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Por que o Vale do Silício pode acabar como cidade fantasma

Empreendedores e investidores estão buscando outras cidades para se instalar e podem deixar a meca das startups às moscas.

O Vale do Silício, nos Estados Unidos: região enfrenta alto custo de vida e invasão de especuladores (David McNew/Newsmakers/Getty Images)

O Vale do Silício, nos Estados Unidos: região enfrenta alto custo de vida e invasão de especuladores (David McNew/Newsmakers/Getty Images)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 21 de junho de 2016 às 15h24.

Última atualização em 16 de março de 2017 às 19h06.

São Paulo - Quando se pensa no berço das startups, apenas um lugar vem à mente dos empreendedores: o Vale do Silício, nos Estados Unidos. É lá que estão instaladas empresas como Google, Facebook, Apple e Netflix.

Porém, há um novo movimento surgindo no país: empreendedores e investidores estão propositalmente fugindo da região e buscando cidades menores e com menor atenção midiática.

O resultado? Muitos conseguem uma rentabilidade até maior do que a que costuma ocorrer no Vale.

A saturação do Vale

Por que a rentabilidade do Vale do Silício está diminuindo em relação a outras cidades americanas? Seu sucesso possui uma outra face: alto custo para estreantes e atração de especuladores.

Viver em São Francisco, região que abriga o Vale do Silício, é um desafio: de acordo com o site americano de aluguéis Zumper, o custo médio para alugar um apartamento de um dormitório é de 3.590 dólares (cerca de 12.200 reais, pela cotação atual). Enquanto isso, o salário mínimo é de 12,25 dólares a hora - 6.664 reais, para uma jornada de 40 horas semanais.

Segundo o site Quartz, São Francisco pode virar uma cidade fantasma, diante de tamanho custo de vida.

"Apesar de um engenheiro de software do Google poder realmente ganhar um salário de seis dígitos, empresas de tecnologia também precisam de funcionários para vender seus produtos e consertá-los, para administrar seus escritórios e varrer o chão. Esses trabalhadores não ficarão por muito tempo se não conseguirem pagar o aluguel", diz o veículo. Portanto, quem quiser abrir uma empresa na área terá de gastar muito em salários para a equipe.

Além dos valores exorbitantes, muitos donos de startups são atraídos pelo clima do Vale do Silício e não fazem um planejamento sério - como se apenas estar no local fosse garantir o sucesso do negócio. O resultado é brutal: nove de cada dez startups que se instalam no Vale do Silício quebram em poucos meses.

Essa especulação não está somente do lado dos empreendedores. O sucesso do Vale do Silício atrai, inclusive, investidores que procuram alto risco. Quando a empresa que recebe o aporte não vira o próximo Facebook ou Google, tanto ela quanto o investidor quebram. E nenhum empreendedor quer por perto apenas um especulador: investimento pressupõe parceria estratégica e, no caso de um investidor-anjo, até mesmo aconselhamento.

Novas cidades

Apesar de todos esses problemas, o Vale continua sendo a maior referência para as startups de todo o mundo. Será ainda vale a pena se instalar ali?

Segundo um estudo feito pela companhia de análise e pesquisa Pitchbook, a resposta é não: o Vale não é, nem de perto, o local mais rentável para os empreendimentos.

Foram levados em consideração critérios como quantidade de investimentos obtida e aquisições e IPOs (ofertas públicas iniciais de ações) bem sucedidos. A empresa criou um indicador de rentabilidade baseado no valor de saída obtido dividido pelo total de aportes captados pela startup; só foram aceitas cidades com no mínimo 30 startups que se encaixavam no recorte do estudo.

A primeira colocada no ranking em termos de rentabilidade é a cidade de Chicago: 45% dos investimentos feitos ali renderam 10 vezes ou mais.

RegiãoStartups com 10x ou mais de retorno sobre o investimento
Chicago45%
Los Angeles29%
Raleigh/Durham26%
Washington26%
Baía de São Francisco25%
Seattle25%
Atlanta23%
Filadélfia22%
Nova York22%
Boston17%
Austin16%
San Diego9%

Já falamos dela em um estudo do Inc. sobre ecossistemas empreendedores emergentes: a cidade abriga uma indústria diversa, indo de transportes a educação e saúde; possui um grande cenário de investimentos, com investidores-anjo e iniciativas de crowdfunding (saiba mais sobre esse modelo de investimento); e concentra talentos na área de tecnologia.

Para efeitos de comparação, na baía de São Francisco 25% dos investimentos rendem 10 vezes ou mais: isso faz com que o Vale fique na quarta posição do ranking, se equipararmos cidades com iguais porcentagens.

Já levando em consideração investimentos de todas as rentabilidades, a melhor colocada na lista é a capital dos Estados Unidos: Washington. Com esse critério, São Francisco fica em terceiro lugar, perdendo também para Los Angeles. Chicago ocupa a quarta posição.

RegiãoMédia de valor de saída/investimento total na empresa
Washington11,04
Los Angeles10,89
Baía de São Francisco8,23
Chicago8,17
Raleigh/Durham8,13
Filadélfia7,69
Boston7,59
Atlanta7,48
Seattle7,04
Nova York6,94
San Diego6,73
Austin3,97

Tendência

Esse movimento de troca do Vale do Silício por cidades menores não é exclusividade dos americanos: startups brasileiras já estão de olho nesses novos locais, pensando em conseguir o incentivo ao empreeendedorismo comum aos Estados Unidos, mas sem arcar com os valores do Vale. Já citamos, por exemplo, a Hotelli, que escolheu a cidade de Portland (Oregon) para abrir seu escritório.

Matéria atualizada às 15h17.

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