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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
O Instituto Ethos está organizando um programa para ensinar práticas responsáveis a pequenas e médias empresas. Financiado pelo Banco Internacional de Desenvolvimento (BID) e pelas próprias grandes empresas envolvidas, o programa conta com um orçamento de 2,6 milhões de dólares. A idéia é que oito grandes corporações orientem pequenas e médias empresas de suas cadeias de fornecedores a respeito da responsabilidade social.
Os setores envolvidos no programa são petróleo e gás, energia elétrica, varejo, construção civil, mineração, siderurgia, açúcar e álcool. A Belgo, na área de siderurgia, a rede de varejo Extra e a construtora Camargo Corrêa são algumas das empresas participantes. O projeto dura três anos. "Em alguns setores, como agronegócios e construção civil, é mais difícil fazer valer a responsabilidade social", diz Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos. "Mas esperamos bons resultados em todas as áreas." Young defende que a atuação socialmente responsável não desvia a empresa de seu principal objetivo -- dar lucro. "Pelo contrário, a longo prazo, traz rendimentos diretos e aumenta a competitividade e a chance de sobrevivência", diz. Segundo ele, seria um instrumento de gestão eficaz e acessível também às pequenas e médias empresas. A seguir, alguns trechos da entrevista que Young concedeu para o portal de EXAME PME:
Como uma empresa pode ser socialmente responsável?
A gestão socialmente responsável passa por quatro fases. A primeira é a implementação de uma administração ética e transparente. A segunda é a adoção dessa postura em relação aos parceiros - distribuidores, fornecedores e mercados. Depois, deve-se causar bons impactos na comunidade, com ações sociais. E, por fim, gerar ações que sejam indutoras de políticas públicas.
As pequenas e médias empresas devem - ou conseguem - chegar até que fase?
Existe um mito de que a pequena empresa é coitadinha, sem recursos. As pequenas e médias empresas têm uma dimensão restrita de negócios, mas isso não significa que, em sua própria escala, elas não podem alcançar a responsabilidade social em todas as etapas. Há incontáveis exemplos neste sentido. Em Brasília, o dono de um açougue de bairro resolveu colocar uma biblioteca em sua loja. Clientes passaram a doar livros, e a pegá-los emprestado também. A empresa gastou pouquíssimo, e logo ficou conhecida na comunidade, serviu escolas e adicionou valor na relação com seu consumidor.
Qual a relação entre responsabilidade social por parte das empresas e o desenvolvimento de um país?
Na conferência do BID no ano passado, o professor James Austen, de Harvard, mostrou que as principais vantagens competitivas da Coréia, Tailândia e Vietnã vinham de investimentos em educação e do suporte à criança e ao adolescente. O lucro não virá sem o desenvolvimento da sociedade. Se os negócios precisam dar lucro, também é preciso elevar padrões econômicos e culturais da sociedade.
Mas, na prática, é possível calcular este tipo de ganho?
Nos últimos dois anos, as ações da Natura valorizaram 234%. De 10 grandes consultorias de mercado, 6 aconselham a compra dos papéis da empresa. Em parte isso aconteceu porque a Natura, ao praticar responsabilidade social, tem gerado valor. Suas práticas de boa governança, a publicação de balanços sociais, o fato de a empresa não usar nada que possa produzir poluição fazem da Natura uma empresa diferenciada.
Que tipo de investimento inicial as pequenas e médias empresas devem fazer?
A responsabilidade social é tão acessível quanto as tradicionais ferramentas tradicionais de gestão. As pequenas e médias podem usar os indicadores Ethos, que são gratuitos, e estão no nosso site [clique aqui para visitar os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social]. Lá, é possível saber em que patamar de desenvolvimento sustentável uma empresa se encontra, quando comparado a um banco de dados de quase 600 empresas. É um começo.