Aplicativo da Revolut, com hacker ao fundo: fintech foi avaliada em US$ 1,7 bilhão em sua última rodada de arrecadação (Miguel Candela/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)
Mariana Fonseca
Publicado em 31 de março de 2019 às 08h00.
Última atualização em 12 de abril de 2019 às 14h22.
Correndo para criar o que ele chama de "o Uber dos serviços financeiros", Nikolay Storonsky acredita em manter o pé no acelerador. E os órgãos reguladores estão começando a perceber.
Storonsky está experimentando o escrutínio que está por vir enquanto tenta revolucionar o mundo dos bancos com a Revolut, sua startup de três anos e meio. O órgão regulador do setor financeiro do Reino Unido está examinando por que o banco digital desativou temporariamente, no terceiro trimestre, um sistema projetado para bloquear de modo automático transações suspeitas.
"O discurso sempre foi ’temos que seguir as regras’. Mas, seguir as regras até que ponto? Isso é outra coisa, certo?", disse Storonsky em uma entrevista em seu escritório em Canary Wharf, o centro financeiro de Londres, onde ele administra a empresa de tecnologia financeira que mais cresce na Europa.
Talvez mais do que qualquer outra pessoa, Storonsky, de 34 anos, está testando se a atitude de "melhor pedir perdão do que pedir permissão" dos empreendedores do Vale do Silício pode dar certo no mundo altamente regulado das finanças.
Os riscos potenciais da rápida expansão surgiram quando a Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido informou que está investigando as alegações levantadas em 28 de fevereiro pelo jornal britânico The Telegraph de que a Revolut desativou um importante software de compliance durante três meses no terceiro trimestre do ano passado.
No mesmo dia, a publicação de tecnologia Wired citou ex-funcionários e candidatos a emprego que relataram condições de trabalho extenuantes, gerentes intimidadores e práticas de contratação potencialmente ilegais. No início de fevereiro, a Revolut foi flagrada usando estatísticas falsas em uma campanha publicitária.
Vários concorrentes de Storonsky temem que, se piorar, essa situação possa contaminar todo o setor, do mesmo modo que o escândalo de 2016 na LendingClub, nos EUA, abalou o setor de empréstimos entre pares.
Com o apoio de investidores como o bilionário russo-israelense Yuri Milner, a Revolut cresceu mais rapidamente do que os bancos baseados em app Monzo e Starling.
A Revolut foi avaliada em US$ 1,7 bilhão em sua última rodada de arrecadação e, como o número de contas novas triplicou em 2018, agora tem mais de 4 milhões de clientes, cerca de três vezes mais do que os dois bancos combinados e o mesmo número de clientes que a TransferWise, o serviço de transferência de dinheiro para o exterior que é quatro anos mais velho.
Seis executivos de tecnologia financeira, que conversaram com a Bloomberg sob condição de anonimato, disseram que existem receios de que problemas na Revolut possam abalar a confiança dos investidores no setor. O lugar onde esse risco é mais sentido é Londres, que se esforçou para incentivar os empreendedores de serviços financeiros a experimentar novos modelos de negócios.
"A questão é: será que eles estão avançando tão rápido que certas coisas acabam sendo negligenciadas?", disse Tom Keatinge, diretor do Centro de Estudos sobre Crimes Financeiros e Segurança do think tank com sede em Londres RUSI. "Minha preocupação geral é que as empresas de tecnologia financeira optem por gastar dinheiro em marketing e tecnologia, em vez de em compliance com as normas para impedir crimes financeiros."