transacionados. “Mas tudo isso começou de forma humilde – como todas as companhias que só possuem seus próprios recursos devem fazer”, defende.

A importância do bootstrap

Começar um negócio sem nenhum investimento externo, sobrevivendo apenas do que o empreendimento produz, parece loucura – mas Doherty lista alguns benefícios dessa difícil empreitada.

A primeira vantagem é que um negócio desses só pode nascer de uma dor real. “Você pode até não construir um unicórnio (um negócio avaliado em mais de um bilhão de dólares), mas você identificará uma necessidade real do mercado e construirá um negócio que se adeque a ela”, diz Doherty.

Para ele, a maioria dos empreendedores que praticam bootstrap começaram seus empreendimentos como um projeto paralelo, para resolver seus próprios problemas ou da empresa em que trabalhavam.

Em segundo lugar, um ponto importantíssimo: lucrar é questão de vida ou morte para quem não tem dinheiro extra na conta. Você consegue manter o foco em saber se seus consumidores de fato pagariam por seu produto ou não.

“Negócios que trabalham com bootstrap possuem tanto o privilégio quanto a necessidade de trabalhar só naquilo que importa”, defende o empreendedor.

“O tempo é essencial. Se você não está levando sua empresa para a frente, ela está morrendo. Você está provavelmente lutando contra grandes concorrentes, com orçamentos maiores do que o seu, então o foco é o mínimo para você ter uma chance.”

Da mesma maneira, seu negócio não terá investidores ou rodadas de aporte por trás. Por um lado, tal fato é estressante: você precisa gerar receita suficiente para cobrir os custos do seu negócio e, com muita sorte, seus gastos pessoais.

Por outro lado, não ter investidores também tem um aspecto benéfico: você não recebe ordens de ninguém – só dos seus clientes. “Os negócios que operam por bootstrap são muito divertidos. Você consegue montar um negócio nos seus próprios termos.”

Então, como fazer bootstrap na prática?

Para terminar, Doherty citou alguns passos para você montar um negócio com seus recursos existentes.

“Primeiro: escreva as dores que você percebe na sua vida e no seu trabalho atual. Não se preocupe se elas são solucionáveis ou não – só escreva”, aconselha. “Depois, pense como resolver esses obstáculos com conteúdo ou com ferramentas. Escreva e veja se tudo isso faz sentido.”

Em terceiro lugar, arranje quem pague pela sua solução. “Nem todo mundo vai querer. Mas, se você achar dez pessoas cujo problema você pode resolver, você pode achar 100”, afirma.

O próximo passo é construir esse conteúdo ou essa ferramenta. Verifique se você está de fato resolvendo uma dor, enquanto se esforça para manter custos mínimos.

No caminho, achar alguns mentores incríveis pode tornar o processo bem mais fácil. “Eu tenho muita sorte de ter quatro empreendedores que eu considero mentores fundamentais para o crescimento do meu negócio. Fiz contato com eles ao seguir seus trabalhos, entregar valor, conseguir ser apresentado por amigos em comum ou simplesmente mandando e-mails secos”, conta.

Por fim, um último conselho: a vida de empreendedor econômico é difícil, mas com o tempo você se acostuma – e se sente recompensado por ao menos haver tentado.

“Saiba que criar um negócio só com seus próprios recursos e fazê-lo virar algo significativo e sustentável já é um grande feito. Ir crescendo além disso é ainda mais divertido.”

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