O Impossible Whopper, do Burger King: hambúrguer vegano promete menos gorduras e colesterol, mas mesmas proteínas, por um dólar a mais (Burger King/YouTube/Reprodução)
Mariana Fonseca
Publicado em 2 de abril de 2019 às 06h00.
Última atualização em 6 de maio de 2019 às 18h50.
A rede de fast food Burger King, que afirma receber 11 milhões de clientes todos os dias, pode em breve perguntar se você quer ou não carne no seu lanche. O negócio firmou uma parceria que pode acelerar startups que pretendem revolucionar a alimentação por meio da tecnologia: venderá hambúrgueres feitos com plantas em algumas unidades de sua rede, com 7.200 lojas apenas nos Estados Unidos.
O lanche, batizado de Impossible Whopper, será feito com tomate, alface, maionese, ketchup, picles, maionese (aparentemente não vegana) e um hambúrguer vegano da Impossible Foods. A startup já tinha grandes proporções antes de fechar a parceria com a rede de fast food, mas agora mais do que dobra o número de estabelecimentos com seu produto, de acordo com o jornal The New York Times.
O Burger King já divulgou uma publicidade com o hambúrguer “impossível”, por enquanto apenas em St. Louis, cidade no estado americano Missouri. Segundo o site financeiro Bloomberg, a iniciativa abarca 59 restaurantes na região.
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Ao The New York Times, o diretor de marketing Fernando Machado afirma que consumidores e funcionários não perceberam diferença entre um Whopper comum, sanduíche que é o carro-chefe da marca, e um Impossible Whopper.
O novo produto possui a mesma quantidade de proteínas, mas 15% menos gorduras e 90% menos colesterol. Ele custará um dólar a mais do que o hambúrguer tradicional.
A Impossible Foods (ou “Comidas Impossíveis”) é uma startup californiana criada em 2011, na região de São Francisco. Sua missão é “salvar a carne e o mundo”, produzindo alimentos tão saborosos quanto a carne e o queijo sem a necessidade de seus geradores naturais. “Usar animais para produzir carne é pré-histórico e uma tecnologia destrutiva”, afirma a empresa em seu site.
O negócio é especializado em produzir hambúrgueres e queijos feitos a base de plantas. O ingrediente-chave da Impossible Foods é o heme, molécula feita a partir de um átomo de ferro que, associada a uma proteína, forma a hemoglobina. Segundo a startup, o que dá sabor às carnes é o heme e o recria a partir de uma levedura que produz leg-hemoglobina, presente na soja. A aparência de sangue nos hambúrgueres impossíveis se deve ao uso de beterrabas.
Cerca de um bilhão de pessoas dependem da criação e produção animal para sua sobrevivência e a demanda por tais alimentos deve crescer 70% até 2050, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura. Em 2017, 323 milhões de toneladas de carne foram produzidas globalmente, número que deve chegar a 367 milhões de toneladas nos próximos dez anos. O Brasil é um dos cinco maiores produtores de carne do mundo, ao lado de China, Estados Unidos, União Europeia e Rússia.
Porém, há consequências graves dessa atividade na sobrevivência do planeta. O setor ocupa um terço das terras aráveis em todo o mundo, com a decorrente degradação de 20% dos pastos e de 70% das áreas sem vegetação. A criação e produção animal usa um décimo do consumo total de água por humanos no mundo e gera poluição pelo uso de fertilizantes, hormônios e pesticidas ou pela emissão de gás carbônico em uma taxa maior do que a vista combinando todas as emissões de meios de transporte.
Um hambúrguer impossível usa 96% menos terras, gasta 87% menos água e emite 89% menos gases que geram o efeito estufa do que um hambúrguer comum, de acordo com a Impossible Foods.
A Impossible Foods já obteve 387,5 milhões de dólares em investimentos, ou 1,46 bilhão de reais. Entre seus financiadores estão fundos como o Temasek Holdings e o Sailing Capital, que investiram respectivamente nas gigantes chinesas de tecnologia Alibaba e Didi Chuxing, e personalidades como Bill Gates, o criador da Microsoft.
Segundo a Bloomberg, a Impossible Foods entrou em restaurantes no ano de 2016, indo dos pequenos restaurantes de São Francisco a redes americanas de maior escala, como Umami Burger, White Castle e o recém-anunciado Burger King. Seu próximo passo é vender os hambúrgueres impossíveis em mercados, mas a startup depende da aprovação da Food and Drug Administration, espécie de Anvisa americana.
A Impossible Foods enfrenta a disputa de uma série de startups que estudam a forma mais eficiente e saborosa de produzir alimentos e bebidas veganos. Sua concorrente mais conhecida é a também americana Beyond Meat, criada dois anos antes e com 122 milhões de dólares em investimentos.
Na América Latina, um exemplo é a The Not Company, que usa inteligência artificial em alimentos a base de plantas. Sua não-maionese conquistou o Jeff Bezos, o homem mais rico do planeta e criador do comércio eletrônico Amazon. Neste mês, a empresa chilena deverá chegar ao Brasil, por meio de uma parceria com o grupo varejista Pão de Açúcar. A startup recebeu 30 milhões de dólares em aportes.
O Burger King também enfrenta concorrentes diretos no fast food vegano. O fast food americano McDonald’s já criou um lanche vegetariano, com queijo coalho no lugar do hambúrguer, e está testando um nugget vegano, feito de grão-de-bico, milho e batata. Redes como Taco Bell e Chipotle, de comida mexicana, estão respectivamente testando menus vegetarianos e expandindo opções vegetarianas e veganas. Se tais opções irão cair no gosto dos consumidores o suficiente para superar pratos com carne tradicional, só os os próximos anos de resultados dirão.