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Para onde vai o coworking?

Locais de trabalho compartilhados encontraram espaço para crescer na pandemia com mais oferta de serviços e foco em nichos de mercado, como advocacia

Thais Brisola e Francisco Bonduki são proprietários do Maia Coworking, espaço de trabalho compartilhado que fica em um shopping center. (Ricardo Matsukawa/Sebrae/SP)

Thais Brisola e Francisco Bonduki são proprietários do Maia Coworking, espaço de trabalho compartilhado que fica em um shopping center. (Ricardo Matsukawa/Sebrae/SP)

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Da Redação

Publicado em 14 de novembro de 2021 às 08h00.

Por Gabriel Jareta, do Jornal de Negócios do Sebrae-SP

Como o mundo do trabalho vai se adaptar ao retorno à “normalidade” depois da pandemia? Com o avanço da vacinação contra a Covid-19 e a perspectiva do fim das restrições, essa é uma das principais questões no horizonte. Para inúmeros empreendedores e profissionais liberais, o caminho é o do compartilhamento de espaços, com menos custos fixos e a flexibilidade de não precisar estar fisicamente todos os dias no local de trabalho. Com essa tendência em crescimento, o mercado de coworking surge como um setor que ainda tem muito a ser explorado por quem pretende investir em um negócio próprio.

“Esse é um segmento que ainda vai se consolidar no Brasil. O coworking é um ambiente de troca, é uma mudança cultural, e também de quem entende as vantagens de um ambiente de compartilhamento”, diz Thaís Brisola, proprietária do Maia Coworking, que funciona dentro de um shopping center na cidade de Guarulhos. Atualmente, a Ancev (associação que reúne as empresas do setor) tem cerca de 2 mil coworkings cadastrados, mas a estimativa é de que o número real de empresas em todo o País seja pelo menos duas vezes maior.

O Maia Coworking, instalado em uma área de 330 m², começou a funcionar antes da pandemia e chegou a ter cerca de 300 clientes mensais em 2019, entre fixos e avulsos. Para a empreendedora Thaís, que é dona do espaço com o sócio, Francisco Bonduki, apesar da grande procura hoje, esse patamar só deve ser alcançado novamente em fevereiro de 2022. Em julho de 2021, ela teve de fechar as portas de outro coworking que tinha na cidade, fora do shopping. “Com a pandemia, a inadimplência ficou grande demais”, conta.

O espaço no shopping, porém, se mostrou bastante atrativo e chamou atenção de profissionais de carreiras mais tradicionais. “A nossa ideia era atender um público mais voltado para a tecnologia, mas para nossa surpresa começamos a receber muitos advogados, contadores e mesmo donos de pequenas empresas que não querem mais ter preocupação com gestão do local, além do custo fixo mais baixo que o de um aluguel”, diz Thaís. Ela destaca como pontos positivos do shopping a segurança, a facilidade de estacionamento e o acesso a restaurantes – que oferecem descontos para os clientes do coworking. Além disso, Thaís não precisa se preocupar com outras questões que teria em um local na rua, como banheiros ou acessibilidade.

Segundo a empreendedora, a ideia é que os clientes possam fazer contratos de até seis meses com “zero burocracia”, em valores que podem ser até 70% menores do que ter um espaço alugado. Isso além dos clientes avulsos, que pagam diárias ou pacotes de horas para usar o ambiente compartilhado – que oferece ponto de internet, água e café e a possibilidade de ter um endereço virtual. “Se o cliente recebe correspondências aqui e não tem disponibilidade no dia, mandamos um motoboy levar até ele ou até podemos escanear o documento”, afirma.

O coworking também oferece sala de reunião e espaços privativos com layout pensado para objetivos diversos. Há uma sala voltada para “ideação” – com materiais de apoio e Canvas, por exemplo – e outra desenhada para quem quer focar no trabalho, isolada e sem distrações.

(Sebrae)

Oferta digital

“A pandemia mostrou que não precisamos ter um espaço físico muito grande para trabalhar, mas algumas pessoas não se adaptaram muito bem ao home office”, diz o consultor do Sebrae-SP Eder Max. “Para esse profissional que identifica que não consegue produzir em casa, o coworking é uma ótima oportunidade de trabalhar sem tanta distração”, diz. O mesmo vale para situações pontuais em que é preciso ter silêncio e concentração: durante a pandemia, eram comuns as reclamações de barulho de obra nos prédios atrapalhando reuniões e treinamentos no home office.

Para quem está pensando em investir em um coworking, Max lembra que já foi o tempo em que se tratava apenas de um espaço compartilhado com acesso a internet. Além de pensar em um local de fácil acesso, com ótima internet e com os serviços básicos – como recepção para clientes, atendimento telefônico personalizado e endereço comercial ou fiscal –, os espaços de coworking precisam oferecer diferenciais de um mundo que está inserido no marketing digital. “Hoje é interessante oferecer salas com cenário e iluminação para fazer lives ou fotografar produtos. Também tem muita gente interessada em podcasts, então existem salas específicas com equipamento para gravar podcast”, aponta.

Outra tendência do setor são os coworkings dedicados a nichos de mercado, como advogados, médicos ou empreendedores do setor de alimentação. Esses espaços trazem vantagens que vão desde a infraestrutura mais adequada a cada segmento profissional – como cozinha industrial compartilhada para profissionais de alimentação – até a facilidade de estabelecer relações produtivas com colegas de profissão. “Essa é uma solução interessante desde que haja um volume bom de profissionais dessa área no local em que o coworking será instalado. O empreendedor precisa fazer um estudo para essa ‘persona’ o mais detalhado possível”, aponta Max.

Nicho

Vendo os colegas da faculdade de direito com dificuldade de abrir um escritório próprio e as mudanças no mercado da advocacia, os sócios Leo Fischer e Benjamín Muñoz decidiram empreender com um coworking totalmente voltado para advogados. O Law Works teve sua primeira unidade inaugurada em Buenos Aires em 2018 e chegou a São Paulo em julho deste ano – e já está com planos de expansão. “Muitos colegas gostavam da ideia de coworking, mas o problema era que boa parte não se adaptava ao ambiente mais descontraído dos coworkings multissetoriais”, conta Fischer.

As principais diferenças estão no layout do espaço, com design mais sóbrio, espaços mais reservados e divisórias com vidros jateados para manter a confidencialidade dos atendimentos. Além disso, o coworking oferece suporte de TI especializado, serviços de entrega de documentos para outros endereços e uma programação de palestras sobre temas jurídicos – assim como acontece nos grandes escritórios. “A gente replica o ambiente de um escritório de advocacia”, diz o empreendedor. Fischer também ressalta que o networking é um grande atrativo. “Estando em um ambiente de advogados, começa a ter muitas recomendações, o tributário pode bater na porta dos trabalhistas, por exemplo.

Muitos escritórios começam a se fundir aqui dentro”, afirma. O perfil do público hoje é bastante variado, segundo Fischer, e vão desde advogados independentes na casa dos 30 anos até escritórios pequenos de cinco ou seis advogados, mas já houve clientes mais tradicionais e escritórios com até 40 profissionais. Hoje, a Law Works dispõe de 100 postos de trabalho em um espaço de 700 m2 na avenida Cidade Jardim, mas já planeja para breve unidades nas regiões da Avenida Faria Lima e da Avenida Paulista.

Um atrativo é a flexibilidade dos planos de uso do local – como um plano de trabalho híbrido em que o profissional só frequenta o espaço dois dias por semana. “Além da redução de custos, tem uma grande redução de tempo com questões de gestão do imóvel e o escritório vai estar sempre limpo quando ele vier trabalhar”, observa Fischer.

De acordo com o presidente da Ancev, Douglas de Almeida, o mercado de coworking nichado cresceu cerca de 60% nos últimos cinco anos, com grande aceleração durante a pandemia. E isso por uma necessidade do mercado, que identificou essa abertura, seja para médicos, psicólogos, cozinheiros ou corretores de seguros. “Mesmo grandes empresas estão fechando os escritórios em prédios grandes e passando a usar coworking. Mas lembramos que não é só oferecer o espaço, é preciso ter toda a infraestrutura e atendimento individualizado”, afirma Almeida.

Segundo ele, para quem está interessado em empreender no setor, uma tendência hoje é o movimento de coworking para as cidades do interior, aproveitando ainda a experiência de trabalho a distância estabelecidos pela pandemia para muitas empresas e profissionais. “A partir de 150 m² de área já é possível oferecer um bom serviço”, aponta. Além disso, mesmo durante a crise provocada pela pandemia, apenas 13% dos espaços de coworking fecharam as portas, de acordo com o censo da Ancev. “Mesmo assim, acredito que a maioria se deveu mais à gestão do negócio do que ao comportamento do mercado, que está em expansão”, afirma Almeida. 

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