Márcio Dantas (CTO), João Gabriel Alkmim (CEO) e Tiago Barros (diretor de crescimento), da Vitta: experiência própria gerou ideia de plano de saúde exclusivo para startups (Vitta/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 15 de outubro de 2019 às 06h00.
Última atualização em 15 de outubro de 2019 às 15h59.
O Brasil tem mais de 12 mil startups. Elas se tornaram mercado fértil para startups que atendem, veja só, outras startups. Negócios escaláveis e tecnológicos possuem uma cultura de trabalho e de processos diferente de empresas tradicionais -- e o empreendimento Vitta percebeu a oportunidade para lançar um plano de saúde exclusivo aos membros de startups.
São produtos exclusivos para negócios escaláveis tecnológicos, desde faixas de planos com os nomes bull, unicorn e valkyrie até a tabela de preços, de 15% a 20% menor do que ofertas similares em corretoras tradicionais. A Vitta tem um fila de mais de 14 mil vidas, de mais de 200 startups, esperando tais produtos. No futuro, essa frente de negócio pode representar 40% do faturamento da Vitta. A startup tem oito cofundadores e investidores como Jorge Paulo Lemann (3G Capital), Armínio Fraga (Gávea Investimentos) e Andre Street (Stone).
A mineira Vitta começou em 2014, já atuando no mercado de saúde. O primeiro produto da startup foi uma ferramenta de prontuário eletrônico para médicos. A frente atende mais de 15 mil médicos em 25 estados brasileiros e tem como objetivo reduzir burocracias e permitir que eles passem mais tempo com seus pacientes.
Uma dor ainda maior surgiu da própria experiência dos cofundadores João Gabriel Alkmim e Lucas Lacerda na Vitta: o aumento de custos com planos de saúde. No primeiro ano de uso, o reajuste foi de 17%.
“As seguradoras costumam trabalhar com uma margem de 25%, estimando custos de 75%. Mas geramos um custo de 40% do total contratado. Deveríamos ter tido uma redução no preço dos planos de saúde”, diz Alkmim. “Tivemos a ideia de conectar empresas a médicos que olhavam mais aos pacientes e mais preventivos, reduzindo as ocorrências e a necessidade de reajustar plano.”
A Vitta adquiriu uma corretora de planos de saúde no final do ano passado. Em março de 2019, passou a administrar produtos de prateleira para outras empresas junto a uma solução própria de atendimento, chamada Prime Care.
As empresas que contratam a Vitta têm direito aos planos e ao benefício de atendimento constante aos funcionários por canais como WhatsApp. Enfermeiros, concierges e farmacêuticos fazem a triagem dos problemas dos funcionários e os indicam a médicos que estão no plano de saúde adquirido e já usam os prontuários eletrônicos da Vitta. As consultas são agendadas em cerca de 24 horas, com uma ferramenta de geolocalização que busca profissionais perto do trabalho ou da residência do funcionário. Segundo estimativas da startup, uma consulta tradicional pode levar 15 dias para ser agendada.
Todos possuem um histórico digital do paciente e fazem um atendimento mais preventivo, incluindo o envio de alertas sobre exames e acompanhamento após procedimentos. Alguns médicos recebem por hora, e não por consulta, incentivando um atendimento mais cuidadoso aos pacientes.
O Prime Care atende startups que adquiriram um grande porte, como Geru, Mobly e Stone. São 70 companhias clientes e mais de 80 mil vidas sob administração. Segundo Alkmim, enquanto operadoras de planos de saúde tradicionais possuem uma margem ebitda de 30%, a Vitta tem uma de 4 a 6%. A startup aposta menos nas margens e mais na fidelização dos clientes, gerando ganhos em longo prazo.
Por trás da startup estão investidores de peso: Jorge Paulo Lemann, Armínio Fraga e Andre Street. A startup também tem hoje 13 sócios além de Alkmim e Lacerda, oito deles também considerados cofundadores. A Vitta tem um programa de sociedade que dá participação em troca de excelência em suas funções -- modelo adotado por outros negócios escaláveis e inovadores, como na mineira Méliuz.
O teste com startups que ganharam um porte maior serviu para que as seguradoras se abrissem para propostas específicas a negócios escaláveis e tecnológicos. Olhando para mais formas de oferecer planos de saúde corporativos acessíveis, a Vitta reparou que as startups em estágio mais inicial geralmente possuem baixas taxas de sinistros (ocorrências) por conta de escolaridade, estilo de vida e idade dos membros. Tais negócios também estão mais abertos a soluções completamente digitais.
No mês passado, a Vitta lançou planos de saúde específicos para o mercado de startups, em parceria com as seguradoras Omint e Unimed. A lista de espera está com mais de 14 mil vidas cadastradas em mais de 200 startups.
São faixas de planos com nomes descolados -- bull, unicorn e valkyrie -- e preços mais acessíveis. Desta vez, a Vitta adaptou os planos de prateleira das seguradoras e selecionou hospitais para baratear o preço, colocando o Prime Care como um diferencial maior. Com a mudança, o plano de saúde pela Vitta fica de 15% a 20% mais barato do que produtos com os mesmos benefícios e das mesmas seguradoras oferecidos a empresas tradicionais, segundo a própria startup.
Alkmim estima que o plano de saúde para startups possa representar 40% do faturamento da Vitta em longo prazo -- ou até mais, dependendo de quanto os negócios escaláveis e tecnológicos brasileiros crescerem. Levando em conta apenas a captação de investimentos como critério, é uma aposta promissora.