Start (foto/Thinkstock)
Mariana Desidério
Publicado em 16 de agosto de 2017 às 06h00.
Última atualização em 16 de agosto de 2017 às 06h00.
São Paulo – Não são poucos os que têm o sonho de ter seu próprio negócio e, em tempos novas tecnologias, sua própria startup inovadora.
Porém, antes de se aventurar no mundo do empreendedorismo, é preciso estar ciente das dificuldades que você encontrará pelo caminho. Afinal, uma em cada quatro startups fecha com menos de um ano de funcionamento, segundo informações da Fundação Dom Cabral.
Mas por que elas fecham? Uma pesquisa realizada pela Gama Academy, uma escola focada em profissões do futuro, ajuda a responder a essa pergunta. Batizado de Cemitério de Startups, o estudo levantou a causa mortis de 46 empresas que toparam abrir essas informações.
O principal motivo de fracasso encontrado entre essas empresas foi o time, seguido pelo modelo de negócios.
O estudo se baseou numa pesquisa semelhante feita nos Estados Unidos e usou os mesmos critérios daquela pesquisa. São eles: ideia, time, modelo de negócio, recursos e timing. No cenário americano, a principal causa mortis foi timing, ou seja, empresas lançadas antes ou depois do momento adequado.
Para Guilherme Junqueira, CEO da Gama Academy, o fato do principal motivo de fracasso para as startups estudadas ser a sua equipe revela um problema em nosso ambiente empreendedor.
“No Brasil é muito difícil você ter o empreendedorismo como uma saída de carreira. Com isso, o empreendedor acaba tendo que montar o seu negócio com os sócios que estão no seu horizonte, um amigo, alguém que estudou com ele, só que às vezes aquela não é a melhor pessoa”, avalia.
Outro dado que chamou a atenção foi o montante investido em algumas das startups participantes – há casos de empresas que receberam aportes de 900 mil ou 1,2 milhão de reais e que infelizmente não sobreviveram. Para Junqueira, esses exemplos mostram que ter muito dinheiro disponível nem sempre é algo bom para o negócio.
“Isso mostra primeiro que não é o dinheiro que garante o sucesso, e segundo que dinheiro demais também pode levar ao fracasso, deixa o empreendedor numa zona de conforto e não o incentiva a se mexer”, afirma.
Outro ponto é que, na visão de Junqueira, os empreendedores devem ficar sempre atentos ao decidirem captar investimento externo. “Muitas vezes ele não sabe muito bem onde vai aplicar aquele dinheiro, contrata pessoas sem saber muito bem por quê. É preciso tomar muito cuidado com isso”.
E completa: “Na pesquisa há casos de empresas que desenvolveram um produto e só depois de um ano levaram aquilo para o mercado. Isso é como esperar construir todo o prédio para só então começar a vender as unidades, em vez de vender na planta”.
Esse foi o caso da Peta5, empresa fundada pelo empreendedor Rafael Carvalho em 2004. A proposta era criar uma tecnologia capaz de oferecer publicidade segmentada na televisão.
“Focamos muito no produto, na tecnologia, levantamos 500 mil reais de fomento público, ficamos dois anos desenvolvendo a tecnologia achando que tínhamos um produto revolucionário. Só que negligenciamos a busca pelo cliente. Foi nosso principal erro”, afirma Carvalho.
O resultado foi que, com a tecnologia em mãos, a startup foi buscar as emissoras de televisão e descobriu que elas não estavam interessadas no que a Peta5 tinha a oferecer. “Disseram que estávamos 30 anos à frente do mercado. Fizemos a tecnologia mais revolucionária, mas não perguntamos ao cliente se aquilo interessava para ele.”
Hoje Carvalho já tem outro negócio, a Edools, uma plataforma de ensino à distância que – diferente da Peta 5 – começou a faturar em sua segunda semana de vida. “Esse erro eu não cometo mais”, afirma o empreendedor.
Para Guilherme Junqueira, da Gama Academy, o Brasil precisa cultivar mais o hábito de compartilhar os erros no mundo dos negócios.
“Nos EUA existe muito essa cultura, as pessoas compartilham suas falhas. Muitas vezes, numa conversa com investidores, se você diz que já falhou numa startup, isso é mais valorizado do que se tivesse feito um MBA numa grande universidade. Aqui no Brasil as pessoas têm vergonha de contar que a empresa faliu. Nossa ideia é ajudar a mudar essa cultura”, afirma.
Não é a toa que, das 80 startups contatadas para fazer parte do estudo, apenas 46 toparam compartilhar suas histórias de fracasso.
Após a primeira fase da pesquisa, agora o conteúdo está disponível na internet e pode ser atualizado pelos próprios empreendedores que tiverem interesse em acrescentar sua história no site.