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Por que ele saiu da Nova Zelândia e abriu um café no Brasil

Marco Kerkmeester foi diretor da gigante IBM por dez anos na Nova Zelândia – até que decidiu largar tudo para empreender em terras brasileiras

Marco Kerkmeester, do Santo Grão:  (Santo Grão/Divulgação)

Marco Kerkmeester, do Santo Grão: (Santo Grão/Divulgação)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 18 de fevereiro de 2018 às 08h00.

Última atualização em 18 de fevereiro de 2018 às 08h00.

São Paulo – Os relatos sobre brasileiros que deixam o país para abrir negócios se tornaram cada vez mais comuns, especialmente com a recessão econômica dos últimos anos. Enquanto isso, empreendedores estrangeiros enxergam muita oportunidade para criar negócios inovadores (e de sucesso) em terras brasileiras.

É o caso de Marco Kerkmeester. Natural da Nova Zelândia, ele foi diretor na gigante IBM durante dez anos e vivia uma vida de luxos. Mesmo assim, sentia-se infeliz com seus rumos profissionais. Um dia, decidiu abandonar a empresa para abrir a própria cafeteria em São Paulo, terra natal de sua noiva.

Hoje, o Santo Grão é uma rede com unidades espalhadas por Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. Apenas em 2017, o negócio faturou 34,4 milhões de reais.

Decisão de vida

Kerkmeester entrou na IBM para trabalhar na área de marketing. Ele chegou a liderar um time de 120 pessoas, com um orçamento anual de 4 bilhões de dólares.

“Um dia, acho que eu pifei. Percebi como vivia tentando agradar os outros, tendo atitudes que não eram naturais e forçando os outros a terem esse mesmo comportamento. Não acho que seja um jeito saudável de trabalhar”, conta Kerkmeester. Um exemplo era pressionar sua equipe a bater as metas agressivas de vendas, que giravam em torno de 2,4 bilhões de dólares por ano.

O neozelandês conta que cresceu em uma fazenda, dividindo seu quarto com três irmãos, e considerava ter uma vida simples e extremamente apaixonante. E percebeu que não sentia essa mesma satisfação como executivo de uma multinacional.

Kerkmeester era noivo de uma brasileira e ambos se perguntavam o que iriam fazer e onde iriam morar. Eles se decidiram por São Paulo, onde estavam os sogros do empreendedor. Além de apoio familiar, Kerkmeester conta que se decidiu pelo Brasil ao pensar no que queria para seus futuros filhos.

“Percebi que o Brasil estava fazendo algo certo. Poucos países que eu visitei, talvez nenhum deles, tinham um povo tão feliz”, afirma. “Quero que meus filhos tenham isso. Depois eles podem estudar em outros países, mas quero que no fundo eles tenham o amor um pelo outro que os brasileiros possuem.”

Com o destino decidido, bastava escolher a próxima atividade profissional. Kerkmeester refletiu sobre em quais espaços conseguiria ser ele mesmo. “Lembrei que, quando viajava para países distantes, gostava de ficar sentado em uma cafeteria, tomando café e pensando. Poderia estar sozinho, escrevendo apresentações, ou conversando com um cliente. Era esse tipo de negócio que eu queria montar.”

Em agosto de 2003, após um investimento de 1,3 milhão de reais, Kerkmeester abriu a primeira unidade do Santo Grão. O empreendedor estudou mais sobre o mercado de cafés e mobilizou pessoas que amam cozinhar e se conectam com a proposta de criar um lugar onde as pessoas possam ser elas mesmas.

Expansão e propósito

“Nossa filosofia é fazer coisas verdadeiras. Não há nada melhor do que um café que é o que é, pratos que são o que são. Fazemos as coisas com compromisso, com cuidado nos ingredientes, tendo bebidas e pratos maduros”, analisa o fundador.

Hoje, o Santo Grão possui oito unidades operando - sete em São Paulo (Cidade Jardim, Higienópolis, Itaim, Jardins, Moema, Morumbi e Vila Madalena), uma em Curitiba e uma boutique em construção no Rio de Janeiro.

Marco Kerkmeester, do Santo Grão, atuando como garçom em uma das cafeterias

Marco Kerkmeester, do Santo Grão, atuando como garçom em uma das cafeterias (Santo Grão/Divulgação)

A rede emprega 250 funcionários diretos e afirma que cada membro incorpora uma cultura de “ser o seu próprio cliente.”

“O barista, quando faz seu café, está plenamente satisfeito. Se o cliente recebe o café e não o aprova, eu espero que o barista pergunte, prove e busque uma bebida que deixe ambos satisfeitos. Também espero que os garçons contem seus pratos preferidos e, ao mesmo tempo, falem das especialidades da casa. É assim que trabalhamos e expressamos nossos produtos”, afirma Kerkmeester.

Os ambientes dos cafés também se adaptam. Cada unidade é gerenciada por um sócio que começou como funcionário do Santo Grão, e a arquitetura e design do local expressam as preferências de cada gestor. “Pintamos cada cafeteria de uma cor, por exemplo. Mesmo assim, gostamos de ouvir as ideias dos nossos clientes. Um dos consumidores pode sugerir uma nova cor, e aí avaliamos a melhora.”

Para o empreendedor, os funcionários são o grande diferencial da rede. Além de “só contratar pessoas com as quais quer tomar café”, a rede investe 100 mil reais por ano em cursos de coaching, neurolinguística e liderança situacional. Também há oficinas de criação de novos pratos e de atendimento a clientes.

“Somos um café, mas nosso maior investimento é em educação para que as pessoas identifiquem quem são e que tenham coragem de expressar seus propósitos não apenas por palavras, mas pelos produtos que oferecemos.”

Em 2017, o Santo Grão faturou 34,4 milhões de reais. Em 2018, a rede espera abrir uma torrefação própria com maior capacidade e dar conta da demanda. O faturamento deve crescer 12%.

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