Beleza Natural: salões do futuro terão de ampliar e proteger espaços entre lavatórios e cadeiras (Beleza Natural/Divulgação)
Na crise do novo coronavírus, uma diversos setores da economia sofreram grande impacto. Uma das áreas mais prejudicadas foi a das barbearias e salões de beleza, que voltam a funcionar hoje sob novos de protocolos de higiene.
Para a rede de salões Beleza Natural, a pandemia gerou uma preocupação ainda maior no campo das demissões. Isso porque a empresa é conhecida pelo investimento na empregabilidade de mulheres negras. Com os salões de beleza às moscas durante a pandemia, a rede investiu em vendas de tratamentos capilares pelo aplicativo Whatsapp. Agora, em modelos para os salões do futuro.
A rede foi fundada por Zica Assis, que trabalhava como empregada doméstica no Rio de Janeiro e, a partir de sua insatisfação com os produtos e serviços voltados para cabelos crespos, criou a empresa e se destacou como uma das executivas mais poderosas do Brasil.
Hoje, a Beleza Natural, que não divulga informações de faturamento, tem 34 salões de beleza em cinco estados brasileiros.
“A primeira coisa que vem à cabeça é o emprego das pessoas”, diz Rogério Assis, sócio-fundador da rede. “Tínhamos de garantir que as pessoas pudessem ter algum tipo de renda, já que ficaríamos fechados por um tempo.”
Assis conta que a adesão ao pacote do governo ajudou, mas uma mudança nos negócios foi essencial. Antes da pandemia, o faturamento da rede era composto por 70% de serviços e 30% da venda de produtos. “Conseguimos virar nosso negócio para, praticamente, 100% de produtos”, conta.
A organização tinha uma linha própria de produtos, com mais de 50 itens, e viu neles uma saída para aumentar o faturamento. Além de criar novos itens – como recém-lançados perfumes –, a rede ampliou seus canais de venda tendo como base os perfis de seus clientes.
Para os fregueses que já mostravam mais fidelidade à empresa, foi criada uma plataforma para entregas por Whatsapp. Na prática, consumidores que conheciam os produtos passaram a contatar a Beleza Natural por meio do aplicativo com entrega rápida em casa. “A saída facilitou o acesso principalmente aos clientes que não tinham costume de comprar pela internet”, avalia Assis.
Outros clientes puderam acessar o e-commerce que a rede já mantinha, mas que foi ampliado e intensificado. “No primeiro mês da pandemia, faturamos apenas 10% do que normalmente faturávamos”, lembra Assis. “A situação foi revertida com essas iniciativas, embora não como antes. Com a reabertura dos salões, esperamos um impulso um pouco maior no faturamento.”
As soluções permitiram à rede manter os funcionários da linha de frente – são cerca de 1.500 pessoas, a maioria composta por mulheres negras. A parte corporativa, no entanto, teve de sofrer cortes.
Hoje, com 70% da rede reaberta, os desafios são voltados ao novo normal. “Sabemos que, no futuro próximo, teremos limitações”, afirma Assis. “Não podemos operar com 100% da capacidade instalada, a distância entre nossos lavatórios é pequena e precisa ser aumentada para que a operação tenha segurança.”
A instalação de barreiras físicas entre as cadeiras e mudanças na gestão dos serviços (como a adesão ao sistema de horas marcadas, o que não é praxe da empresa) são alterações previstas para durar, pelo menos, até 2021.
Para Assis, a pandemia acabou por trazer aprendizados. “Conseguimos acelerar alguns processos que estavam adormecidos e parados, e abrimos mercados antes não imaginados”, diz. “O recado que fica é: precisamos voltar, de alguma maneira, para garantir o emprego das pessoas.”